Tubarão e vestidos

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>Kishan<

Queria bater no meu irmão.

Apertei o volante do carro e respirei fundo. Eu mentiria se não disse que estava empolgado, desesperado para ver minha garota, ainda assim, meu corpo tenso só de imagina-la, de pensar que ela ainda me rejeitaria.

Respirei fundo e lancei um rápido olhar para a caixa de coisas que meu irmão arrumara para entregar para ela. Tendo esse motivo como desculpa, eu dirigia até aquela casa escondida na floresta, com livros antigos, veados, corvos e peixinhos coloridos. Um mundo à parte do resto.

Li muito sobre o que ela me disse, passara noites em claro tentando... não sei... Entende-la ainda era difícil e assustador. Era difícil entender que ela precisava de espaço, que ela podia amar com todo o seu coração e ainda assim viver sem mim. Era assustador saber que ela podia se proteger sozinha, que tinha a coragem para derrotar um pelotão sem mim. Era assustador por que ela sabia exatamente o que fazer para pôr uma fera de joelhos e transformar em algo bom.

Eu era um guerreiro, um estrategista, mesmo assim me via incapaz de alcança-la. Esse era o mundo dela. Ela era um rainha e eu apenas um guerreiro jogado nas primeiras trincheiras. Tão longe dela quanto o sol esta da terra. Havia entretanto, uma coisa, nada nesse mundo me faria desistir dela. Eu lutaria por ela até não ter mais força em meu coração.

Primeiro, eu a senti, como uma luz aquecendo meu peito, então sobre o barulho do motor do carro eu ouvi sua voz cantando uma de suas canções preferidas, de como o escravo que conquistara a filha do patrão acabou sendo morto. Então sua voz parou, ela olhava na minha direção quando o carro chegou perto da casa.

Assim que coloquei meus olhos nela senti meu coração acelerar. Ela se encontrava descalço vestindo uma velha camiseta enorme e um calção que não escondiam suas coxas grossas, e havia as cores, seu rosto, cabelo e corpo estavam sujos de tinta. Ela era uma bela pintura viva.

Quando desci ela abriu um pequeno sorriso e se voltou para a tela no cavalete no qual ela pintava com atenção.

Peguei a caixa de coisas e levei até a cozinha só então indo até ela. Fazia quase um mês que eu não a via, a simples aproximação me fazia querer toca-la.

– Bom dia – abri meu melhor sorriso mas ela nem ergueu o rosto pra mim.

Ótimo! Como aquela garota arrogante podia pensar que eu ficaria longe dela?

– Verde ou vermelho? – questionou me puxando para mais perto para ver o que ela pintava.

Observei o campo florido, a grande árvore no fundo e os cães correndo atrás de veados no campo. Ela era incrível.

– Vermelho – murmurei tocando uma mecha de seu cabelo que não estava suja de tinta.

– Vermelho então – concordou pintando pequenas maças vermelhas nos galhos da árvore.

– Como você está? – indaguei olhando ao redor.

Embora estivéssemos no inverno flores de todas as cores e espécies rodeavam a casa e a grama tinha um tom forte de verde, assim como as árvores pareciam se recusar a perder suas folhas.

– Bem, e você? – continuou alheia a mim.

– Bem... – repeti.

Um vulto preto voou da varando e pousou no meu ombro.

– Oi Poe – sorri para o corvo que esfregou o bico em mim, ele também tinha um mancha vermelha de tinta que se destacava em meio a suas penas pretas.

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