Capítulo 17

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Juliana levava, naquele momento, sua xícara de chá até os lábios e provava o sabor forte de café recém preparado. Antes disso se permitiu inalar o aroma e soprar vagarosamente o vapor que saía do líquido.

- Está calma demais. - Tessa disse desconfiada. - Parece até deslumbrada.

- Minha melhor amiga está a caminho, claro que estou feliz. - Juliana disse, colocando a xícara sobre o pires e os colocou na mesa de centro. 

- Não gosta de nossa companhia? - Tessa fingiu tristeza e Juliana sorriu.

- Não seja boba, Tessa. É só que ela é como uma irmã para mim e gosto de tê-la presente em minha vida.

- Ela deveria ter vindo antes. Estou ansiosa para conhecê-la. - Renata disse.

- Só você. - Nayeli falou secamente.

- Ela já deve estar chegando. - Tessa disse, ignorando, como sempre, as malcriações de sua irmã.

- Eu ainda acho que ela não vem. - Eva disse verificando seu relógio de pulso. Era um domingo, então todas ali estavam de folga. Juliana convidou Mariana para almoçar em sua casa cinco dias após ter visto sua amiga e ela aceitou o convite com gosto, no entanto, Juliana pedira que ela fosse mais cedo para que conversassem e para apresentá-la para suas amigas.

- É claro que virá. - Valentina disse se sentando ao lado de Juliana no sofá.

- Falando no demônio... - Nayeli disse, desviando seus olhos de suas unhas ao ouvir o barulho da carroceria parando em frente ao local. A imagem de Mariana fez Juliana sorrir animada. Estava imensamente feliz por Valentina não fazer ela ter que abrir mão de suas amizades. Se levantou e foi em direção à sua amiga. - Ela se veste assim? Que horror! - Nayeli censurou ao ver a amiga de Juliana vestida em uma roupa humilde. 

- Respeito, Nayeli. - Tessa pediu censurando-a com veemência e a garota bufou.

- Gente, quero que conheçam minha melhor amiga, Mariana. - Juliana disse com o maior dos sorrisos. 

- Um prazer, meninas. - A garota disse sorrindo despojada, nunca foi do tipo de pessoa tímida. Os olhos de Juliana foram para Nayeli, quem se levantou na hora.

- O prazer é nosso, sente-se, por favor. - Nayeli disse em um tom extremamente educado e gentil. Juliana olhou surpresa para Nayeli; a garota oferecer seu lugar para alguém era mais do que um milagre.

- Obrigada. - Mariana agradeceu. Juliana finalmente entendeu o propósito do ato ao ver Nayeli caminhando e se sentando ao lado de Valentina, para logo em seguida deitar sua cabeça sobre as pernas da garota.

Juliana odiava o fato de Valentina nunca dizer não para Nayeli. Claro que a moça tampouco pedia beijos ou algo assim, mas mesmo assim, Valentina permitia Nayeli lhe abraçar do nada, deitar em seu colo, acariciar seus cabelos.

Não é que sentisse ciúmes, mas era sua esposa ali. Não era bom experimentar a sensação de todos estarem te olhando como se você fosse uma corna ciente.

Juliana queria pedir a Valentina que parasse de deixar que Nayeli fizesse o que lhe desse vontade, contudo não se sentia no direito. Não exercia o papel de esposa, portanto não achava correto cobrar algo de Valentina. Se sua esposa quisesse ter um caso com Nayeli poderia ela reclamar? Claro que não.

Valentina havia deixado claro que via Nayeli como irmã, mas e se a carência lhe batesse a porta qualquer dia? Juliana não esperava que Valentina nunca mais voltasse a beijar alguém, afinal, o casamento delas era uma fachada. Valentina, em um ato de piedade, lhe salvara das garras de algum tarado por aí, mas deveria ela abrir mão de sua vida assim?

Juliana só queria que uma barreira magnética fosse capaz de mandar Nayeli para o mais longe possível de Valentina. Que tipo de idiota se insinua para alguém casado? E, pior... na frente de todos.

Nayeli. Esse tipo de idiota, pois naquele exato momento a garota brincava com a bainha de sua blusa, deixando sua barriga completamente exposta. A garota tampouco usava sutiã, deixando à mostra o formato dos seios e do bico do mesmo.

Valentina não se atreveria a olhar, pensou ela, mas quase morreu entalada na própria saliva ao ver os olhos de Valentina desviarem para a região. Poderia jurar que estava vermelha, mas quem se importava? Valentina estava olhando para seios alheios.

Os de Nayeli.

Na frente de Juliana.

Descaradamente.

- ... E foi isso, Juliana. - Ouviu a voz de Mariana e voltou a realidade.

- Eu?

- Não ouviu nada do que eu disse, certo? - A garota perguntou rindo e Juliana assentiu, envergonhada.

- Desculpe. É que estava pensando... - Falou caminhando até Valentina. - Poderia dar licença, querida? - Perguntou sorrindo falsamente para Nayeli, quem se sentou novamente, mas não deixou lugar para Juliana se sentar no sofá, sorrindo cinicamente.

- Creio que não cabe. - Nayeli disse com uma falsa ingenuidade.

- Não tem problema. Para isso tenho o colo da minha esposa. - disse se sentando no colo de Valentina, enlaçando seus braços no pescoço da mais velha, pegando a garota de surpresa. - Obrigada mesmo assim. - Deu um sorriso triunfante antes de continuar. - Como eu dizia... Conversamos horas aquele dia, mas minha esposa nem sequer te deu atenção.

- Oh, eu entendo totalmente que ela seja uma mulher ocupada. - Mariana disse e Juliana negou com a cabeça.

- De jeito nenhum. - Falou se inclinando e deixando um beijo no rosto de sua esposa. Valentina se viu um tanto aturdida ao inalar o cheiro do shampoo de Juliana. O aroma adentrava-lhe as narinas fazendo-a se perguntar como Juliana conseguia ser tão cheirosa. - Valentina é a mulher mais atenciosa que conheço. Faço questão que se conheçam, afinal ela adora dar atenção para as pessoas, não é, amor?

Valentina engoliu em seco diante do apelido, mas não por alegria, igual deveria ser, e sim por medo. Algo no jeito de Juliana lhe dizia que ela havia feito algo muito, muito errado.

- Sinto muito, senhorita. No outro dia quis apenas deixar vocês conversarem no sossego do ambiente para colocarem os assuntos em dia. - Se retratou. - Minha esposa fala muito bem da senhorita e pensei que deveriam querer matar a saudade. Em momento algum quis parecer desinteressada de conhecer as amizades de minha esposa e perdoe-me se assim fiz parecer.

- Não tem problema, não há necessidade para desculpar-se. - Mariana disse e Valentina sorriu-lhe, porém, algo na expressão solene de Juliana lhe dizia que as coisas ainda não estavam bem.


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VOLTEEEEEEEIIIII

Over The Rainbow (Juliantina)Onde histórias criam vida. Descubra agora