Capítulo 1

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Anne

O início

Fui acordada por um policial que fazia a ronda pelo parque, estava sozinha com roupas sujas e rasgadas.

- Vamos menina! Acorde! – disse o policial à minha frente

- Onde estou? O senhor vai me prender? – respondi em meio à muitas lágrimas

- Claro que não, menina! Dormir na rua não é nenhum crime. Só quero saber o que uma menina tão pequena faz sozinha na rua a essa hora. Onde estão seus pais? – perguntou o policial em um tom de curiosidade.

- Não sei, não me lembro – respondi confusa.

- Você está perdida? Como veio parar aqui? – o policial continuou à perguntar.

- Não consigo me lembrar! – respondi ainda mais confusa

- Venha comigo, vou te levar ao hospital, parece abatida, precisa de cuidados. – disse o policial por fim, eu assenti ainda confusa e o acompanhei.

Quando chegamos ao hospital, o policial me levou até uma moça muito bonita, ela disse que se chamava Cecília e que gostaria de saber o que houve comigo.

- Você é uma menina muito bonita, qual seu nome? – perguntou Cecília.

- Eu não sei – respondi de cabeça baixa.

- Sabe quantos anos você tem? – Cecília continuou a perguntar e eu balancei a cabeça negando.

- Diz pra mim então, do que você se lembra?- perguntou em tom compreensivo.

- Não me lembro de nada antes do senhor policial me chamar.- respondi muito envergonhada.

- Eu me chamo Bernardo e vou tentar te ajudar a descobrir o que aconteceu com você, pequena princesa - disse o policial de forma carinhosa e eu apenas sorri timidamente.

- Sr Bernardo, vamos fazer alguns exames nela, ela precisa de um banho e alimentos. Vamos cuidar dela por hoje e precisamos que o senhor tente descobrir alguma coisa.- disse Cecília em tom sério e preocupado.

Sr Bernardo saiu e a Dra Cecília me levou por um corredor até a sala de exames. Me examinaram por bastante tempo, depois Dra Cecília me deixou com uma enfermeira, para que ela me desse um banho. Me senti envergonhada e com medo de tirar minha roupa, mas logo a enfermeira disse que só queria cuidar de mim e que eu podia confiar nela.

Quando terminei de tirar minha roupa suja e rasgada, notei um olhar de pavor por parte da enfermeira, me encolhi de medo e a enfermeira saiu chamando pela Dra Cecília , me deixando ainda mais assustada.

Quando elas voltaram, eu estava encolhida no canto do banheiro chorando e muito assustada. Dra Cecília pediu que eu fosse até ela, então me levantei, mas diante do susto que vi em seus olhos me encolhi novamente. A enfermeira então se aproximou de mim.

- Eu me chamo Débora, mas pode me chamar de Deby, não tenha medo, ninguém aqui vai te machucar. – disse a enfermeira.

- Por que estão me olhando assim?- perguntei ainda encolhida.

- Apenas nos assustamos por ver como você está machucada. Quem machucou você? – Dra Cecília disse com lágrimas nos olhos, eu apenas neguei com a cabeça, não conseguia me lembrar de nada antes de ser acordada pelo Sr Bernardo naquele banco de praça.

Eu estava com vários machucados nos braços, pernas e nas costas, quando a água morna do banho tocava minha pele doía muito, eu gemia de dor, mas eu não chorava. Durante o banho percebi que havia uma correntinha com uma estrela no meu pescoço, no verso da estrela tinha gravado um nome e alguns números. Mostrei a correntinha a Deby enquanto ela fazia os curativos em meus braços. Ela sorriu e disse:

- Olha, princesa! Acho que agora você tem um nome! – sorri timidamente, mas minha cabeça ainda estava muito confusa.- aqui está escrito Anne e tem uma data, se essa data for seu nascimento, você hoje tem cinco anos.

Depois de me dar banho e fazer meus curativos Deby pediu para eu sentar para que ela penteasse meus cabelos, apesar dela passar o pente suavemente, minha cabeça doía muito. Depois uma outra enfermeira trouxe comida e logo em seguida eu dormi.

Acordei com o som da porta do quarto fechando, notei que o Sr Bernardo, Dra Cecília e Deby conversavam e pelas feições deles fiquei muito assustada. Eles não perceberam que eu acordei, então fiquei quietinha para ouvir toda a conversa.

- Descobriu alguma coisa, Sr Bernardo- Dra Cecília disse preocupada.

- Até agora nada, não há nenhuma pista, nenhuma informação, nada... – Sr Bernardo respondeu triste.

- Dra Cecília, a senhora recebeu o resultado dos exames que fez na Anne?- Deby perguntou e nesse momento todos a olharam como se ela tivesse três cabeças- O que há, gente?

- Você a chamou de Anne, esse nome vocês escolheram? – perguntou o Sr Bernardo.

- É o nome que está gravado na estrela que está no pescoço dela.- Deby respondeu se lembrando que não tinha falado com ninguém respeito da sua descoberta.

- Princesa, posso ver sua correntinha?- perguntou o Sr Bernardo, apenas assenti balançando a cabeça.

Ele veio até mim e olhou com muito cuidado, sorriu e disse que essa era uma boa pista pra descobrir o que houve comigo.

Fiquei muitos dias no hospital, até que minha cabeça parasse de doer e que meus machucados estivessem sarados. Então novamente o Sr Bernardo, a Dra Cecília e a Deby se reuniram novamente para conversar comigo. Pela tristeza nos olhos deles, fiquei com muito medo.

- Anne, você está aqui há dois meses, nesse tempo nós fizemos de tudo para encontrar sua família, mas infelizmente não conseguimos - disse Sr. Bernardo muito calmo, mas sem esconder a tristeza nos seus olhos.

- Hoje recebemos uma ordem judicial determinando que você seja encaminhada a um orfanato, infelizmente, não poderemos continuar cuidando de você. – disse Dra. Cecília disse triste.

- Vou ficar sozinha?- respondi enquanto lágrimas começavam a descer pelo meu rosto.

- Olha, princesa, aqui é um hospital não é um lugar adequado pra uma criança. -Deby falou segurando minhas mãos- mas nós podemos visitar você, o que acha?- perguntou sorrindo.

- Vocês não vão esquecer de mim?-perguntei com esperança.

- De jeito nenhum! – respondeu Sr. Bernardo- Você é nossa amiga, e amigos cuidam uns dos outros, vamos? – concluiu me estendendo a mão.

Depois de me despedir de todos, Sr. Bernardo me levou pro lugar que seria minha casa por longos anos. No início foi muito difícil, tinha medo daquelas mulheres com aquelas roupas estranhas, que mais tarde descobri que eram freiras e aquelas roupas eram chamadas de hábitos. Haviam muitas crianças, eu dividia o quarto com a Érica, a Francine, a Graziela e a Helena.

Com o passar do tempo fui descobrindo sobre a história delas. A Érica tinha 6 anos e estava ali desde os 3 anos de idade, a Francine tinha 8 anos e chegou pouco antes de mim, sua mãe estava muito doente e ela não tinha com quem ficar, já que sua mãe estava no hospital. A Graziela tinha 6 anos e foi levada pelo pai, ela não tinha mãe e o pai dela prometeu que voltaria pra buscá-la. A Helena tinha 5 anos e havia sido deixada lá ainda bebê.

Logo nos tornamos amigas era raro não estarmos todas juntas. A Francine, que era mais velha, nos protegia de qualquer pessoa que tentasse nos fazer mal, a Érica era a mais espevitada e vivia nos colocando em encrencas, a Graziela era a mais quietinha e gostava de ficar perto da entrada do orfanato esperando o pai que vinha uma vez por mês, a Helena logo se tornou minha melhor amiga ela conhecia cada canto daquele orfanato e sempre encontrava um bom lugar pra nos esconder dos castigos.

A Herdeira Perdida - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora