Capítulo 47

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Aquela madrugada havia sido cálida, com a temperatura amena e agradável, no entanto o friozinho das cinco horas da manhã atingiu o quarto de Valentina e Juliana, fazendo a mais nova se encolher na cama, já que Valentina não estava nela. A mais velha a olhou se aninhando em seu próprio corpo e suspirou, ignorando a vontade de abrigá-la em seus braços e voltou ao trabalho. A cada peça colocada dentro da mala preta Valentina se via mais confusa. Como poderia estar indo contra seu instinto? Juliana parecia tão sincera ao dizer que não havia lhe enganado.
 
Sentia o efeito do álcool desaparecendo conforme as horas iam passando e por fim colocou a última peça de Juliana na bolsa, fechando o zíper da mesma e voltando a olhar para a menor. Se aproximou da cama e se permitiu admirar a beleza de Juliana sem a presença de nenhuma maquiagem.
 
O nariz fino combinava com o formato delicado de seu rosto e seus longos cílios. Sua boca rosada era o toque final para aquela vista purificada de uma Juliana ressonando pacificamente, com alguns fios escuros de cabelos jogados sobre seu rosto. Quem a visse assim jamais diria que havia dormido entre soluços de um choro contido, enquanto abraçava sua esposa após uma foda intensa.

Valentina entortou a boca ao lembrar do que Juliana havia proposto e, apesar de ter aceitado, sabia que não importava o jeito ou as palavras usadas. Com Juliana sempre faria amor; mesmo na agressividade de palavras de baixo calão; mesmo nos apertos intensos e excesso de sensualidade; mesmo preenchida de raiva e de dor; mesmo trepando, ainda assim faziam amor. Porque ela a amava, da forma mais pura e sincera que alguém poderia amar uma pessoa. 
 
A pele pálida estava exposta e por isso Valentina se inclinou, puxando o lençol mais para cima, tratando de cobrir sua esposa vagarosamente para não acordá-la. Suspirou ao lembrar de como havia conquistado Juliana paulatinamente no passado e se questionou o fato de se realmente tinha realizado tal proeza.
 
Colocou um roupão felpudo no lugar de seu robe, afinal estava friozinho àquela hora da noite, e vestiu suas pantufas, olhando mais uma vez para Juliana antes de sair do quarto.
 
Desceu as escadas que davam na cozinha, ouvindo ainda o som da música vinda do salão principal. Àquele horário geralmente só sobrava ali os bêbados deprimidos e Valentina pensou que poderia se encaixar bem nesse termo.
 
Adentrou a cozinha e dali pôde ouvir o barulho dos grilos que vinha do lado de fora. Sentiu um aperto no coração ao lembrar da risada de Juliana sempre que comentava sobre como amava tal ruído. 
 
Caminhou até o fogão e tomou um susto ao ouvir a voz conhecida ressoar no lugar.
 
- O que faz acordada a essa hora, minha filha? - Lúcia perguntou, puxando uma cadeira e se sentando.
 
- Apenas... Acho que perdi o sono. - Valentina disse sorrindo fraco para sua mãe. As olheiras e os olhos avermelhados fizeram Lúcia perceber que sua filha havia chorado.
 
- O que houve, meu amor? - Lúcia perguntou preocupada. 
 
- Nada, mãe. O que faz aqui a essa hora? - Perguntou lhe encarando.
 
- Eu que limpo a bagunça, se lembra? - Ela perguntou rindo. - Agora sente aqui e me conte o porquê de estar parecendo um pedaço de lixo ambulante. - Valentina suspirou e caminhou até ela, se sentando ao seu lado.
 
- Acho que bebi demais. Vim tomar um pouco de café para ver se me ajuda a recobrar a completa sobriedade. - Disse sem ânimo evidente.
 
- Tudo bem, agora me conte o motivo de ter se embebedado. - Lúcia disse segurando uma das mãos de sua filha e começou uma carícia confortante. Sabia que Valentina não era do tipo que bebia até perder as botas.
 
- Juliana nunca me amou de verdade. - Falou baixinho. - Mas qual a novidade, não é? Quem amaria? - Perguntou sentindo um nó se formar em sua garganta. 
 
- Oh, querida. A bebida te pegou forte mesmo. - Lúcia disse negando com a cabeça. - Essa é a maior besteira que já te ouvi dizer em anos.
 
- Quem dera fosse besteira. - Valentina disse rindo desgostosa. - O ex dela estava embaixo do meu nariz todo esse tempo e eu, estúpida, não havia notado. - Explicou. - Eles iriam fugir juntos, mãe. Hoje. - Lúcia franziu o cenho com a informação. - Pois é... - Valentina disse ao ver a expressão da mãe. - E ainda... ainda tiveram um evidente momento íntimo na biblioteca enquanto eu trancava os quartos. 
 
- Íntimo?
 
- Sexo, mãe. - Valentina foi direta e Lúcia arregalou os olhos.
 
- Bem, então essa é a maior estupidez ocorrida no ano.
 
- Sim... - Valentina disse abaixando a cabeça tristemente. - Ainda não acredito que ela pôde fazer isso comigo.
 
- Eu estava me referindo a você acreditar nesse monte de besteiras. - Lúcia disse. - Quem te disse que eles transaram e que fugiriam? Juliana?
 
- Não, mas ouvi eles conversando. 
 
- E ela disse com todas as letras isso? - Valentina pensou um pouco e por fim respondeu. 
 
- Não, mas jamais negou nada. - Lúcia bufou e negou com a cabeça, irritada.
 
- Por Deus, você sempre foi tão inteligente e agora está parecendo que puxou os genes de seu pai, de tão estúpida. - Falou.
 
- Você não ouviu o que eu ouvi para estar me julgando. - Valentina disse irritada.
 
- Filhota, você está me dizendo que hoje... durante a festa... Eles transaram, hm?
 
- Sim.
 
- Impossível. - Lúcia disse. - Estive todo o tempo lá servindo. Mantive os olhos nela a noite inteira. - Falou. - Ficou com Mariana o tempo inteiro ao lado da mesa de taças e só saiu quando Nayeli a chamou, poucos minutos depois de você subir. - Falou olhando para Valentina, que franziu o cenho.
 
- Eu não entendo... Eles não poderiam ter tido sexo em tão pouco tempo... - Valentina deduziu.
 
- E mesmo que eu não tivesse te dado essa informação. Por que Juliana escolheria fugir, viver foragida, quando você lhe ofereceu o divórcio e uma casa? - Lúcia perguntou, se lembrando do que a filha havia lhe contado em uma de suas conversas. 
 
- Não sei. Algum plano para ter dinheiro, talvez.
 
- Dinheiro? Que dinheiro a pobre moça teria se fugisse hoje, querida? - Perguntou lhe lançando um olhar doce. - Você bebeu e quando bebe não pensa direito.
 
- Será que fui injusta? - Valentina perguntou com horror nos olhos, ainda se sentia zonza pelo álcool.
 
- Sabe por que te contei que sou sua mãe?
 
- Porque Juliana te pediu. Você já disse.
 
- E um simples pedido dela obviamente me faria resolver revelar o maior segredo da minha vida, certo? - Perguntou e Valentina voltou a franzir o cenho.
 
- É verdade... - Disse parando para pensar. - Como ela te convenceu? - Lúcia abriu um sorriso satisfeito, afinal era nisso que ela queria chegar.
 
- Ela disse que não queria te esconder nada, filha. Que estavam começando algo e ela queria começar do jeito certo. - Falou. - Não lembro bem quais foram as exatas palavras que ela usou, mas a frase incluía algo como você ser benevolente, doce, delicada e a pessoa mais incrível que ela conhecia. - Revelou. - Oh, não posso me esquecer da parte onde ela assumiu que era perdidamente apaixonada por você. Sem dúvida minha parte preferida. - Lúcia disse rindo. - Os olhos daquela garota transbordaram tanto amor que eu não pude me submeter a estragar o casamento de vocês com uma mentira que não envolvia Juliana. Uma mentira que era minha.
 
- Lucho não parecia estar mentindo. - Valentina disse como se fosse um grande argumento. 
 
- E Juliana, filha? Ela parecia? - Valentina mordeu seu lábio inferior. - Seu silêncio já respondeu minha pergunta. - Falou. - Vai para a sua cama, durma, descanse bem e amanhã, quando acordar, volte a analisar os fatos. Agora você ainda está bêbada demais para se organizar interiormente. - Lúcia disse e Valentina assentiu, beijando o rosto de sua mãe.
 
- Obrigada, mãe. Você é a melhor. - E, após receber um sorriso genuíno de sua mãe, subiu as escadas, abrindo a porta de seu quarto e a encostando lentamente para não acordar Juliana.
 
Retirou seu roupão e se aproximou da cama. Juliana ainda estava aninhada no próprio corpo; seu joelho quase relava sua testa e Valentina deduziu que Juliana realmente estava com frio.
 
"Eu te amo, Valentina. [...] Por favor, acredita em mim."
 
A voz de Juliana ecoava em sua cabeça, junto com a lembrança de seus olhos brilhando ao pronunciar as palavras. Bufou, incapaz de raciocinar e engatinhou na cama, retirando o lençol de Juliana, se aninhando em seus braços na intenção de aquecê-la e depositando um beijo em sua clavícula antes de deitar a cabeça sobre seu peito e voltar a cobrir ambas com o lençol. Não sabia o que pensar, mas independentemente do que decidiria no dia seguinte, naquele momento apenas se permitiu cair no sono no calor do corpo da única pessoa que sempre fora capaz de lhe trazer paz:

Juliana.
 
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Eu vou postar uma estória nova aqui que estou pensando em continuar. Vou postar o primeiro capítulo e se vocês puderem, vão lá no meu perfil dá uma olha. :)

Over The Rainbow (Juliantina)Onde histórias criam vida. Descubra agora