Coração Puro

Bem-vindo ao vale dos deuses

>Ren<

Nicole de Carnielli era uma presença estranha à mesa. Eu podia sentir seus olhos escuros nos analisando e ela não parecia à garota tão feliz descrita por Kishan, entretanto com certeza era uma garota curiosa. E havia Anik, saltitando ao seu redor como se Nicole fosse uma deusa, o que deixava Kelsey irritada, afinal, se sem entender uma palavra o garoto já estava fascinado imagine se eles falassem o mesmo idioma. Era até engraçado ver o ciúme de Kelsey.

Kishan ficava o tempo todo ao lado da ruiva. Ele a encarava com um misto de preocupação e precaução, como se ela fosse um cão de rua que ele ainda não havia se decidido se dava comida ou se corria.

– Então... – comecei.

– Quando vamos ver a deusa Afrodite? – Nicole cortou, evitando minhas trivialidades.

– Em breve – Kishan respondeu após me lançar um olhar de 'viu'.

– Quando você estiver melhor – acrescentei.

– Eu me sinto ótima – ela largou o talher, se reenconstando na cadeira.

– Seu prato ainda está cheio – Kishan observou. E de fato, Nicole não havia comido nada.

– Como você espera que eu coma? – seus olhos zombeiros se voltaram para meu irmão – Você come tanto que acho que se eu colocar a mão perto da sua boca fico sem dedos.

– Ha-ha-ha – Kishan bufou – Você é uma graça.

– Relaxa, Thundercat. Eu estou de boa – Nicole deu de ombros.

– Então está disposta a nós ajudar? – indaguei.

– Sim, sim – ela remexeu no prato, sem comer – Posso não ser a companhia mais agradável, mas sou sincera e se digo que vou fazer algo, é porque vou fazer – ela empurrou o prato e ergueu o rosto pra mim e sorriu. Um sorriso sem vida – Afinal, não tenho mais nada pra fazer.

– Sinto muito – a encarei, mas sua expressão não mudou e ela simplesmente deu de ombros.

Um silêncio constrangedor tomou a sala. Kelsey me encarava com um ponto de interrogativo em seu rosto bonito, ela não havia entendido nada da nossa conversa em português, notei que ela estava controlando sua curiosidade.

Assim que terminemos o almoço ajudei as garotas a limpar a mesa enquanto Kishan levava Nicole até a sala, onde entregaria a mochila dela.

Uma vez sozinho com minha linda esposa a coloquei a par da conversa que tivemos no almoço. Kelsey suspirou, sentando na mesa.

– O que você acha? – perguntou.

– Não temos muitas opções. E Nicole não é ruim.

– Ela me parece bem má.

– Não – respirei fundo, pensando na garota – Ela é uma boa garota, só está assustada.

– Acredita mesmo nisso?

– Ela me lembra dos animais no circo. Olhando o mundo com profundo tédio.

– Ela me lembra das vilãs de filmes violentos – Kelsey comentou.

– Kelsey – sorri pra ela – você só está com ciúmes de Anik.

– Você notou como o garoto grudou nela? – ela bufou – Ele nunca agiu assim antes com alguém desconhecido.

– Vai ficar tudo bem, idalala – murmurei puxando Kelsey para meus braços, seu rosto contra o meu peito.

Pela janela eu podia ver Kishan e Nicole caminhando em direção ao campo de tiro, onde a 6 anos Kadam ensinou Kelsey a atirar com o arco.