Capítulo 31

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ENTRANDO NO JOGO, PORÉM NEM TANTO

ANNE

    Eu estava no meu quarto separando umas roupas pra viajar com o Ulisses quando uma das empregadas da minha casa me entregou uma carta, achei muito estranho, quem hoje em dia envia uma carta? Olhei o envelope e vi que o remetente era uma das freiras do orfanato onde fui criada. Apesar de não ter contato nenhum com as pessoas de lá, resolvi abrir. Minha maior surpresa foi ver que não era o que parecia.

Querida Anne,

Sei que esse não é o modo mais moderno de contato, mas achei o mais seguro. Estive analisando algumas peças de todo o seu caso e vários fatos me levaram a acreditar que confiamos cegamente na pessoa errada. O Fernando não é exatamente o quê diz ser,  não sei exatamente de qual lado ele está mas sei que você não foi encontrada antes porque ele não quis. A Dra Cecília, que cuidou de você quando te encontramos foi enviada por ele e quando ela pensou em divulgar sua foto na imprensa, em busca da sua família ela foi impedida por ele.
Ele tem uma equipe enorme vão tentar tirar você e o Ulisses da cidade, o delegado Vivas já está a par de tudo o que estou te falando, concordamos que precisa sair da cidade, mas peço que não confiem cegamente em ninguém. Aceite o plano dele, mas tenho total cuidado. Junto dessa carta estou enviando duas cápsulas, uma pra você e outra pro Ulisses, essas cápsulas são o que há de mais moderno em rastreamento, estão conectadas a todo o sistema da polícia e eu também tenho acesso a esse sistema. Peço que antes de seguir viagem vocês tomem essas cápsulas receberemos um sinal quando ela for ativada e a partir de então estaremos com vocês em tempo real.
Peço que seja forte só mais um pouco, estamos perto de desvendar todo esse mistério.
Um beijo do tio que te ama como uma filha, Bernardo.

   No momento em que terminei de ler a carta, pensei em falar com o Ulisses, mas pensando melhor, achei prudente não esperar o melhor momento pra falar. Fui até o escritório do meu pai e o chamei pra dar um passeio, só nós dois, um programa de pai e filha. Ele prontamente aceitou.
Fomos até um parque, onde eu sabia que não havia monitoramento por câmeras e mesmo se tivesse, não despertaria a curiosidade se ninguém.  Ao sair do carro, sugeri que não levássemos nossos telefones, também antes de sair deixei todas as jóias e qualquer outra coisa que pudesse ser rastreada. Meu pai estranhou mas não questionou.
  Quando vi que estávamos seguros, mostrei a carta a ele, ele leu em silêncio e ao terminar ele falou:
  _ O Bernardo é um excelente policial, um grande amigo e de ótimo caráter. A última vez que ele esteve em São Paulo, eu falei com ele que estava começando a estranhar a postura do Fernando, mas não sabia o que havia de errado, já que ele sempre me pareceu alguém de total confiança.
_ Então o senhor já estava sabendo?
_ Sabendo exatamente não, mas tinha desconfiança. O Bernardo pediu que eu não falasse nada a respeito e que ele ia tentar descobrir alguma coisa. Mesmo assim, contratei uma equipe de investigação do Estados Unidos pra monitorar as atividades do Fernando.
_ O senhor nunca falou nada!
_ Quanto menos pessoas sabendo, menor o risco. É fundamental que ele não desconfie que suspeitamos dele. Enquanto ele acreditar que confio cegamente nele, nós vamos conseguir as provas que precisamos. Durante a sua viagem com o Ulisses eu vou dizer que vou a trabalho pra Nova York, nesse tempo a equipe que contratei vai fazer uma varredura na nossa casa pra desabilitar todas as câmeras e escutas instaladas pela equipe do Fernando. Ao mesmo tempo está sendo feito um detalhamento minucioso nas contas bancária do Fernando e das pessoas ligadas a ele. O cerco está se fechando.
_ Tudo bem, pai. Vou seguir exatamente tudo o que está planejado, vou esperar o melhor momento pra falar com o Ulisses e logo tudo estará desmascarado.

Voltamos pra casa como se nada tivesse acontecido, seguindo todo o combinado. Ulisses chegou pra me buscar e eu já esperava por ele. Saímos em silêncio e fomos até o shopping, o plano estava saindo exatamente como planejado. Me mantive em silêncio seguindo todas as orientações que Fernando nos passava. Percebi que Ulisses estranhou meu silêncio.
_Amor, eu gostaria de levar algumas coisas, podemos passar em uma papelaria?
  _ Claro, princesa! Mas o quê pretende comprar na papelaria?
  _ Estou pensando em voltar a desenhar, gostaria de comprar alguns materiais.
_ Você não pare de me surpreender, não sabia que desenhava.
_ Era um passatempo de criança, vou ver se ainda levo jeito.

Fomos até uma papelaria enorme,comprei vários itens de desenho e em seguida fomos até a praça de alimentação tomar um sorvete enquanto esperávamos novas coordenadas. Achei que esse era o melhor momento pra mostrar a carta do Bernardo, não poderíamos entrar no carro sem que ele soubesse de nada.
Depois de ler a carta, Ulisses ficou extremamente surpreso, mas não podia esboçar nenhuma reação. Logo o sinal do Fernando chegou, era hora de partir.
_ Amor, antes de seguir viagem, eu preciso ir ao banheiro. - eu disse piscando disfarçadamente.
_ Vamos eu também preciso - respondeu piscando de volta.

Quando ele segurou minha mão eu passei a cápsula rastreadora pra ele e seguimos até os banheiros onde cada um entrou em um e aproveitamos pra tomar a cápsula. Na saída fizemos sinal de positivo com a cabeça e seguimos o plano. Nada poderia dar errado, é agora ou nunca.

Segundo o plano de Fernando, nós iríamos pra um sítio em Atibaia, era um lugar muito bonito, porém muito isolado, o que causou um certo medo.
Assim que chegamos mandei uma mensagem pro meu pai, avisando que havíamos chegado bem e que a viagem correu sem imprevistos.

Eu e Ulisses havíamos feito apenas uma parada onde combinamos que qualquer coisa que precisasse ser dita entre nós sem o conhecimento do Fernando seria por bilhetes, apesar de querer me passar segurança, estava claro o quanto Ulisses estava apreensivo, afinal nós não tínhamos ideia de qual era o plano real do Fernando.

A Herdeira Perdida - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora