Capítulo 4

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- Por que não voltou ontem para a festa? Te procurei por todos os lados e não te achei. - Eva falou enquanto ajeitava as mangas de sua camisa.

- Eu te disse que estaria na ponte, às margens do rio. - Valentina falou. Eva levou uma mão ao meio de sua testa.

- Eu havia me esquecido. - Disse expirando o ar de seus pulmões. - Enfim, preciso falar com você.

- Já está falando.

- Seja gentil.

- Me desculpe. - Uma risada rouca saiu por entre seus lábios.

- Bem, ontem, depois que você foi tomar um ar, encontrei Chino. - Falou.

- Você não foi grossa com ele, não é? Todos sabemos que ele está passando por um período difícil. – Esperou uma resposta. - Eva? - Valentina perguntou em forma de alerta.

- Digamos que fui um pouco rude ao princípio, mas me lembrei que o rancor era com a bruxa má.

- Como ele está? - Valentina perguntou.

Ela havia emprestado dinheiro aos Valdés, uma enorme quantia, mas não havia sido o suficiente para que eles conseguissem pagar a hipoteca da casa onde viviam e o Estado queria tomar sua casa, lhe entregando um baixo valor por ela devido à dívida. Isso fez o senhor oferecer a casa para o Estado a troco de nada, em troca de mais alguns dias lá, tentando conseguir arrecadar o restante do dinheiro. Se conseguisse ele pagaria a hipoteca, se não conseguisse eles perderiam a casa.

Valentina já havia ido atrás do homem em troca de oferecer-lhe mais ajuda, no caso, o restante do dinheiro, porém o homem começou a fugir dela por provavelmente pensar que ela estava atrás dele pela dívida. Um dia qualquer ela chegou em frente à casa do homem com Eva, em mais uma tentativa de ajudá-lo, até que chamou e ninguém atendeu. Quando estavam prestes a ir embora foi inevitável ouvir o que a mulher, a qual ela não conhecia a face, estava dizendo.

- Essa lésbica imunda não tem vergonha na cara. Deveria perdoar a nossa dívida. Tivemos que aturar ela por horas, vai que isso é contagioso. Imagina se minha filha ficasse lésbica por beber no mesmo copo que ela bebeu! Ela... - Eva a puxou para longe dali. Não queria que sua amiga ouvisse tamanhas barbaridades.

- Já basta, Lupita! Chega com essas estupidez! - Foi a última coisa que conseguiu ouvir de Chino.

Valentina jamais voltou lá e por isso não conhecia o rosto de Lupita, no entanto, Eva fez questão de descobrir quem era a mulher e de, sempre que podia, apavorar a "bruxa má", como ela costumava chamar, ameaçando tomar-lhes a casa, ameaçando fazer os guardas invadirem o local e quebrarem tudo caso eles não agilizassem o pagamento da dívida.

Claro que ela não faria nada disso, primeiro porque precisava da autorização de Valentina, segundo porque simpatizava com Chino e terceiro porque só dizia isso para assustar a velha grosseira. - mais um de seus apelidos para a mulher.

Eva havia ficado mais do que surpresa ao ver a mulher querer dar a cabeça da filha em uma bandeja para Valentina, após alegar seu tamanho asco por lésbicas, mas não pôde fazer a mulher engolir as próprias palavras porque era uma proposta real para sua chefe, sua comandante. Foi obrigada a assumir o posto de um simples soldado que cumpria ordens e nada mais.

- Bem, a esposa dele disse que tem um jeito de pagar a dívida com você. - Disse cautelosamente.

- E como seria?

- Vou direto ao ponto.

- Por favor. - Valentina disse rindo.

- Ela quer que você perdoe a dívida em troca da mão da filha dela. - Valentina arregalou os olhos em tamanha surpresa. O silêncio se prolongou por alguns segundos antes de Valentina se pronunciar.

- Isso é um absurdo. Essa mulher só pode estar ficando louca! - Exclamou. - Eu não sou esse tipo de pessoa que aceitaria uma droga de casamento arranjado. Posso ficar sozinha para sempre, mas esse é um risco que irei correr. - Valentina soltou o ar que nem sabia que tinha prendido.

- Eu sabia que você faria a coisa certa. - Disse com um enorme sorriso.

- Eu jamais condenaria alguém a viver ao meu lado por uma merda de trato. Ninguém deve ser forçado a isso. 

- Você é a melhor, Vale. - Eva disse. - Precisamos ir à casa deles agora, avisar sobre sua resposta.

- Agora?

- Sim, ontem lhes disse que hoje iríamos lá. - Valentina apenas assentiu indo se arrumar para sair. 

[...]

- Filha, aquela mulher disse que é louca por você e que quer sua mão. Disse que está disposta a fazer tudo para que você seja feliz. - Lupita disse segurando as mãos de sua filha. - O homem que você acreditava amar é um crápula e você sabe que casamentos são arranjados, então já que não irá se casar com ele não acha que deveria se casar com Valentina? - Estavam há horas nessa conversa já.

- Mamãe...

- Eu sei que não a ama, mas ninguém ama quando se casa. Eu não amava seu pai, eu nem sequer o conhecia. É assim a vida, são assim as coisas. - Ela disse levando uma de suas mãos ao cabelo de sua filha, acariciando o local. - Pensa que há males que vem para o bem. Essa moça é rica, se importa com você e quer algo concreto com você. Além do mais nos tiraria da ruína e de uma futura miséria. Você estaria ajudando seu pai de um jeito maravilhoso.

- Não quero me casar por dinheiro, além do que, ela é uma mulher. Não que eu tenha algo contra, só não gosto de mulheres e, bem, ainda penso em Lucho. - Disse tristemente.

- Não estaria se casando por dinheiro, seria para ser feliz. Exatamente por ser uma mulher você deveria considerar essa proposta, antes que venha um velho nojento pedir sua mão e seu pai não negue. Você já está na idade de se casar.

- Ela... parece ser gentil? - Juliana perguntou cabisbaixa. Lupita assentiu.

- E muito doce e por ser mulher você não precisará sofrer tanto em sua primeira vez. Homens nobres não se importam se está a vontade ou não, após o casamento eles querem apenas estourarem seu lacre. - Juliana ficou alguns segundos em silêncio antes de voltar a falar.

- Acha que poderei ser feliz um dia? - Perguntou segurando as lágrimas. – Oh, meu Deus, mamãe, eu não quero me casar.

- Eu não queria te dizer, filha, mas se não for com ela seu pai já tem outra pessoa em mente. Ele faz para seu bem, não quer que você fique mal falada por estar solteira aos vinte e um anos. As mulheres se casam aos dezesseis. 

- Eu pensei que casaria com Lucho.

- Oh, criança, vocês namoraram somente três meses. Ele só estava te usando e mentindo quanto à essas promessas. Ele só queria seu lacre. - Juliana assentiu, lembrando de uma vez que Lucho realmente tentou tirar sua virgindade, mas foi impedido por ela. Pelo menos ele não insistiu, pensou a garota.

- Então o que preciso fazer? - Perguntou rendida a ideia. - Eu pensei que casaria com Lucho.

- Apenas finja ter interesse. O resto deixa comigo, minha bebê. - Juliana assentiu e abraçou sua mãe, finalmente se entregando ao choro compulsivo que estava preso em sua garganta. - Oh, meu amor, não chore. Você será muito feliz e de quebra ainda viveremos bem em uma casa boa na cidade. Apenas confie em sua mãe.

Over The Rainbow (Juliantina)Onde histórias criam vida. Descubra agora