>Nicole<
Vesti minha jaqueta e conferi mais uma vez a hora, eu estava atrasada, com fome e sono. Sai para a rua e olhei o céu, o sol ainda não havia surgido no horizonte.
Enquanto eu caminhava, com meu capuz sobre a cabeça escondendo meus fones e cabelos, não conseguia parar de pensar no quanto a vida é estranha e injusta. Trabalhar amanhã e a tarde toda, e a noite estudar, dormindo e comendo mal. Acho que não é isso que chamam de vida.
Sorri, sarcástica. Eu era uma Cinderela sem fada, carruagem, sapatinho de cristal, nem príncipe encantado. Eu ainda estava esperando a bonança que diziam vir depois das tempestades. Com esse pensamento feliz que me assolava a mente todas as manhãs, aprecei o passo.
Uma hora mais tarde finalmente cheguei à creche em que eu trabalhava de serviços gerais (também conhecida com faxineira, pau pra toda obra, tia da limpeza, escrava de geral, entre outras gentis denominações). Engoli rapidamente um café preto e xucro (odeio café ainda mais sem açúcar) e fomos limpar as coisas. O serviço não era fácil e piorava pelo fato de eu odiar aquele lugar. Todas aquelas fofocas e intrigas me frustrava. Ali, ninguém era bom o suficiente. Nós da limpeza éramos incompetentes e lerdas, as garotas da cozinha eram fofoqueiras preguiçosas, as professoras eram vadias sádicas e o pessoal da diretoria queria o fim de todos nós, pelo menos era isso que circulava pelos corredores de sala em sala. Todas ali se odiavam, se julgando melhor que a outra, sem esse papo de trabalho em equipe. Ali, era cada um por si, e Deus por todos. E eu odiava isso.
Naquele inferno, havia apenas uma coisa que eu amava, e que me fazia sorrir. As crianças. Tão pequenas e inocentes, sorrindo sem notarem a quantia de veneno era derramado ao seu redor. Elas não se importavam com o fato de eu estar tirando o lixo de sua sala, ou limpando seus vomitados, elas me adoravam pelo fato de eu ser gentil com elas, por eu sempre sorrir para seus rostinhos sujos de sopa de feijão. Elas não jugavam, só distribuíam amor e afeto, tudo bem que quando estavam chorando pareciam cabritos roucos, e aqueles gritos iam ao fundo da alma de tão agudos. Mas isso não diminuía sua doçura.
Era 11:00 da manhã quando finalmente parei um instante para mordiscar uma bolacha salgada e beber um gole de água, então voltamos a trabalhar. Havia calos em minhas mãos e minhas pernas pesavam chumbo.
Adapte-se!, eu repeti o tempo todo. Sempre me considerei adaptável a qualquer situação, entretanto eu estava fisicamente, emocionalmente e psicologicamente cansada. Parecia que a qualquer momento o meu cérebro poderia dar um curto. A insanidade estava ao meu lado, a um passo e o tempo todo eu flertava com ela.
Às 5:00 da tarde voltei para casa só chegando às 6:00, tomei um rápido banho coloquei comida pro Leo e para Quiara peguei meu material e corri até a ponto de ônibus. Eu estava atrasada.
Assim que entrei no ônibus notei minha amiga sentada com meu primo no nosso banco. Mas que porra é essa!
Lancei um olhar feio para Ana, que eu esperava que dissesse tudo, mas ela não notou, estava rindo de alguma idiotice que certamente o idiota do meu primo havia falado.
Me sentei sozinha bem longe dos dois, olhando com a cara feia pra todos que passam, em um claro: Não ouse sentar ao meu lado, pessoa desconhecida.
Mas Alex não notou meu olhar. Ou então não se importou.
Ele soltou o corpo pesadamente ao meu lado.
– Que cara é essa? – ele questionou.
Alex era o tipo de garoto que eu sempre achava interessante. Loiro, alto, olhos claros, ótimo gosto musical, apaixonado por anime e com um senso de humor infantil (infantil até de mais pra ser sincera). Porém eu não conseguia gostar dele, assim como de nenhum outro garoto na verdade. Alex não me instigava, irritava muito, mas não me desafiava, discutir com ele era como discutir com minha mãe. Ele era um idiota de 24 anos, desocupado que vivia nas costas dos pais, sem falar na mentalidade de um criança de 4 anos, sim isso faz qualquer garota perder o interesse.
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Coração Puro
FanficE se ela não for como as outras? Se não for tão bela, ou feminina, e se não partilhar dos mesmos gostos que as outras garotas tem? E se ela for só uma garota estranhamente e curiosamente perfeita a sua maneira? Você lutaria por ela e a protegeria...