Capítulo 14

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A FARSA CONTINUA

ZÉLIA

  Após Ulisses descobrir a fuga, quando todos estavam em busca de pistas, consegui enviar uma mensagem ao Joaquim comunicando a fuga da Anne, ele ficou furioso, ameaçou novamente meu filho, mas o convenci de que não sabia de nada e que ela agiu sozinha.
  Duas semanas após a fuga, ninguém havia encontrado nenhuma pista, nada que levasse ao paradeiro da Anne, ela cumpriu perfeitamente todo o plano e estava em segurança em uma fazenda no interior do estado, meu filho e sua família estavam com ela em segurança. Uma vez por semana nos falávamos em um telefone pré pago que não tinha como ser rastreado. Eu esperava a polícia encerrar a procura pra me juntar a eles.

ULISSES

  Dois meses se passaram e até agora nenhuma pista da Anne, a polícia encerrou as buscas e eu estou completamente destruído, sinto que fracassei em proteger a minha menina.

Tomás pediu o divórcio e Suzanna não se conforma, ele também está arrasado com o sumiço e Fernando não pára de reunir provas contra Joaquim e Suzanna, mas só vai entregar a polícia depois de obter a confissão. Nós esperamos que o pedido de divórcio desestabilize a dupla pra que enfim eles entrem em desespero e cometam algum erro.

Saio da delegacia e resolvo passar na casa da Zélia pra saber como ela está, com tanta coisa acontecendo não tive como dar o apoio que ela precisa, imagino que não esteja sendo fácil, ela se apegou a Anne como se fosse uma filha.

Chego na casa da Zélia, toco a campainha e aguardo por alguns minutos, toco novamente a campainha, aguardo mais uns minutos estranhando a demora toco pela terceira vez, quando sou atendido percebo que ela se assusta ao me ver, mas logo abre seu costumeiro sorriso e me dá um abraço de boas vindas. Ela me convida a entrar e noto quando ela pega algo sobre a mesa e esconde rapidamente no bolso, não falo nada mas estranho tal atitude. Ela me oferece um café, eu aceito e nos sentamos pra conversar.  Estranhamente, ela está alegre e relaxada, estranho esse comportamento e sem deixar de prestar na sua reação a comunico que a polícia suspendeu as buscas.
_ Zélia, sinto muito informar, mas a polícia suspendeu as buscas à Anne, eles concluíram que ela fugiu de livre e espontânea vontade, por isso não vão ocupar os poucos homens do departamento pra procurá-la - digo com pesar.
_ Sinto muito, meu filho! Todos estamos tão preocupados com nossa menina, nem sei o que dizer - diz em tom triste, mas seus olhos transparecem alívio, minha intuição diz que ela sabe o paradeiro da minha menina.
  Conversamos por alguns minutos e algo me diz que Zélia sabe muito mais do que aparenta. Me despeço dela, que me leva até a porta e quando estou prestes a fechar o portão escuto um telefone tocar dentro da casa, finjo sair e vou me esgueirando até próximo à janela ouvindo então parte da conversa:

_Meu filho! Que saudade! Como estão as coisas?
_ Aqui está tudo bem, o Ulisses acabou de sair daqui, veio avisar que pararam as buscas, logo vou poder ir ao encontro de vocês.
_ Fico feliz em saber que estão todos bem, amanhã mesmo vou comprar as passagens pra enfim poder matar as saudades.

    Acho que estou ficando paranóico, a coitada estava esperando as buscas terminarem pra viajar pra junto do filho, deve estar se sentindo sozinha, resolvo não escutar mais e vou embora. Mas mesmo sabendo que ela só está indo ficar um tempo com a família, uma série de questionamentos começa a surgir em minha mente:
- Por que ela demonstrou alívio quando disse que cessaram a procura?
- O quê ela escondeu logo que entramos?
- Por que o filho não ligou para o telefone fixo?
- Por que esperar desistirem das buscas pra visitar o filho?
  Meu faro de policial diz que Zélia sabe de alguma coisa que eu não sei, mas faço questão de descobrir.

  Mais um mês se passou, agora já são três meses sem nenhuma notícia da minha menina, soube ontem por uma vizinha que Zélia viajou há dois dias pra casa do filho, estranhei o fato dela não ter falado nada comigo à respeito, já que tenho a visitado semanalmente.  Cada dia mais sinto que ela esconde alguma coisa.

   Hoje completa seis meses que Anne fugiu sem deixar rastro, cada dia que passa minha desconfiança de que Zélia esconde algo aumenta, tentei ligar inúmeras vezes pro celular dela e sempre chama até cair na caixa postal.
    Fernando me ligou hoje, pedindo que eu vá ao escritório dele, pois tem novidades e quer contar quando eu e Tomás estivermos juntos. Vou imediatamente, pois tenho esperança de que ele tenha encontrado alguma pista da Anne. Chego pouco depois do Tomás, que também parece nervoso:
_ Vamos, Fernando! Pare de enrolar e fala logo! - Tomás diz sem paciência.
_ Consegui uma imagem de uma câmera de segurança de um Motel que mostra Suzanna e Joaquim entrando no mesmo quarto, além de uma conversa deles onde ele diz que ela precisa agir rápido. - diz em tom preocupado.
_ O quê eles estão planejando agora? Ela não sai da minha casa, mesmo depois de eu pedir o divórcio, ela se recusa a sair - Tomás diz muito nervoso.
_ Então quem precisa sair da casa o quanto antes é você - Fernando diz preocupado.
_ Fernando, nós não temos o dia inteiro, diz logo o que eles estão planejando! - digo revelando minha impaciência.
_ Ela vai envenenar o Tomás, o objetivo não é matar de uma vez e sim fazer com que ele pareça louco, assim ela consegue interditá-lo judicialmente. - falou por fim.
Tomás fica transtornado de raiva, nunca imaginei vê-lo tão descontrolado, sinto que minha cabeça vai explodir, então resolvo contar tudo o que vem me incomodando há meses:
_ Vou tirar férias! - falo de repente e todos me olham como se tivesse três cabeças- Não é o que vocês estão pensando, não vou abandonar o caso - eles me olham ainda mais confusos - Quando a polícia parou de procurar pela Anne, eu fiz questão de ir pessoalmente avisar à Zélia, imaginando que ela ficaria arrasada, mas na verdade ela me pareceu aliviada. Passei a visitá-la regularmente pra tentar descobrir alguma coisa, mas um mês depois ela simplesmente viajou, a vizinha disse que ela foi passar um tempo na casa do Caio, mas ela nunca comentou nada que iria - falo rapidamente esperando que eles entendam o que passa na minha cabeça.
_ Você acha que a Anne pode estar na casa do Caio? - Tomás me pergunta esperançoso.
_ Eu não sei, mas acho muito suspeito a Zélia partir sem falar nada, eu estive na casa dela no dia que ela viajou e ela não parecia que ia viajar - respondi.
_ E por que você levou três meses pra nos contar? - Fernando pergunta totalmente irado.
_ À princípio achei que era paranóia minha, mas a suapeita só foi aumentando quando o telefone dela só chama até cair na caixa postal.
_ Vamos até a casa dela, ela deve ter deixado alguma pista - Fernando diz já se levantando.
_ Eu vou até a casa do Caio, tenho o endereço, acho que é a melhor forma de ter certeza, por isso vou pedir férias, pra não levantar suspeitas - comunico minha decisão aos dois.
_ Quando pretende viajar? - Tomás se pronunciou pela primeira vez depois de tudo o que eu disse.
_ Até que eu consiga resolver toda a questão burocrática pra tirar férias, cerca de duas semanas.- respondi
_ Ok! Acho que é mesmo o melhor a fazer, mas de qualquer forma vou fazer uma varredura na casa da velha. - Fernando conclui.

A Herdeira Perdida - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora