>Nicole<
Abri os olhos com dificuldade, senti o ar frio acariciar meu corpo me causando arrepios. Meu pulsos e tornozelos estavam amarrados e meu corpo esticado contra a parede causando uma dor terrível nas minhas costas.
– Aí! – foi tudo que eu consegui deixar escapar pelos meus lábios secos.
Lembrei do que tinha acontecido e meu corpo tremeu violentamente.
– Quiara!!! – gritei lembrando do corpo ensanguentado ao meu lado.
Meu Deus! Isso não está acontecendo! Isso... isso é só um maldito pesadelo.
– Não – minha respiração entrecortou e o pânico subiu enquanto me debatia tentando me soltar – Não... Quiara... Quia...
Senti o sangue escorrer pelo meu braço de um corte em meu pulso.
Vermelho...
O tom vermelho deslizando pela minha pele pálida foi como um tapa na cara. Não a dor que me atravessava como facadas, não meu peito que parecia ter se rasgado em dois, mas foi o vermelho de meu sangue que me trouxe de volta pra realidade.
Respirei fundo, tentando controlar a respiração, controlar a vontade insuportável de chorar. Fechei os olhos um momento e consegui me concentrar no aqui e agora.
Olhei ao redor, eu estava em uma espécie de quarto, uma pequena janela gradeada deixava o céu noturno aparecer. Havia no centro do quarto apenas uma mesa de metal com... aquilo são aparelhos cirúrgicos? Meu Deus que lugar é esse?
Do outro lado, havia também uma jaula onde um tigre estava de costas para mim. Eu sabia que ele não era Kishan, mas uma fagulha de esperança me fez gritar o nome do tigre negro.
Como eu esperava o tigre que me encarou com olhos esverdeados e sem vida não era Kishan, tratava-se de um grande tigre siberiano.
– Onde estamos? – indaguei e em resposta o felino apenas suspirou deitando a cabeça sobre as patas. Seus olhos foram a última luz que vi antes de tudo virar escuridão.
>Kishan<
Pegamos o jatinho particular que Ren usava nas suas viagens de negócio e fomos finalmente em direção a minha querida Índia. Conversamos por horas até que enfim Kelsey adormeceu com a cabeça encostada no ombro de Ren.
Meus olhos correram o avião e encontrar a garota Amira e Anik que dormia ao seu lado, o rosto sereno nem imaginar a maldição de seu pai.
– Contou a ele? – indaguei.
– Ele... – Ren gaguejou olhando o filho – Ele é só uma criança. Como dizer a ele que seu pai é um príncipe amaldiçoado de mais de 300 anos?
– Realmente não há jeito fácil de dizer isso.
Ren ficou quieto olhando pela janela com rosto cansado, seus dedos brincavam com os de Kelsey.
– Tente dormir um pouco Kishan. Vai lhe fazer bem.
Fiz o que Ren sugeriu e acabei adormecendo.
– Miau! – o gato branco de Nicole se lambia ao meu lado, enquanto um belo vale se estendia a nossa frente.
– Onde estou? – indaguei para ninguém especificamente.
– Senhora? – ouvi atrás de mim.
Diferença da paisagem basta do vale, ali havia um acampamento de guerra. Soldados se preparam para a batalha, ajeitando armaduras e polindo espadas. Mas entre todos, duas figuras chamavam atenção, um rapaz trajando uma armadura simples e carregando apenas uma espada, parado de costas para ele estava a figura a quem ele chamou de "senhora", mas se era uma mulher eu não tinha certeza, já que seu corpo estava encoberto por uma bela armadura e seu rosto escondido por um elmo de penacho vermelho.
– Senhora, o exército está preparado. Atacamos de manhã pelo sul.
– Sim – ela finalmente se virou.
Agora eu tinha a confirmação de que uma mulher se escondia por trás da armadura, não só pela voz, mas pelos olhos escuros que pareciam guardar milhões de mistérios.
– E quanto a minha irmã? – notei aflição na voz do jovem – Sabe onde ela está?
– Sua irmã, agora é uma guerreira de Ártemis, não a mais nada que você possa fazer quanto a isso.
– Ela é minha irmã! – o jovem gritou, caindo de joelhos.
– Não faça isso comigo meu campeão – a garota se aproximou do jovem e tocou o seu rosto – Precisamos de você.
– Podem vencer sem mim.
– Eu preciso de você – ela sorriu – Seu lugar é ao meu lado filho da guerra.
O garoto não respondeu imediatamente, apenas flexionou os dedos da mão direita, notei uma mancha branca com o formato parecido com o de um gato.
– Faria o possível, em nome de minha madrinha Senhora do Amor e meu pai Senhor das Guerras – ele se levantou – Minha senhora.
Com uma reverência eu garoto se retirou deixando a garota sozinha olhando para o vale.
O tempo passou até um outro homem se aproximar dela, esse usava a armadura completa e tinha uma expressão sofrida no rosto cicatrizado.
– Ele foi embora – contou – Nosso campeão nos abandonou.
A mulher não respondeu.
– Senhora? O que devemos fazer agora? – o homem insistiu.
– O leão nos deixou – ela murmurou, antes de dar uma risada seca – Faremos o que sempre fizemos. Lutaremos.
– Mas senhora...
– Ainda sou eu, filha de Afrodite, afiliada de Ártemis e guerreira de Atenas, sua senhora. Ousa pôr em questão minhas ordens?
– Não senhora – o homem fez uma referência rápida e se afastou.
Uma figura negra saiu de dentro de uma tenda e correu para o lado da mulher, e com dois saltos ágios escalou seu corpo, equilibrando-se com graça ao se sentar no ombro da mulher. Tratava-se de um grande gato preto, de profundo dos olhos verdes.
Ela retirou as luvas grossas, revelando mãos pálidas e pequenas, uma marca negra em seu pulso, semelhante a do rapaz, chamou minha atenção, aquela era de fato o desenho de um gato preto, como uma tatuagem.
– Vamos à guerra amanhã – ela correu os dedos pelo pêlo do gato em seu ombro – O leão pode ter ido embora, mas o tigre ainda permanece aqui. Em quanto meu coração tiver vida nenhum mal triunfar – seus olhos se encheram de lágrimas que ela afastou com as costas da mão – Afinal, a Vitória está ao nosso lado!
O gato saltou, mas antes de suas patas tocarem o chão, seu corpo mudou de um gato preto comum e pequeno para o de uma enorme pantera negra de olhos reluzentes e seu rosnado ecoou por todo o vale.
– Senhor Kishan? – senti alguém sacudiu meu braço com cuidado – Perdoe-me por incomodar – Amira me encarava com um olhar envergonhado – Aperte o cinto – ela sorriu – Chegamos na Índia.
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Coração Puro
FanfictionE se ela não for como as outras? Se não for tão bela, ou feminina, e se não partilhar dos mesmos gostos que as outras garotas tem? E se ela for só uma garota estranhamente e curiosamente perfeita a sua maneira? Você lutaria por ela e a protegeria...