Coração Puro

A garota de olhos escuros.

>Kelsey<

Amira, Sunil e eu estávamos no helicóptero esperando os tigres voltar. Meu coração parecia que iria sair pela boca. Odiava a ideia de deixar eles irem sozinhos. Eu queria ajudar.

Suspirei frustrada e me sentei. Amira me lançou um olhar, mas não comentou nada, apenas voltou a olhar a floresta com cautela.

Minha mente viajou para algumas horas antes, quando ainda estávamos no hotel, pra Kishan, semi-nu na banheira, com feridas se abrindo, o sangue fluindo e se misturando a água, todos aqueles sons de dor. Mas seu corpo era rápido, e suas feridas desapareciam rapidamente, e quando acabou, quando ele parou de sangrar, ele chorou, nunca vi Kishan chorar daquela forma, como uma criança desamparada, uma criança que perdeu tudo.

Era horrível, e o pior era saber que tinha alguém do outro lado, alguém que estava sofrendo a mesma dor que ele, mas era alguém que não era como ele. Uma garota de apenas 19 anos, que não se curava rapidamente, que sentia cada golpe realmente. Isso me aterrorizava. Pobre garota. O que seria dela? Com o corpo marcado pra sempre.

Senti vontade de chorar, chorar por uma completa desconhecida, por que eu conhecia Lokesh, sabia o quão monstruoso ele era. E aquela pobre menina estava lá, sozinha com ele.

– Kelsey? – Amira me tirou dos meus devaneios.

– Sim? – me levante, e vi Ren surgir, suspirei de alivio – Onde estão os outros? – apressei em perguntar, varrendo a floresta com os olhos.

– Estão vindo – ele contou se aproximando.

Alguma coisa aconteceu então. O chão tremeu e um barulho se fez mais alto que o silêncio, um rosnado animalesco, diferente de qualquer animal que eu tenha ouvido.

– Que foi isso? – indaguei, mas Ren não me respondeu, seus olhos azuis cobalto, que eu sempre achei tão lindo perderam o brilho, se vidrando em mim – Ren?

– Isso foi um leão? – Amira arregalou os olhos, olhando para o mato, então seus olhos voltaram para Ren – Ren?

Seu corpo tremeu e ele cai de joelhos, se transformando em tigre. Os dentes expostos, os olhos fixos na sua presa, no caso eu. Não, aquele não era meu Ren. Não podia ser.

– Ren? – tentei novamente, ele se aproximou, com passos calculados. Eu conhecia aquele olhar, ele ia atacar. Vi-me paralisada diante do azul assassino do olhar do tigre que eu tanto amava.

Ele saltou, mas não me atingiu, parou na metade do caminho, já que Amira o tinha golpeado com o cabo de sua arma.

– Ren! – gritei, apavorada. Entretanto ele só se levantou e venho novamente em nossa direção.

Amira rosnou algo em grego largando a arma e pegando um pedaço de madeira.

Ren avançou, e Amira lutou contra ele, tudo diante de meus olhos perplexos.

– P-A-R-A-C-O-M-I-S-S-O! – ela o empurrou com uma surpreendente força.

– Ren! – eu gritei, era tudo o que eu podia fazer, era tudo que eu conseguia pensar no momento.

– Tranquilizante! – Amira pediu.

Olhei ao redor, e vi a arma dentro do helicóptero. Sunil surgiu e pegou a arma, conferiu rapidamente e atirou em Ren, o tigre cambaleou para trás, mas voltou a atacar. Dessa vez Sunil atirou 5 vez e agora sim Ren caiu, os olhos arregalados, atacando cegamente, mas parecia mal conseguir erguer as patas.

Meu coração se apertou com a cena. Meu lindo tigre.

A floresta. Meu Deus! Era como se ela estivesse viva. Gritos animalescos ecoavam por todo lado e todos os sons mais selvagens se faziam ouvir de uma forma apavorante.