>Nicole<
O homem se aproximou de mim a passos lentos e decididos, os olhos negros brilhantes de curiosidade. Tinha feições orientais e um cabelo negro que começara a branquear nas têmporas, mas aparentava ser jovem mesmo que algo em sua postura desse a ele ares de séculos de idade.
Os animais se agitaram, enquanto o tigre negro rosnava tanto que parecia prestes a enfartar, os olhos dourados brilhantes de fúria. Os felinos não gostaram daquele homem, vendo algo que eu não via, então logo, eu também não gostei dele.
– Olá jovem – ele me saudou com um sotaque forte e um sorriso doce demais.
– E aí? – respondi voltando meu interesse para meu caderno.
– Você é uma das estudantes de veterinária?
– Sim – ergui o rosto, reavaliando-o – E o senhor é?
– Lokesh – ele se apresentou simplesmente.
– Nicole de Carnielli – sorri, tentando parecer simpática.
– Fascinante, não é mesmo senhorita Carnielli? – questionou olhando o tigre negro, seus olhos frios traiam seu tom doce. Ele não parecia achar o tigre nem um pouco fascinante, e a recíproca era válida, já que o tigre respirava com força, os dentes expostos em rosnados mudos.
– Sim, é um animal incrível. É uma pena que seja único.
– E é isso que me intriga – ele sorriu para mim, mas para o tigre, lançou um olhar de psicopata louco perto de abrir a próxima vítima – Sou indiano, e todos os relatos existentes sobre tigres negros vem do oriente. Acho realmente curioso o fato de esse belo tigre ter aparecido justo aqui na América do sul. Um continente que não tem nenhum representante do gênero Panthera Tigris.
– Eu me pergunto a mesma coisa – confessei observando o tigre.
Com mais analises poderia ser dito se aquele tigre negro era uma subespécie, ou talvez um Tigre-de-bengala com melanina.
– Talvez seja destino – me inclinei na direção da jaula, fascinada pelos olhos dourados enfurecidos daquele grande felino.
– Destino? – Lokesh abriu um sorriso debochado – Sim, talvez seja destino.
– Humm – dei um passo discreto para o lado, colocando uma distância entre nós, com um olho nele e outro no caderno, continuei minha discrição sobre a vida em grupo dos leões.
Lokesh notou que não possuía mais minha atenção e com um sorriso um tanto forçado nos lábios se despediu.
– Foi um prazer conhece-la senhorita Carnielli. Até logo.
– Tchau – "e até nunca mais, chato do caralho".
Enquanto o homem se afastava, notei que os aninais se acalmaram instantaneamente. Todos menos o tigre negro.
>Kishan<
Lokesh fechou a porta, mas eu ainda podia a sentir o ar falho nos pulmões, como se o maldito tivesse me tirado a respiração. Rosnei alto, finalmente sentindo a garganta funcionar.
– Ei, garoto? – a garota ruiva franziu a testa para mim, preocupada.
Rosnei, sem dar atenção para ela.
– Tigre idiota! – ouvi.
Aquilo não importava, eu tinha dois problemas gigantescos nas mãos.
Primeiro: Lokesh estava de volta. Como? Era uma boa pregunta. Eu ainda me lembrava de Kelsey o matando.
E segundo: ele havia me encontrado. Logo, encontraria Kelsey.
>Nicole<
Puxei o capuz sobre a cabeça. Por um momento todo o mundo a minha volta desapareceu. Estava apenas eu e os belos tigres.
O tigre negro ainda parecia passar mal, o que me deixava dividida entre chamar ou não alguém para vê-lo.
– Garoto! – chamei, mas o tigre não prestou atenção em mim – Ei!
Nada.
– Tigre idiota! – murmurei.
O tigre ergueu a cabeça, rosnando baixo.
– Ah! – abri um sorriso – O que foi tigre?
Obviamente, ele não me respondeu. Entretendo eu conquistara seu interesse. Não consegui parar de olha-lo, fascinada como nunca havia ficado por outro animal.
Ele se sentou, olhando pra mim com cuidado.
Eu estava prestes a iniciar um dialogo inteligente com o tigre quando Ana e Peter entraram na sala. Ambos vermelhos e com sorrisos idiotas nos lábios inchados. Revirei os olhos.
Ana pegou seu caderno e foi fazer mais algumas anotações, já meu primo se ocupou em devorar uma barra de chocolate, sem ao menos se dar ao trabalho de me oferecer um pedaço.
Idiota.
Não demorou muito para que o professor viesse nos buscar. Dei uma última olhada nos tigres antes de me juntar a todos e me dirigir até o ônibus, onde enquanto voltávamos para casa Ana me contava envergonhada o que ela e meu primo tinham feito (o que eu não precisava saber, já que isso é nojento).
Eu estava exausta quando cheguei em casa. Quiara, minha pequena red heeler, correu em minha direção, sua língua babona tentava a todo custo alcançar meu rosto.
– Oi meu bebezão – apertei sua cabeça contra a minha e depositei um demorado beijo em sua testa.
Abri a porta e deixei que ela corresse pelo pequeno pátio atrás de casa. Ela deu diversas voltas antes de finalmente se voltar para mim. Sentadas no chão, brinquemos por mais de meia hora antes de deitarmos, Quiara encostou seu focinho no meu rosto e fechou os olhos, roncando suavemente.
Ergui a cabeça um pouco, me deparando com um par de olhos heterocromo que me encaravam com cuidado. Leo miou baixo, sem se mexer.
– Que foi? – perguntei.
Ele me observava, desconfiado. Seu pelo comprido e branco estava manchado de terra e os olhos duas cores, um verde, o outro azul, pareciam olhar além de mim. Ele farejou o ar, torcendo seu nariz felino antes de espirar.
– Eu não estou fedendo – reclamei, ele grunhiu em resposta, se afastando – Tudo bem! Já vou tomar banho.
Depois de 30 minutos debaixo do chuveiro, pijaminha limpo vestido, cabelo penteado, me sente no sofá com um caderno no colo. Ergui meus pés numa cadeira e Quiara pulou sobre o sofá, deitando ao meu lado. Leo, depois de muito me farejar saltou e se acomodou sobre as minhas pernas.
Escrevi, desenhei e pintei, enquanto contava sobre meu dia aos meus companheiros e fantasiava mil histórias diferentes. Quando minhas mãos estavam cansadas, troquei o caderno pelo violão e dedilhei umas notas tocando uma ou outra música que eu gostava.
Depois de comer, assistir um pouco de Death Note e ajeitar minhas coisas fui me deitar.
Quiara me seguiu e se acomodou no chão, perto da cama, já Leo, subiu em cima do balcão de onde sentado me encarava.
– Boa noite meus amores – sussurrei puxando as cobertas.
Eu estava quase dormindo quando me sentei ereta na cama. Um pensamento me ocorreu e levantei pegando minha mochila. Merda! Eu havia perdido meu caderno.
>Kishan<
Eu estava tendo problemas para dormir, por isso caminhei de um lado para o outro na minha jaula. Notei que os tigres siberianos já estavam dormindo e que os leões brincavam um com os outros, curiosamente agindo de forma diferente longe do olhar humano.
Só depois de tanto caminhar de um lado para o outro, me deitei. Meus olhos notaram algo no canto, próximo a minha jaula. Me levantei para olhar mais de perto.
Era um caderno pequeno de capa escura.
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Coração Puro
FanfictionE se ela não for como as outras? Se não for tão bela, ou feminina, e se não partilhar dos mesmos gostos que as outras garotas tem? E se ela for só uma garota estranhamente e curiosamente perfeita a sua maneira? Você lutaria por ela e a protegeria...