Mar de sentimentos

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>Ren<

Observei meu filho e esposa adormecidos. Tão lindos. O rosto sereno dela, mesmo depois de tudo que passemos, de termos enfrentado momentos tão cansativos. Ela ainda estava ao meu lado, apesar de tudo. Suspirei. Porque aquilo nunca acabava?

Kishan estava parado na varanda, não precisava estar ao seu lado pra ver o que tomava toda a sua atenção.

Meu irmão... o que você está fazendo novamente?

Depois que Nicole saiu, como um turbilhão ruivo, Kishan contou o que vi, pelo menos uma parte. Contou que viu nossa mãe, e Kadam, mas não disse o que perturbou tanto a ruiva. Olhei pela janela do quarto, Nicole estava sentada na areia rabiscando um papel com uma garrafa enfiada no chão, ao seu lado 3 cães de rua estavam deitados.

Abri um sorriso, e sorrindo desci as escadas e fui até ela.

Ela cantarolava canções de filmes da Disney. Quando me aproximei, ela cantava Reflexo, do filme Mulan. Os cães se mexeram e rosnaram um pouco, o que fez Nicole se voltar na minha direção, mas então voltou para seu desenho.

Me abaixei e olhei por sobre seu ombro. Um rosto surgia ali.

– Quer falar sobre isso?

Ela arrancou a folha e rasgou em vários pedaços, respirando fundo.

– Vodca é bebida alegre, se quiser falar do passado me traga um conhaque – resmungou.

– Pensei que vinho fosse bebida alegre.

– Vinho é bebida pra pensar.

– Hummm... não tenho conhaque. Mas talvez eu possa te ajudar...

Ela respirou fundo, olhando o papel em branco, então começou a rabiscá-lo.

– Quando eu era pequena, meu tio disse que cada um de nós lida com seus monstros internos de forma diferente. Ele, ignorou o monstro que existia nele, converteu a maldade que o espreitava em bondade, e a semeou por todos os lados possíveis. Era como ele enfrentava sua dor. Um exemplo de bom homem. Meu tio podia não ser um santo, mas ele fez o seu melhor. Como uma lontra, um espirito forte e bondoso.

Um boca delicada surgiu através dos rabiscos de Nicole.

– Tubarão-branco – ela abriu um pequeno sorriso – Quando a conheci, eu disse que ela era tão linda como um grande tubarão-branco. Ela não gostou, tomou como um insulto.

– Imagino o porquê – comentei.

– Tubarões são criaturas marinhas maravilhosas, são poderosos, um tubarão branco não sobrevive muito tempo sendo um animal burro, eles são calculistas, espertos e rápidos, são fascinantes. E ela, era um lindo e gigantesco tubarão branco. Em um mar de peixes nadando em cardumes, seguindo a mare, ela era diferente, 6 anos depois eu expliquei isso pra ela, a deixei vermelha.

– Quantos anos você tinha?

– Eu tinha 10 anos quando a conheci, 16 quando a reencontrei. Das duas vezes ela tinha uma lata de cerveja na mão e um olhar morto. Ela estava morta, não no sentindo literal da palavra. Eu era um peixe das profundezas abismal tentando ajudar um vivido tubarão...

– Você se apaixonou por ela – murmurei sentando ao seu lado.

Nicole parou de desenhar por um momento, respirando fundo.

– Não, eu tentei. Por 2 longos anos, eu tentei me apaixonar por ela. Mas esse tipo de sentimento é estranho.

– Por que diz isso?

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