Capítulo 8

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BÔNUS

ULISSES

Tenho 25 anos, sou formado em direito e assim que concluí a faculdade entrei para a Policia Federal, esse era meu sonho desde criança.  Moro sozinho, fui criado pela minha mãe, pois meu pai faleceu em um acidente de carro quando eu tinha apenas 3 anos, minha mãe se foi quando eu tinha 22 anos vítima de um câncer de mama.

A Zélia era uma grande amiga da minha mãe e sempre nos ajudou muito, eu e Caio sempre fomos grandes amigos, depois da faculdade ele se mudou e nos afastamos um pouco, mas continuamos amigos.
Quando a Zélia me ligou pedindo que eu fosse a sua casa, estranhei um pouco, mas não poderia negar nada a ela, que sempre esteve comigo, como uma segunda mãe. Chegando lá, fui apresentado a Anne, a menina parecia um anjo, tão indefesa e inocente que senti como um dever ajudá-la e protegê-la.

Me sentia frustrado por não conseguir descobrir nada da sua história, mas depois daquele dia que descobrimos sobre o casamento de Suzana Xavier com Tomás Vasconcelos, foi como as peças começassem a encaixar.  Ainda com as matérias enviadas pela própria Anne, soube que agora tinha onde começar a investigação.

Descobri que Tomás e Antonella tiveram uma filha, o nome da menina ainda era um grande mistério. Segundo as investigações, Antonella foi sequestrada junto com a filha quando a menina tinha apenas 4 anos, ficaram desaparecidas por 6 meses, então o corpo de Antonella foi encontrado com marcas de tortura na beira de um rio na periferia de Belo Horizonte, a menina nunca foi encontrada.
Depois de perder a esposa, Tomás se tornou um homem extremamente reservado, ele acreditava que a culpa pela perda da sua esposa e de sua filha era da grande exposição na mídia. As investigações sobre o sequestro foram encerradas por falta de novos dados. Acredita-se que  a menina também não tenha sobrevivido, porém o corpo nunca foi encontrado.

Minha intuição dizia que essa menina era Anne, mas precisava ter certeza antes de lhe dar falsas esperanças. Entrei em contato com Bernardo e passei todas as novas informações, como foi ele quem encontrou a Anne, talvez ele possa conseguir novas informações.

BERNARDO

Recebi as informações que o Ulisses me passou e ao ler todo o material foi como se algo  começasse a fazer sentido. Havia pouco tempo que eu tinha entrado para polícia quando o corpo da moça foi encontrado, foi um caso que chocou a todos pelo estado em que o corpo estava, sinais claros de que ela sofreu muito.  Tudo isso aconteceu pouco tempo depois que encontrei Anne naquele parque.
Quando levei Anne ao hospital, a Dra Cecília e a Deby me informaram que a menina tinha sinais de maus tratos como hematomas, cortes e queimaduras pelo corpo.  Eu mesmo havia levado fotos dela para ser comparada com as crianças desaparecidas naquela época e nada foi encontrado.  Se Anne estava sendo procurada, como ninguém veio atrás dela? A única explicação possível é que alguém muito influente não queria que ela fosse encontrada.

Fui até o orfanato tentar alguma nova informação, já que a própria Anne afirma ter visto aquela mulher lá por várias vezes. Chegando lá, fui recebido pela Madre Joana.
- Bernardo, a quê devo a honra da sua visita - ela falou um tanto surpresa.
- Gostaria de conversar um pouco, algumas dúvidas sempre pairaram sobre minha cabeça, mas sabia que não era seguro perguntar- falei sem rodeios.
- E o que o faz crer que agora essas perguntas podem ser respondidas? - indagou  desconfiada.
- A senhora ficou sabendo da perda da nossa querida Anne, num incêndio onde ela morava?
- Infelizmente, Anne era uma boa menina, não merecia tudo o que passou.
- Sinto muito a falta dela, era como uma filha pra mim.
- E quais são suas perguntas? Acredito que sejam sobre a estada dela aqui. - disse desconfiada- Pode perguntar, o que eu souber, vou responder.
- A senhora acha que o incêndio foi acidente?
- Sinceramente, não! Anne era uma criança inocente, mas haviam pessoas ruins que a cercavam.
- O que a senhora sabe sobre a história dela?
- Anne não veio pra cá por acaso. A Dra Cecília veio aqui pedir por ela quando saiu a determinação de que ela deveria ir pra um orfanato, Cecília me contou o estado como ela foi encontrada e temia pela vida dela. Logo que ela chegou, uma mulher apareceu aqui dizendo ser tia da menina e que ela corria perigo, por isso deveria ser mantida em sigilo, eu não conhecia a mulher, mas ela me causava medo, ela fazia generosas doações ao orfanato, mas eu sabia que não era caridade, ela queria que mantivéssemos a Anne escondida. Pra proteger a menina, foi o que eu fiz. Anualmente precisamos mandar um relatório à justiça sobre cada criança mantida aqui, com cinco anos dela aqui, não tinha mais como evitar que ela participasse dos eventos onde possíveis pais conhecessem nossos internos.
- Foi quando a Anne participou e o Marcelo e a esposa se interessaram em adotá-la....
- No mesmo dia em que avisei a Anne sobre a participação dela a moça esteve aqui, ela saiu furiosa quando informei que não tinha como evitar.
- Qual nome dessa moça?
- Ela se apresentou como Antonella, mas não acredito que seja seu verdadeiro nome.
- Continue irmã.
- No dia do evento, mesmo a Anne ficando todo o tempo isolada, aquele casal se encantou por ela, eles preenchiam todos os requisitos para a adoção, eu realmente acreditei que seria uma boa família pra ela.
- A senhora fez o que era certo, não se culpe. A senhora seria capaz de reconhecer a moça que se apresentou como Antonella?
- Sem dúvidas! Jamais vou esquecer aquele olhar tão diabólico.

Mostrei a foto de Suzana a madre e ela confirmou minhas suspeitas, o que eu não entendia era como Cecilia soube que Anne corria perigo,  alguma coisa aconteceu no hospital e só encontrando Cecília pra saber do que se trata. Saí do Orfanato, fui pra casa organizar as informações pra enviar a Ulisses, tudo levava a crer que as suspeitas estavam corretas.  Eu precisava descobrir como ninguém associou a menina encontrada com a menina desaparecida.

Depois de enviar tudo ao Ulisses, fui até a delegacia e procurei os registros de quando encontrei a Anne e não havia nada, as fotos que eu mesmo tirei, o boletim de ocorrência que fiz, a notificação de criança encontrada e todas as demais informações haviam desaparecido, como se nunca tivesse existido.  Fui até o hospital, onde pedi pra ver os arquivos e novamente não encontrei nada. Pedi os dados da Dra Cecília, certamente ela saberia de alguma coisa.
Descobri que Cecília estava trabalhando como voluntária na Etiópia desde quando pediu demissão do hospital. 
Novamente passei todas as informações ao Ulisses, ele como investigador da Polícia Federal teria mais acesso à informações sigilosas.

ULISSES

Depois de analisar tudo o que o Bernardo descobriu, percebi que se tratava de alguém muito poderoso por traz disso tudo, a Anne corria perigo e meu peito doia só de pensar no que poderia acontecer com ela. 

Senti uma enorme vontade de ver como ela estava, liguei e combinei de jantar com na casa da Zélia.  Chegando lá me surpreendi ao encontrar o Caio, há mais de um ano não o via e nos falávamos raramente por mensagem.

- Ulisses! Que surpresa te encontrar aqui! - disse Caio assim que abriu a porta.
- Não sabia que estava em São Paulo, quando chegou? - perguntei surpreso.
- Cheguei hoje, ia te ligar pra gente sair, tomar uma cerveja,  dar uma volta... sei lá.
- Trouxe a esposa pra conhecer a família? - notei que ele ficou desconcertado com minha pergunta.
- Eh... sabe como é né... - falou reticente.
- Vai dizer que já separou?
- Estamos dando um tempo, a Daniela é meio paranóica, resolvi passar uns dias aqui até ela esfriar a cabeça.
- Ela é paranóica ou é você que não toma jeito?
- E aí? Já conhece minha nova irmãzinha - percebi que ele queria mudar de assunto.
- A Anne? Conheci logo que chegou, ajudei a Zélia com a adoção.
- Então você sabia da pirralha e não falou nada?
- Cara, vê lá como fala dela, a Anne é uma boa menina.
- Qual é, Ulisses! Não precisa defender, tô só brincando.
- Rapazes! O jantar está na mesa - Zélia apareceu de repente - Já estão se estranhando?- perguntou e todos rimos.
Seguimos pra cozinha, Anne estava servindo a  mesa, quando me viu deixou a travessa e veio me cumprimentar com um abraço e um beijo no rosto.
- Pro irmãozinho não teve uma recepção calorosa dessa - Caio falou com um certo deboche que deixou a Anne envergonhada, não gostei nada da maneira que ele falou.
- Vamos sentar e comer em paz, sem gracinhas, Sr Caio - Zélia disse com bom humor.
O jantar correu bem, tirando algumas piadinhas desagradáveis do Caio, conversamos amenidades, a Anne animada com a escola e falando sobre os novos amigos que tinha feito. Fiquei feliz em vê-la tão bem e não iria estragar a felicidade dela com as novas descobertas, preferi não falar nada.
Depois do jantar, Caio me chamou pra ir a um barzinho com a desculpa de botar o papo em dia.
- O quê que tá rolando entre você e a minha irmãzinha? - Caio perguntou sem rodeios.
- Não entendi - perguntei realmente sem entender.
- Você defendendo a pirralha, olhando pra ela com cara de bocó, ela toda derretida pra você, pensa que sou trouxa?
- Cara! O quê você anda usando? Tá louco? Anne é uma criança - respondi irritado.
- Uma criança bem gostosinha
- Sabia que posso te prender por se refeir assim a uma menor?
- Qual é, Ulisses?! A pirralha não faz o meu tipo não.
- Cara! Quando você vai crescer? Não me adimira que a Daniela de deu um pé no traseiro.
- A Daniela não tem nada a ver com a conversa,  você ainda não se ligou que tá de quatro pela Anne e eu só quero te ajudar, sabe que se você se envolver com ela é você que vai se dar mal - disse saindo sem dar chance de eu responder.
Fiquei ali pensando em tudo o que ele falou, eu não posso estar interessado numa menina, ela ainda vai fazer 16 anos, isso é loucura.  Acho que preciso arrumar uma namorada pra tirar isso da minha cabeça.

A Herdeira Perdida - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora