Capítulo 9

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ANNE

COMEÇANDO A ENTENDER

Eu não sabia se o meu nome era realmente Anne, não sabia ao certo quantos anos tinha  se tinha um sobrenome e de onde tinha vindo. Apesar de atualmente ter uma vida normal, eu queria muito saber a verdade. Meu aniversário era comemorado na data em que fui encontrada, minha idade era estimada de acordo com as conclusões médicas de quando me encontraram, meu sobrenome hoje é o que recebi quando Ulisses trouxe meus novos documentos, era o sobrenome da Zélia.
Hoje completam 11 anos que fui encontrada, então acredito que esteja completando 16 anos, acordei como num dia qualquer, tomei meu café e fui para a escola. Normalmente vejo as pessoas felizes em comemorar seus aniversários, mas eu não.  É o dia que me lembra que eu não tenho uma identidade.
Saí da escola, fui pra casa e agradeci por não ter ninguém lá, fui até meu quarto e me troquei, preparei um almoço rápido, comi e quando estava terminando de arrumar tudo a campainha tocou e fui atender desaninada.
- Entrega para senhorita Anne - disse uma voz conhecida atrás de um pacote enorme.
- Não acredito! - disse cobrindo a boca.- Tio! Que saudade!!!
- Droga! Como soube que era eu? - perguntou fingindo decepção e me entregando o pacote.
Havia meses que não via o tio Bernardo, cheguei a pensar que nunca mais veria, encontrar ele ali na porta com aquele pacote gigante, que logo descobri ser um enorme urso de pelúcia, era uma emoção que não serei capaz de descrever.  Ele entrou e logo ouvimos barulho de algo caindo na cozinha, fomos até lá.
- SURPRESA! - gritaram Zélia, Caio e Ulisses.
Minha única reação foi rir e chorar ao mesmo tempo, era a primeira vez que eu tinha uma festa de aniversário, mesmo sem saber a data correta, era maravilhoso estar entre pessoas que gostam de mim e que sem dúvidas eu amo. Um dia que era tão triste se tornou o mais feliz da minha vida.
Depois de passar o dia sendo paparicada por todos, fui deitar cedo porém realizada.

"-FELIZ ANIVERSÁRIO, PRINCESA! O QUE VOCÊ QUER  DE PRESENTE DE 5 ANOS?
-UM URSÃO BEM GRANDÃO, PAPAI!
- ENTÃO VAI LÁ CHAMAR A MAMÃE QUE VAMOS AO SHOPPING COMPRAR SEU URSÃO.
Ele beijou minha testa e fui saltitando e gritando a mamãe, no meio do caminho alguém segurou o meu braço e disse baixinho no meu ouvido:
- Aproveita bem seu último aniversario, pirralha irritante.
Soltou meu braço e eu corri ."

Acordei assustada, dessa vez o sonho era com o homem da foto, e mais uma vez não parecia um sonho. Olhei em volta e vi que ainda era madrugada, mas sei que não vou conseguir  dormir novamente.  Peguei meu telefone e digitei no Google: Antonella e Tomás Vasconcelos, novamente apareceram várias matérias, todas bem antigas, uma me chamou a atenção:

"Encntrado na margem de um rio em Belo Horizonte  o corpo de Antonella Pires Vasconcelos Xavier, a empresária estava desaparecida há seis meses junto com sua filha, a menina ainda está desaparecida"

Um arrepio percorreu minha espinha, a data da matéria era exatamente 2 meses após tio Bernardo me resgatar,  muitas dúvidas começaram a surgir na minha cabeça e sem perceber que ainda era madrugada, enviei a matéria a Ulisses. Passados poucos minutos, meu telefone tocou:
"-Acordada a essa hora, mocinha- era Ulisses.
- Tive um sonho ruim, perdi o sono
- Costuma ter pesadelos?
- As vezes, desculpa se te acordei, não pensei no horário quando mandei a mensagem
- Não acordou, normalmente acordo essa hora pra me exercitar
- Mesmo assim desculpa atrapalhar
- Você não me atrapalha, princesa. Quer conversar?
- Não sei, minha mente está confusa
- Chego aí em cinco minutos

Simplesmente desligou. Resolvi levantar, eram cinco e meia da manhã, fiz minha higiene e fui até a cozinha preparar um café, ouvi leves batidas na porta da cozinha e sabia que já era Ulisses.
- Nossa você veio rápido, entra.
- Estava pronto pra sair
- Não quero te atrasar
- Não se preocupe
- Fiz café
- Ótimo, uma boa conversa pede um bom café, mas quero saber sobre esses sonhos
- Não é nada demais....
- Se te faz perder o sono, sinal de que é alguma coisa, vamos me conte logo
- Nesses sonho eu sempre sou uma criança, ainda bem pequena, no de hoje era meu aniversário de 5 anos - contei todo o sonho e Ulisses ouvia em silêncio.
- Você não acha que esses sonhos podem ser lembranças? - perguntou cauteloso.
- Já cheguei a pensar nisso, mas tenho medo de acreditar que são e não passar de imaginação.
- Você se lembra de algum outro sonho desse tipo?
Contei a ele sobre todos os sonhos enquanto ele me ouvia atentamente, não sei o que acontece, mas me sinto segura em me abrir com ele, parece que ele sempre vai me proteger. 
Conversamos por um longo tempo, depois ele me ofereceu uma carona até a escola, ele me deixou e seguiu pro trabalho.

A Herdeira Perdida - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora