Capítulo 32

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CADA VEZ MAIS CONFUSO

ULISSES

  Anne tentava parecer tranquila, mas sei que estava com muito medo. Eu tentava passar segurança pra ela, mas era difícil sabendo que estávamos sendo manipulados dessa forma. 

O sítio onde estamos é muito grande, possui lago, piscina, cavalos, área gourmet e a casa é enorme. Possui uma área de mata fechada logo depois do lago, apesar de ser um lugar grande e aberto tenho o tempo todo a sensação de estar sendo observado.

Conforme o combinado, avisamos ao Fernando assim que chegamos. Anne também mandou uma mensagem pro pai dela, nada que pudesse nos comprometer, mas que ele soubesse que ela está bem. Chegamos no final da tarde e havia um casal de caseiros nos esperando, Glória e Francisco.
A Glória era uma senhora muito simpática e sorridente, já o Francisco era sério e carrancudo.

Apesar de já haver dois quartos preparados pra nós, escolhemos ficar juntos em um outro quarto com a desculpa de que preferimos o quarto dos fundos, que tinha vista para a mata. Não permitimos que eles arrumassem os quartos, a Anne disse que preferia arrumar ela mesma e nesse momento o desconforto ficou claro no semblante do casal, porém não nos impediram.
Subimos, cada um tomou seu banho e logo após descemos pra jantar.  Convidamos os caseiros pra jantar com a gente mas ele disseram que se não nos importasse ele iriam se recolher.
_ Vocês moram aqui mesmo? - Anne perguntou.
_ Moramos aqui no sítio, mas não na casa principal. - Glória respondeu e percebi que o Francisco ficou tenso.
_ Mas não vi outra casa aqui perto deve ser longe, vocês não preferem passar a noite aqui? - Anne perguntou tão amavelmente que até eu aceitaria.
_ Temos muito que fazer em casa, pode ficar tranquila que não é longe não - Francisco respondeu ríspido e Glória somente baixou a cabeça.
Os dois pediram licença e saíram.

Eu e Anne comemos em silêncio e fomos pro quarto que ficava no andar de cima, mas na parte de trás da casa que era enorme. O segundo andar era um grande corredor onde em um lado haviam quatro portas e no outro lado haviam cinco. Os quartos separados pra nós ficavam no extremo oposto do que escolhemos, em uma das portas havia uma espécie de escritório muito bem equipado e uma das portas estava trancada, o que me pareceu muito estranho.
  Depois de entrar no quarto que escolhemos, fiz uma varredura onde não encontrei nenhuma câmera ou escuta, enfim um lugar onde poderíamos ficar a vontade.
_ Você percebeu o desconforto quando perguntamos onde moravam? - Anne perguntou assim que deitamos.
_ Acho que tem muitas coisas escondidas nesse lugar, espero que a gente fique seguro tempo suficiente pra descobrir.
  Anne se aninhou em meus braços e ficamos em silêncio até pegar no sono.

  Estávamos cansados da viagem e dormimos rápido, porém acordei ainda de madrugada e resolvi sair pra tomar um copo d'água. Ao voltar pro quarto, percebi que havia uma luz na mata. Imagino que seja a casa dos caseiros, fecho a cortina e volto a deitar. Dessa vez o sono demorou a chegar, minha intuição de policial dizia que tinha algo escondido naquele sítio.

  No dia seguinte, acordamos cedo e ao descer pra cozinha Glória já havia posto a mesa do café, ela nos cumprimentou com um sorriso e saiu. Tomamos café e decidimos dar um passeio pelo sítio, estava um dia bonito pra um passeio ao ar livre. Resolvi não falar com a Anne sobre a luz que vi na mata, prefiro investigar antes.
  Fomos caminhando em direção ao lago, durante o passeio tentamos esquecer um pouco a tensão de tudo que estava acontecendo e conseguimos curtir um pouco a paisagem. Porém durante todo o dia tive a sensação de estar sendo observado, em alguns momentos percebi que Anne também tinha essa sensação, porém não falou nada.
  Quando estávamos passeando em torno da casa, notei que Francisco voltava de uma casa que ficava um pouco distante mas na lateral da casa, o que significava que a luz que vi à noite não era a casa dele. Resolvi ficar em alerta.
   Quando Glória serviu o jantar, resolvi puxar assunto pra tentar descobrir alguma coisa:
  -- Esse lugar é muito calmo, vocês trabalham aqui há muito tempo?
--  Os pais do Francisco cuidavam daqui antes, ele foi criado aqui, eu vim quando casei há 33 anos. Minha família cuidava do sítio ao lado.
-- Vocês não tiveram filhos?
-- Tivemos um casal, minha menina faz faculdade em São Paulo e meu menino trabalha com Sr Fernando.
-- Então eu devo conhecer, conheço toda equipe.
-- Glória! - Francisco chamou antes que ela me respondesse - Precisamos ir logo antes que fique tarde.
-- Desculpem, temos que sair, vamos até a fazenda vizinha visitar minha sobrinha que acabou de chegar.
  Glória e Francisco saíram, mas percebi que ela falaria algo mais se o Francisco não tivesse chegado. Essa história está cada vez mais confusa.
  Após o jantar fomos pro quarto, lá era o lugar onde a sensação de estar sendo vigiado amenizava um pouco. Conversei com Anne sobre essa sensação e ela se sentia da mesma forma, o que me dava um certo incentivo pra continuar investindo
Após conversar bastante, namorar e assistir a um filme, resolvemos descer pra fazer pipoca, descemos juntos e ao descer a escada vimos pela janela que havia ali, que o Francisco e a Glória estavam chegando, havia mais alguém no carro que não conseguimos identificar. Eles não nos viram, pois não havíamos acendido nenhuma luz.

  Já era madrugada e mais uma vez eu estava sem sono, me levantei e fui fechar a janela do quarto, pois estava entrando um vento gelado. Novamente notei uma luz na floresta, era muito estranho, pois não vi nenhum caminho ou trilha naquela direção. Amanhã vou ter que dar um jeito de investigar, só não sei ainda como fazer isso sem levantar suspeitas.

  Após uma noite mal dormida, resolvi me levantar cedo, antes de que Glória ou Francisco chegassem à casa onde estávamos. Anne ainda dormia, então deixei um bilhete dizendo que ia caminhar pelo sítio e fui. Ainda não estava totalmente claro quando saí, a luz que vi na madrugada permanecia acesa, o que facilitava a ida até lá.
Contornei o lago e segui mata a dentro,  caminhei por cerca de meia hora até encontrar uma pequena casa. Ouvi passos e me escondi pra que ninguém visse. Vi Francisco sair da casa e seguir por um caminho no lado oposto ao que eu estava, esperei ele tomar distância e resolvi circular a casa.
  Era uma casa pequena, mas parecia muito bem cuidada, tinha um pequeno jardim na frente e pelas janelas abertas, dava pra ver cortinas claras que balançavam com a brisa que corria por ali. Sem pensar muito, bati na porta e nada havia me preparado pra ver a pessoa que me recebeu.
   _ Bom dia! Estava esperando por você!

A Herdeira Perdida - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora