Capítulo 42

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O cheiro das flores do campo, mesclado com aquelas ruas de terra e grama para todos os lados fizeram Nayeli entortar o nariz. Como alguém conseguia viver em lugares tão singelos assim?
 
Tinha repulsa a esse tipo de gente que amava a natureza e blá, blá, blá. Para ela eram apenas um bando de caipiras ignorantes. Esse tipo de pessoa não devia se misturar com os nobres de forma alguma. A única pessoa dessa classe que sentira carinho era Angelique, mas apenas porque a mulher ajudou a lhe criar.
 
Respirou fundo irritada pelo ambiente, mas deu mais alguns passos e bateu na porta. Não demorou muito para ouvir a voz conhecida gritar um "já vai" e esperou impaciente.
 
- Sim? - A mulher perguntou, ajeitando a postura ao ver que se tratava de Nayeli.
 
- Olá, senhora Valdés! - Ela disse sorrindo falsamente.
 
- Eu sabia que Juliana iria me complacer e se penalizar por ter nos feito sair de lá. - A mulher disse rindo vitoriosa. - Claro que não foi ela. A ingênua jamais expulsaria alguém, mas Chino ficou uma fera. - Esclareceu, vendo Nayeli lhe olhar confusa. - Enfim... Agora que sei que a casa ainda é minha irei me mudar hoje mesmo.
 
- Sinto dizer, mas não vim a mando de Valentina ou Juliana. Tenho cara de empregada ou de pombo correio por acaso? - Nayeli perguntou entediada.
 
- O que quer então? - Lupita disse colocando a expressão gélida em seu rosto novamente.
 
- Te fazer uma pergunta. 
 
- E por que ainda não fez? Está achando que tenho todo o tempo do mundo? - Nayeli riu e negou com a cabeça. A mulher havia passado uma semana na mesma casa que ela, mas jamais trocaram um diálogo. Lupita era mais parecida com ela do que poderia imaginar.
 
- É sobre o ex da Juliana. Como ele era? Digo, fisicamente. - Nayeli havia levantado suspeitas há algum tempo. Não era tão ingênua como Valentina e não perderia a oportunidade de ir a fundo nisso.
 
- Para que quer saber?
 
- Digamos que... acho que ele está em casa, usando outro nome. - Falou. - A questão é: Preciso saber se é ele ou não.
 
- E o que eu ganho afundando o casamento da minha filha, sendo que eu que fiz aquilo acontecer? - Perguntou cruzando os braços e Nayeli abriu seu maior sorriso.
 
- Não creio que esteja sendo beneficiada com o casamento de sua filha, certo? - Perguntou, vendo Lupita se mexer inquieta. - Preciso separar Valentina de Juliana para que eu possa casar com a herdeira de tudo. - Lupita gargalhou alto ao ouvir aquilo.
 
- Não fale estupidez, criança. Por que eu te entregaria meu pote de ouro? 
 
- Porque seu pote se esvaziou, querida. - Foi atrevida em sua frase. - Mas eu costumo ser generosa com as pessoas. Eu poderia te comprar a melhor casa da cidade e te dar uma quantia razoável de dinheiro por mês. - Ofereceu. - Não quero Valentina só pelo dinheiro, então posso ser solidária com quem me ajudar. - Disse olhando em volta. - Vou me casar com ela com ou sem sua ajuda. A diferença é que se me ajudar você se beneficia e eu consigo meu propósito mais rápido. - A mais velha bufou ao ouvir aquilo.
 
- Cabelos castanhos escuros, olhos castanhos, tamanho alto e pele clara. Mais escuro que Valentina e mais claro que Juliana. - Nayeli sorriu ao confirmar suas suspeitas.
 
- E ponto para nós, Valdés. - Nayeli disse sorrindo. - Agora só preciso desmascarar sua filha. Valentina costuma ser idiota com isso de confiança. Não é qualquer cena simples de beijo que a faria acreditar. Ela ficaria para ver a cena toda, a conheço. Mais estúpida impossível. - Concluiu revirando os olhos.
 
- Acho que posso te ajudar com isso. Digamos que... sou boa em persuadir as pessoas.
 
- Seu saldo está aumentando comigo. - Nayeli disse sorrindo triunfante.
 
- Bem, infelizmente Lucho é outro tapado que leva a sério isso de integridade. Então não tente suborná-lo. - Explicou. - Terá que fazer o idiota cair na mentira também. - Falou pensativa. 
 
- E Valentina precisa estar bêbada. Bêbada ela fica mais intensa e não pensa direito. - Nayeli disse. - Acha que Juliana está tendo um caso com ele?
 
- Não. Aquela besta se apaixonou de verdade pela esposa. A mãe de Mariana me contou. - Disse negando com a cabeça. - Vai usar a festa de hoje?
 
- É a minha grande noite. - Nayeli respondeu sorrindo.
 
- Então já tenho um plano inicial. O resto você desenvolve estando lá. A ingrata da minha filha não me convida mais para as festas. - Falou irritada.
 
- Sou toda ouvidos, senhora Valdés.
 
[...]
 
Algumas horas depois.
 
Lucho se arrumava para a festa na mansão Carvajal, nesse momento terminava de fazer o nó em sua gravata. Estava disposto a partir naquela mesma noite, apenas se desculparia com Juliana pelas atrocidades que lhe falara. Seus olhos estavam focados em seu reflexo no espelho, contudo, o barulho de algo roçando o chão lhe prendera a atenção.
 
Caminhou até a porta e reparou o papel branco ali. Confuso, se abaixou e capturou o papel em suas mãos. Viu que era um bilhete e não aguentou a curiosidade, abrindo e começando a ler.
 

"Querido Lucho, eu sei que tenho sido uma idiota em ignorar meu coração, mas hoje caí na realidade. E essa realidade diz que sempre te amei, desde o dia onde seus olhos se encontraram com os meus quando você foi comprar frutas na barraca da minha mãe, se lembra?"
 

O homem sorriu, assentindo sozinho para o papel. Não conhecia a letra de Juliana, mas julgara ser bastante delicada. 
 

"Não posso pedir o divórcio, Valentina é uma boa mulher, mas fica agressiva quando as coisas não saem do seu jeito e justamente por isso sigo dizendo a ela que a amo, sendo que meu coração pertence só a você.

Te ofereço uma saída, poderíamos fugir juntos. Me encontre na biblioteca as vinte e três horas se ainda estiver disposto a ficar comigo.

Com amor, sua Juliana."

- Eu sabia que você não poderia ter me esquecido em tão pouco tempo, meu amor. - Ele disse beijando o papel. Sorria para os ventos e olhou em seu relógio. Marcava sete e trinta e dois da noite. Em menos de quatro horas sua vida voltaria ao normal. Juliana e ele juntos.

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6/9

Não me matem...😬😬😬

Over The Rainbow (Juliantina)Onde histórias criam vida. Descubra agora