Capítulo 27

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O HERÓI RESGATA A PRINCESA

ANNE

Depois de seguir por alguns minutos em uma estrada isolada, Lucas entrou em uma mata fechada, o que me deixou com muito medo, pois não sabia o que ele faria comigo.

Lucas parou o carro diante de uma cabana de madeira que parecia estar abandonada há muito tempo. O interior da cabana era surpreendente, tudo muito limpo e organizado,  era pequeno mas muito aconchegante, se não fosse a situação em que eu estava diria que adoraria passar uns dias ali. Havia uma cama grande e bem arrumada, uma lareira e no outro lado uma cozinha simples mas bem equipada, havia uma porta ao lado da cama que parecia ser de um banheiro.
  Após mandar eu entrar, Lucas trancou a porta e disse:
  _ Gostou "princesa"? Espero que esteja a altura de Vossa Alteza.
_ O quê você quer de mim? Por quê me trouxe pra cá?
_ Se você se comportar direitinho, nada de mal vai acontecer com você. Só preciso de um bom dinheiro e a garantia de que vou poder ir embora desse país de merda sem ser procurado.
_ Se você me deixar sair, eu consigo tudo o que você quer, não precisava me sequestrar. Por tudo que vivemos quando éramos crianças, eu poderia fazer isso por você.
_ Até acredito que você não faria nada, mas acha que o seu papai ou o seu noivinho iriam me deixar em paz?
_ E você acha que me sequestrar vai melhorar sua situação?
_ Cala a boca! Você não sabe de nada!
_ Por favor, Lucas! Me deixa ir, eu nunca fiz nada de mal pra você.
_ Já mandei calar a boca!

Resolvi ficar quieta e esperar que o Ulisses tenha visto a minha mensagem e que venha logo me resgatar. Depois de  um bom tempo estava cansada de ficar deitada, levantei e me recostei na janela que ficava ao lado da porta principal. Estava distraída olhando a floresta quando percebi alguém se mover lá fora. O Lucas estava no banheiro, e pelo barulho, notei que estava tomando banho.
Fui silenciosamente até a porta, mas pro meu azar estava trancada. Fui até a porta da cozinha e também estava fechada. Notei uma outra janela sobre a pia, essa estava destrancada. Fui até a porta do banheiro e ouvi que o chuveiro ainda estava ligado. Voltei pra cozinha em silêncio, subi na pia e consegui pular a janela, quando me levantei ouvi a porta do banheiro ser aberta, bati a janela e corri em direção a mata.
Não demorou e o Lucas saiu pela porta da cozinha correndo atrás de mim, corri o máximo que pude sem olhar pra trás. Minhas pernas começaram a doer, mas eu sentia que não poderia parar ainda, eu corria sentindo que minha vida dependia disso. Eu ouvia Lucas gritar meu nome e isso me dava forças pra não parar. Até que ouvi sons de tiros atrás de mim, virei pra olhar e acabei caindo. Antes de tentar levantar eu consegui ver o Lucas caído, nesse momento vi várias pessoas vindo em minha direção, só então me dei conta de que Ulisses se aproximou de mim com sua arma em punho. Ele se abaixou ao meu lado e me abraçou, nesse momento eu me permiti chorar.
_ Princesa, você está bem? -Ulisses perguntou preocupado.
_ Eu senti tanto medo, ainda bem que você chegou.
_ Eu vim assim que recebi sua mensagem, fiquei tão preocupado, mas agora acabou.
_ O quê aconteceu com ele? Ele está morto?
_ Não, princesa, ele só levou um tiro na perna e logo vai estar bem.
_ Ele vai ser preso?
_ Não se preocupe com ele agora, vamos sair daqui. Consegue ficar de pé?
Tentei me levantar, mas senti uma dor no meu pé direito.
_ Acho que quebrei o pé quando caí.
Ele me pegou no colo e levou até o carro que estava ali perto. Fomos até o hospital, depois de alguns exames constataram uma torção no meu tornozelo e recomendaram repouso.

Depois de sairmos do hospital, Ulisses me levou pra casa, lá meu pai me aguardava junto com o Fernando, ele veio até mim, me deu um abraço apertado e depois de sair do abraço o Fernando disse:
_ Anne, eu sei que você deve estar muito assustada com tudo isso, mas precisamos que vá até a delegacia prestar depoimento.
_ Eu gostaria de conversar antes com vocês sobre isso.
_ Pode falar, minha filha -meu pai segurou minha mão tentando me passar segurança.
_ Eu sei que o que o Lucas fez foi muito errado, mas eu não gostaria que ele fosse preso por isso.
_ Anne, você vai defender aquele louco? Ele poderia ter te matado! - Ulisses esbravejou.
_ Calma, meu amor, eu não vou defender ninguém. Eu só acho que o que ele fez foi uma atitude desesperada. Ele foi tão vítima nessa história toda quanto eu.
_ Filha, o que está querendo dizer?
_ O Lucas nasceu de dois psicopatas e desde criança foi usado pelos pais num plano sórdido de acabar com a nossa família. Ele agiu de acordo com o que foi ensinado a ele desde sempre.
_ Olhando por esse lado, ela tem razão - ponderou Fernando.
_ Lá na cabana eu perguntei o que ele queria me sequestrando.
_ Ele queria acabar com você - Ulisses me interrompeu.
_ Ele disse que precisava de dinheiro e garantia de que conseguiria sair do país pra esquecer tudo o que aconteceu aqui e que sabia que ninguém ajudaria ele sabendo de tudo o que os pais dele fizeram.
_ Você acreditou nele? - meu pai perguntou.
_ Eu posso até estar enganada, mas ele tem razão. Os pais dele colocaram ele nisso desde que ele era uma criança, mas ainda eram as únicas pessoas que ele tinha. Será que a cadeia é o que ele precisa? Será que não seria melhor mandar ele pra longe pra que ele comece uma nova vida?
_ Anne, me diz exatamente o que você está pensando?
_ Pai, eu gostaria de dar essa oportunidade pra ele, mostrar pra ele que ainda existem pessoas boas e que ele pode ser uma delas.
_ Anne, eu realmente não sei o que dizer. Meu amor, você foi sequestrada, passou por momentos de pavor e ainda pensa em ajudar o sequestrador?
_ Ulisses, eu sei que é difícil de entender, mas diante de tudo o que aconteceu eu acho que é o certo. Por mais medo que eu senti, eu notei que ele não queria me fazer mal, ele só queria uma forma de sair disso tudo.
_ Anne, de qualquer forma você vai precisar depor sobre o que aconteceu, se você quiser pensar melhor sobre tudo isso, eu posso falar pro delegado que hoje você não está em condições de depor.
_ Vocês permitiriam que eu conversasse com ele antes de tomar uma decisão?
_ Filha, não acha arriscado?
_ Anne, eu entendo você e esse seu pensamento só me faz te amar ainda mais, mas eu não vou permitir que você fale com ele sozinha, ele pode tentar alguma coisa.
_ Vem comigo então.
Ulisses assente com a cabeça e voltamos ao hospital, já era noite e haviam dois policiais na porta do quarto do Lucas. Ulisses se apresentou e logo deram permissão pra gente entrar. Lucas estava deitado olhando pra janela e quando entramos ele não se virou.
_ Você veio rir de mim?
_ Não, eu vim conversar com você.
Nesse momento ele me encarou, sorriu de lado e disse:
_ Precisava trazer seu segurança pra conversar com um moribundo?
_ Se realmente fosse um moribundo não seria tão arrogante.
_ Ulisses não veio como meu segurança, ele veio como meu noivo e o que quero falar com você não é nenhum segredo.
_ Então falem logo o que vieram fazer aqui.
_ Lá na cabana, você disse que a única coisa que você queria era dinheiro pra sair do país e viver em paz longe daqui. Isso é verdade?
_ Que diferença faz se agora eu tô aqui nessa cama de hospital com dois armários do lado de fora só esperando pra me levar preso?
_ Faz toda a diferença, ainda não prestei meu depoimento e o que vou dizer vai depender dessa nossa conversa.
_ Onde você quer chegar com isso?
_ Acho que, de certa forma, eu e você queremos a mesma coisa.
_ Sem joguinhos, Anne, me diz logo o que você quer.
_ Eu quero viver em paz, assim como você, eu sei que me sequestrar foi um ato desesperado e que se você tivesse alguém pra te ajudar você não teria feito.
_ Eu nunca quis fazer nenhum mal a você e nem a ninguém, meus pais nunca agiram como pais, sempre como mandantes de tudo, se eu não fizesse o que eles mandavam eu era castigado. - nesse momento Lucas vira de costas e retira sua camisa mostrando muitas cicatrizes.
_ Meu Deus! O quê eles fizeram com você?
_ Cada vez que eu dizia que não participaria do plano deles era uma surra, você não tem mais ódio deles do que eu. Só que se eles foram capazes de fazer isso comigo, quem seria capaz de me ajudar?
_ Eu sei que você viveu muito tempo no Canadá, é pra lá que você quer voltar?
_ Queria, antes de fazer mais uma merda e ferrar com tudo.
_ Lucas, eu não vou prestar queixa, eu vou te dar uma passagem pro Canadá e o suficiente pra você viver até conseguir um trabalho lá. Mas eu tenho uma condição.
_ Qual é a pegadinha?
_ Não tem pegadinha, a minha condição é que você siga a sua vida lá e esqueça tudo e todos que ficaram pra trás.
_ Por que você faria isso?
_ Porque você foi tão vítima nisso tudo quanto eu, o que você me diz?
_ Eu não sei como agradecer tudo o que está disposta a fazer por mim.
_ Não me agradeça, só seja feliz.
Saí daquele quarto de hospital com a sensação de dever cumprido.



A Herdeira Perdida - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora