Amira

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>Nicole<

– Sente-se e sirva-se – Lokesh sorriu.

Fiz o que ele mandou e coloquei carne de frango, arroz e um tipo de sopa de massa no meu prato.

– Matou os feiticeiros – falei, precisava saber qual a extensão dos poderes dele.

Afinal, ele matou dois feiticeiros! E havia outra coisa, Kishan, a história que ele me contou. Segundo ele, Lokesh era um demônio. Mas e se fosse mentira, e se Lokesh não fosse o Vilão? E se ele realmente tivesse me salvado? E se Kishan fosse o inimigo? Se trabalha-se com os feiticeiros gêmeos?

Meu pulso latejou embaixo do curativo.

– Não acredito que aqueles dois podiam ser tão tolos – sua voz era calma e o sotaque proeminente – Não é assim que se trata uma dama. Não é daquele jeito que as coisas funcionam. Ora, se eles fossem feiticeiros de verdade, saberiam que primeiro deve-se usar a diplomacia.

– Depois a força bruta? – indaguei.

Os olhos negros dele me perfuraram e o sorriso vacilou um pouco.

– Não creio que seja necessário ir tão longe.

– Por que me salvou?

– Porque? Como eu disse, não é assim que se trata uma dama. E francamente, poções com vísceras de animais? É uma afronta aos verdadeiros feiticeiros. Eles eram a escória.

– Avada Kedava – murmurei olhando para o prato ainda intocado.

– Como está se sentindo? – ergui os olhos surpresa com sua pergunta – Ora menina, não me olha assim. Não sou um monstro.

Observei o rosto dele, o olhar cruel e superior. Será que é certo brincar de gato e rato com o demônio? Comecei a comer.

– Não tenho medo de monstros – retruquei.

– E de homens? – ele não escondeu o seu sorriso nojento.

– São apenas homens, os vermes ainda comeram sua carne quando morrerem.

– Você é uma jovem curiosa, senhorita de Carnielli.

Senti meu corpo ficar tenso com aquelas palavras, lembrando que Kishan havia dito algo parecido quando nós conhecemos.

– Quem exatamente é você? – questionei, o encarando.

– Um amigo, eu espero – respondeu somente, enchendo uma taça de vinho antes de leva-la aos lábios.

Amigo? Sentei um frio percorrer minha coluna enquanto seus olhos negros me analisavam friamente, sem pudor nenhum.

Eu estava paralisado de medo. Eu ia morrer ali, nas mãos daquele homem. Ele não era um amigo, disso eu tinha certeza. Ele era um feiticeiro, que chances eu teria? Eu ia morrer ali.

Meu pulso latejou, meu corpo ansiando por uma forma de libertar aquela tensão.

– É sempre bom ter um amigo – respondi finalmente, mas o que eu realmente queria dizer era: "O fato de você ter matado meus inimigos, não te torna você meu amigo. Cretino nojento!"

Respirei fundo, tentando manter o controle, como sempre fazia, em situações difíceis. Pra tudo na vida tem uma saída.

Sobre meu rosto, agora eu colocava uma máscara altiva e inabalável. Eu iria conseguir fugir dali, ou então morreria tentando.

>Kishan<

Havia uns 20 livros sobre a escrivaninha da biblioteca. Kelsey e Ren folheavam as páginas furiosamente enquanto eu me encontrava sentado no chão. Meu pulsos latejava e seria estranho demais dizer que eu podia sentir o gato dentro de mim.

Coração PuroOnde histórias criam vida. Descubra agora