Capítulo 37

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 Valentina estava há quase dez minutos parada na soleira da porta analisando cada movimento de Lúcia. A mulher preparava waffles com precisão e agilidade. Usava um avental branco por cima da camisa de botões preta que Valentina uma vez lhe presenteara e uma calça jeans comum. Seu cabelo estava preso em um coque perfeitamente alinhado enquanto os olhos não perdiam um movimento sequer de seu trabalho de mexer a massa.
 
- Deseja alguma coisa, Senhora? Estou te vendo aí. - A mulher disse sem sequer olhar para Valentina. Valentina até riria caso não estivesse tão magoada e nervosa. A mulher sempre tinha a habilidade de perceber a presença de Valentina.
 
- Você... Juliana...
 
- Respire e foque no que quer me dizer, criança. - Lúcia disse calmamente, conhecendo Valentina o suficiente para saber que ela costumava falar nada com nada quando se sentia insegura. A mais nova assentiu lentamente enquanto se aproximava.
 
- Juliana me pediu para conversar com você. - Ela disse sem fitar a mulher nos olhos.
 
- Oh, ela já acordou?
 
- Não. Ela ainda está dormindo. Tomei um banho e vim fazer o que ela me pediu ontem. - Falou. 
 
- Essa garota vale ouro. - Lúcia disse sorrindo, ainda mexendo a massa.
 
- Sim. - O sorriso de Valentina se abriu verdadeiramente.
 
- Sabia que ela que me pediu para te contar a verdade? - Lúcia disse lhe olhando pela primeira vez. - Essa garota gosta mesmo de você.
 
- Gosta? Por quê? O que ela disse? - Valentina perguntou animadamente, puxando uma cadeira e olhando atentamente para Lúcia. Juliana já lhe havia dito que era apaixonada por ela, mas saber que dizia isso para outras pessoas a deixava ainda mais segura disso. Lúcia riu e balançou a cabeça.
 
- Oh, eu não lhe direi o que ela me disse. Isso seria errado. - Ela disse sorrindo. - Mas pelo que ela disse posso garantir que ela gosta de você.
 
- Ela é incrível. - Valentina disse com os olhos brilhando. - Hey... Espere! Você está me enrolando. Não vim falar de Juliana. - Lúcia riu e lhe fitou.
 
- Não estou te enrolando, criança.
 
- Então podemos... conversar? - Lúcia assentiu. - Ótimo. Sente-se aqui comigo.
 
- Eu preciso...
 
- Depois! Quero conversar direito. - A mulher assentiu e parou o que fazia. Lavou suas mãos rapidamente e as enxugou, levando uma mão ao laço do avental e o soltando. O pendurou por ali e se aproximou, puxando uma cadeira e se sentando.
 
- Certo. O que quer saber? - Apesar de tentar parecer calma, Lúcia estava quase tremendo.
 
- Como você teve certeza que meu pai era o... ? Você sabe...
 
- Eu fugi por um mês com ele. Não me entreguei a ninguém nesse tempo. - Falou olhando para Valentina.
 
- Ele acreditou? - Lúcia negou com a cabeça.
 
- Ele aceitou me dar comida e um teto até você nascer para fazer o exame. - Confessou. - No dia que você nasceu... - O sorriso de Lúcia se abriu e seus olhos brilharam. - Chovia muito. Me lembro de ter medo do futuro, mas aí escutei seu chorinho, filha... - Ela tentou segurar na mão de Valentina, mas a mesma recuou. - E então eu soube que não importava mais nada desde que você estivesse comigo.
 
- Então por que nunca me disse? - Era mágoa em sua voz.
 
- Após o exame que comprovou ao seu pai que você era filha dele... - Ela limpou a garganta. - Ele disse que eu deveria ir embora. Ele sempre dizia isso durante a gravidez, mas eu nunca levei a sério.
 
- E o que você fez? - Valentina perguntou curiosa.
 
- Implorei. - Uma lágrima solitária rolou de seus olhos, até ela enxugar a mesma. - Me ajoelhei, me humilhei, mas ele continuava dizendo que eu não seria um bom exemplo de mãe. - Falou e logo respirou fundo. - Então me propus a trabalhar de graça para ele. Ele só aceitou depois que jurei nunca te revelar quem eu era.
 
O silêncio predominou o lugar. Valentina não sabia o que pensar e nem o que dizer, não podia acreditar no que seu pai havia feito.
 
- Você trabalhou de graça todos aqueles anos? - Perguntou chocada, vendo Lúcia assentir.
 
- Comecei a receber apenas depois que ele faleceu. Não queria levantar suspeitas para a senhora. - Lúcia disse abaixando a cabeça.
 
- Por quê nunca me contou? Depois que ele morreu você poderia...
 
- O que eu diria? - Lúcia perguntou firme. - "Hey, sou sua mãe, a ex prostituta que seu pai fez questão de denegrir a imagem durante toda a vida."
 
- O que você fazia não iria interferir em nosso relacionamento, mãe! - Valentina gritou, fazendo Lúcia arregalar os olhos, para sorrir logo depois. Lágrimas de felicidade rolavam de seus olhos ao ouvir Valentina lhe chamar de mãe.
 
- Quero que saiba de algo. Eu jamais desejei fazer o que fazia no passado. - Esclareceu. - Meu tio me forçava e me espancava caso eu não fizesse. - De seus olhos não parava de descer lágrimas. - Tentei fugir várias vezes, mas ele era muito conhecido, sempre lhe diziam onde eu estava... Eu jamais quis... Acredite em mim, eu nunca quis...
 
- Eu acredito! - Valentina disse, estendendo a mão para segurar a de Lúcia. - Posso te pedir algo? - Lúcia assentiu. - Poderia... me abraçar? Igual quando fazia quando eu tinha quatro anos?
 
- Você lembra? - Lúcia perguntou chocada.
 
- Jamais esqueceria. - Ao ouvir isso Lúcia abraçou forte sua filha. Sentir o cheiro de seu neném já crescido era maravilhoso, mas a sensação de saber que Valentina finalmente sabia era libertadora. - Eu sempre te considerei uma mãe, de qualquer forma. - Valentina sussurrou, fazendo Lúcia chorar ainda mais. - Desculpe fugir de você.
 
- Oh, criança. Filha, minha filha... - Disse. - Eu que lhe devo desculpas. Eu te amo tanto, meu neném!
 
- Também te amo... mãe! - Lúcia havia sonhado por anos com o som dessas palavras sendo proferidas por Valentina para ela, mas a realidade era ainda mais cativante.
 
- E que tal se prepararmos uma bandeja especial de café da manhã para a sua esposa, hm? Acho que lhe devo uma vida de favores.
 
- Ótima ideia! - Valentina disse, dando um beijo no rosto de Lúcia. - E, mãe...
 
- Sim?
 
- Obrigada por nunca ter saído do meu lado. - Lúcia sorriu emocionada.
 
- Juliana tinha a razão, afinal.
 
- Em quê? - Perguntou arqueando uma sobrancelha.
 
- Você é mesmo madura e quero que saiba que me enche de orgulho, criança. - Valentina abriu um sorriso sincero ao ouvir aquilo.
 
- Senti sua falta esses dias.
 
- Eu também, filha. Eu também.

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e vamos de maratonazinha :)))

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nove capítulos? é, meus amores, nove! vocês venceram.

Over The Rainbow (Juliantina)Onde histórias criam vida. Descubra agora