Cães

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>Ren<

Íamos pousar em uma pequena cidade na África do Sul, o mais discretamente que podíamos, e ficaríamos um tempo isolados.

Anik estava bem empolgado, tanto pela nossa chegada ao país quanto por Sirius. A verdade é que Anik nunca tivera um amigo, já que sempre fora uma criança tímida, então imagino que Sirius fosse o mais perto de um amigo que ele tivera até agora. Eu ficava feliz em ver meu filho tão aberto e alegre.

– Quer jogar videogame?

– Não – Sirius nem ergueu o rosto para meu filho.

Anik era uma criança tão boa, eu não conseguia entender porque Sirius não queria ser amigo dele.

Em dado momento, Sirius se levantou e sentou ao lado de Kishan, colocando uma boa distância entre eles. Anik se encolheu abaixando os olhos.

– Ei... – sentei ao lado do meu filho – Tenha um pouco de paciência, aposto que vocês vão ser grandes amigos.

– Você acha pai? – Anik ergueu o rosto sorridente para mim.

– Não tem como alguém não querer ser teu amigo.

– Eu gosto dele. Quero ser seu amigo pra sempre – ele deitou a cabeça em meu ombro respirando fundo, dormindo logo em seguida.

Queria dizer a Anik que não se importasse tanto com isso, afinal, com o tempo ele teria outros amigos. Sirius não era o único no mundo.

Voltei meus olhos ao garoto sentado junto a Nicole e Kishan, com um livro grosso e antigo lendo tão concentrado quanto a ruiva, era estranho o quanto os dois pareciam, como uma mãe e seu filho, já meu irmão, olhava de um livro para o outro com a expressão confusa.

Nicole comentou algo sobre o Egito antigo, Sirius sorriu e concordou, e Kishan abriu um estranho sorriso, sem conseguir acompanhar eles.

– O que foi? – Kelsey me perguntou, ao me ver sorrir.

– Ver o desconforto de Kishan me alegra – confessei.

– Ren – Kelsey me reprendeu contendo um sorriso seguindo meu olhar.

Anik abriu os olhos e com um resmungo foi para os braços da mãe se aprumando em seu colo.

Observei o rosto de minha amada esposa, tentando ver o que Sirius via, onde parecia que Anik tinha medo dela, ou que ela diria coisas tão horríveis sobre o garoto. Não me parecia possível. Ele havia se enganado. Era isso.

Kishan se levantou, e fiz o mesmo me aproximando dele.

– O que foi?

– Aquele garoto...

– Não confia nele?

– Não é isso... é que... – Kishan lançou um discreto olhar para o garoto.

– Está com ciúmes? – abri um sorriso inconveniente.

– Não, Ren. Não estou – ele agora voltou sobre mim um olhar irritado.

– Eles se dão tão bem – comentei para irrita-lo ainda mais.

Kishan deixou os ombros cair e respirou fundo, um gesto ao qual eu não esperava.

– Aquilo está em egípcio antigo. Ele está lendo hieróglifos, Ren – resmungou – Que tipo de criança lê isso?

– Uma bem mais inteligente que nós aparentemente – franzi a testa, detestando ter que dizer isso.

– O que estão conversando? – Anik indagou após se aproximar sorrateiramente de nós.

– Você não estava dormindo? – peguei o garoto no colo.

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