- Você não deveria ter acordado as patroas, homem teimoso. - Angelique disse negando com a cabeça.
- Ele fez certo em nos avisar. Se o doutor dissesse que você precisava ir ao hospital, eu precisaria mandar alguém preparar a carroceria para levá-la. - Valentina disse. Juliana apenas assentiu, estava abraçando sua esposa por trás, com a cabeça apoiada em seu ombro.
- Mandei levar seu sangue para análise e, por se tratar de alguém daqui da casa principal, em algumas horas já saberemos o que houve, mas aparentemente foi algum estresse que sofreu. Dores no peito não são um bom sinal. - O doutor Harding disse.
- Eu estou bem. - Angelique disse. - Me levantei apenas para tomar um copo de água e me senti mal, mas foi algo passageiro.
- Se você não tivesse caído na frente de meu quarto eu não teria ouvido. - Camilo disse, acariciando o braço da mulher.
- Enquanto isso precisa de repouso. São algumas horas só até termos o resultado, mas mesmo assim. É sempre bom prevenir.
- Ótimo. Então já podem voltar a dormir. Eu ficarei bem. - Angelique disse, mas ninguém se moveu. - Ouviram o homem. Preciso descansar. - Falou firme, elevando a voz e todos riram, assentindo.
- Não pretendo sair daqui. - Valentina disse se desvencilhando de Juliana, se aproximou e segurando a mão da mulher. Angelique lhe olhou com ternura.
- Oh, minha menina. - Disse enquanto uma de suas mãos seguravam o rosto de Valentina. - Sempre tão preocupada. - Sorriu. - Mas eu ficarei bem, foi só um susto, não se preocupe. No momento eu só preciso que me faça um favor.
- Qualquer um.
- Volte para seu quarto, para o aconchego de sua esposa. Pela manhã nos vemos. - Valentina a olhou e entortou a boca, fazendo Angelique rir alto. - Não seja desobediente.
-- Tudo bem. - Se rendeu. - Volto logo pela manhã ou assim que o doutor tiver os resultados. - Valentina disse dando um beijo na testa de Angelique. - Se cuida. - Acariciou a mão da mulher uma última vez.
O doutor saiu, junto com os outros empregados.
- Boa noite, meninas! - Angelique disse e Valentina segurou os dedos de sua esposa.
- Vai na frente, quero trocar uma palavrinha com Angelique antes. Já te alcanço. - Juliana disse e Valentina assentiu, se inclinando e fazendo Juliana segurar seu rosto enquanto suas bocas se encontravam em um terno encostar de lábios.
- Boa noite, Angelique. - Valentina disse, saindo do quarto logo em seguida. Juliana caminhou até a beira da cama da mulher, que sorria.
- Você é mais esperta do que pensei, criança. - Ela disse e Juliana sorriu compreensiva. - Como descobriu?
- Bem, primeiro desconfiei porque sempre que Valentina menciona a mãe dela você fica pálida. Segundo porque você a olha de uma forma única. Terceiro porque comecei a reparar bem e os olhos são os mesmos, alguns traços também, não precisa ser muito gênio para descobrir depois de se estar desconfiada e, bem, por último... você esqueceu de fechar a caixa de lembranças dela, que está em cima de sua cômoda. - Disse apontando para a cômoda marrom escura do lugar. Angelique arregalou os olhos e Juliana logo segurou sua mão. - Ela não reparou, não se preocupe.
- Sou uma covarde. - A mulher disse segurando as lágrimas.
- Por que nunca a contou? Por que diz se chamar Angelique quando na verdade se chama Lucia?
- O pai dela aceitou me deixar perto de Valentina depois de tanto que insisti, mas somente sob essas condições.
- Mas depois que ele se foi...
- Oh, querida, Angelique é a empregada favorita de Valentina. Ela me adora, me mima, me obedece e me respeita; me valoriza e cuida de mim, me permite cuidar dela também. - Disse sorrindo orgulhosa. - Lúcia é só... - Suspirou. - Só uma prostituta, que escondeu a verdade da filha a vida inteira. Ela me odiaria! Então para que dizer a verdade e só trazer dor e destruição?
- Ela merece saber. - Juliana disse, apesar de entender o ponto de vista da mulher mais velha. - Valentina não te julgaria pelo seu passado.
- Não quer mentir para ela, hm? - Lúcia disse sorrindo e Juliana assentiu timidamente.
- Ela e eu estamos nos dando bem e eu não queria construir nada em cima de mentiras. - Confessou cabisbaixa.
- Você aprendeu a amá-la, estou errada? - Juliana corou e mordeu seu lábio inferior.
- Não sei se é amor. - Lúcia deixou uma risada gostosa escapar de seus lábios.
- Diga-me, criança... Como se sente quando está com ela? - Os olhos de Juliana brilharam ao lembrar-se de Valentina.
- Plena. - Juliana respondeu com um sorriso brincando em seus lábios. - E ao mesmo tempo perdida. É como se com ela eu me achasse e me perdesse ao mesmo tempo. - Constatou. - Quando ela vai trabalhar me sinto... vazia, mas quando ela volta não me contenho de tanta alegria. - Disse mordendo seu lábio inferior. - Também tenho sentimentos ruins, como quando ela está perto de Nayeli. Tenho vontade de esganá-la por ser tão sonsa e não saber dizer não à aquela garota. - Falou trincando o maxilar e Lúcia riu, sabendo que se tratava de ciúmes.
- Voc...
- Ela tem aqueles olhos azuis, que me olham com tanto afeto que tenho vontade de mergulhar neles e nunca mais sair daquelas águas. – Lúcia sorriu ao ouvir o comentário da nora. - Mas não é só a beleza que me prende, sabe? Algo na paciência e doçura dela me cativa. Valentina é doce, delicada, paciente e benevolente. - Disse com sinceridade. - É madura, responsável, gentil, honesta... Não consigo reunir todas as qualidades, mas sei que tem muito mais.
- E ainda diz que não é amor...
- Acho que é cedo demais para dizer que é amor, mas com certeza estou apaixonada por ela. - Juliana confessou. - Perdidamente apaixonada e só agora posso ver isso. Precisei quase perdê-la para perceber isso.
- Por que quase a perdeu? – Lúcia perguntou curiosa.
- Digamos que desconfiei de algo estúpido.
- Bem, não volte a cometer o mesmo erro. Valentina é uma espécie rara de ser humano bondoso. Não se acha muitos dela por aí. – Lúcia disse, segurando a mão de Juliana com uma mão e dando leves batidinhas com a outra. - Me responda algo, criança... Se Valentina te dissesse que é infeliz ao seu lado, que deseja a separação por estar apaixonada por outra pessoa, você deixaria ela livre? - Juliana sentiu seu peito contrair ao imaginar a cena.
- Eu... insistiria, lutaria por ela. Não posso deixá-la ir tão fácil assim. - Falou. – Mas se nada do que eu fizesse adiantasse... - Entortou a boca e suspirou. - Bem, eu quero muito que Valentina seja feliz, Lúcia. Ela merece. - Sussurrou.
- Então se divorciaria?
- Sim. - Confessou em tom baixo. - Ela merece a felicidade mais do que qualquer pessoa no mundo e eu não tenho o direito de prendê-la; de privá-la de ser feliz.
- Então escute o que vou lhe dizer, querida. – Lúcia disse, encarando-a nos olhos. - A paixão é intensa, ardente, algo incrível, mas também é egoísta. - Falou. - Você até pode estar apaixonada por Valentina também, mas seu amor por ela está presente. Você está disposta a abrir mão dela para deixá-la ser feliz com outra pessoa, mesmo a querendo. – Apontou os fatos. - Só o amor é generoso assim; só o amor é capaz de dar essa liberdade, apesar da dor. - Juliana lhe fitou compenetrada. - O amor não é questão de tempo; não é sobre ser cedo demais ou não; é sobre sentir, se dar; é sobre o respeito mútuo e o desejo de sempre querer bem o outro; é sobre não ser egoísta. Você está sim apaixonada por ela. Essas coisas de frio na barriga, ansiedade, saudade, desespero, desejo intenso e ciúmes infundado é coisa da paixão. O amor é mais maduro, mas apesar de ter todos os sintomas da paixão, você a ama. - Falou convicta. - E, querida, amar alguém e estar apaixonada por essa mesma pessoa ao mesmo tempo é algo incrível. Nada mais bonito do que a mistura dos dois.
- Uau. - Juliana disse analisando cada palavra dita por Lúcia.
- Vocês merecem ser felizes juntas já que partilham do mesmo sentimento. - Disse sorrindo, com lágrimas nos olhos. – Valentina nunca foi tão feliz como tem sido ultimamente e eu não vou me permitir acabar com o casamento de vocês. - Ela disse. - Jamais me perdoaria... Então vou contar a verdade a ela, só me dê um tempo.
- Está ótimo para mim. - Juliana disse sorrindo. - E, Lúcia... Ela não te odiaria jamais. Valentina é a pessoa mais preciosa que conheço na vida. Ela pode até ficar com raiva por um tempo, mas vai te entender.
- Assim espero, querida. - Disse em um tom fraterno. - Agora volte para suas atividades sexuais. – Juliana arregalou os olhos e olhou para a mulher, que gargalhou.
- Nós não... - Sua voz era puro embaraço.
- Oh, por favor... Ambas chegaram aqui com os robes totalmente tortos no corpo, com os cabelos desgrenhados e com os seios avisando que, se não estavam com frio... - Deu um olhar sugestivo sem dizer mais nada e Juliana enrubesceu ainda mais.
- Não acho que esse seja um assunto apropriado a se discutir com a minha sogra. - Juliana disse timidamente e os olhos de Lúcia brilharam ao ouvir ser chamada de sogra.
- Certo. Boa noite, querida. - Juliana abriu o maior dos sorrisos.
[...]
- O que queria com ela?
- Segredo. - Juliana disse ao fechar a porta. Retirou seu robe, que havia posto por cima da camisola curta, e se aninhou entre os braços de Valentina assim que subiu na cama.
- Vai me esconder as coisas então? - Valentina disse em um falso tom de surpresa.
- Nunca! Quando ela decidir te contar você saberá, tudo bem? - Falou, dando um beijo no rosto de Valentina.
- E por que você já não conta?
- Porque esse é um assunto que não me diz respeito. Agora vamos dormir porque já, já o médico volta e estou com sono. - Valentina assentiu, deixando um beijo na testa de sua esposa antes de apagar a luz do abajur e se aconchegar mais com Juliana em seus braços._________________________________________
Oioi.
Saudades!!
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Over The Rainbow (Juliantina)
FanfictionOver the Rainbow é uma história romântica que se passa no século XX. A protagonista Juliana, contrariando as regras da aristocracia a que pertence, se apaixona por Lucho Sánchez, um camponês da classe baixa, mas sua mãe, Lupita, deseja que a filha c...