- Criança, você está bem? - Lúcia perguntou ao ver Juliana entrar quase sem cor no ambiente. Nayeli estava sentada à mesa comendo cereal.
- Deve ser o calor... - Juliana disse forçando um sorriso.
- Está bem mesmo? - Nayeli perguntou lhe fitando curiosa. - Digo, não que eu me importe.
- Estou. - Juliana disse com o olhar perdido em algum ponto da mesa. Jamais imaginaria que se apaixonaria tanto por Valentina e que desejaria que Lucho desaparece de sua vida, mas a vida surpreende, correto? Ela segue fazendo esse tipo de jogo onde você pensa que está ciente de todos os seus passos, mas tudo não passava de uma simples pegadinha.
Não tinha certeza se era amor o que sentia por Valentina. Era cedo demais para dizer que era? Juliana não poderia dizer, afinal nunca amou ninguém. Nem sabia quando havia desenvolvido tais sentimentos, contudo, Valentina era desse tipo de pessoa que te envolve e você só percebe que é essencial em sua vida quando a perde. Juliana não havia perdido Valentina, mas o desprezo e mágoa na voz de Valentina no dia que havia voltado da batalha fez Juliana estremecer. Não poderia suportar aquele olhar vindo de sua esposa. Não quando Valentina sempre a olhou com carinho e ternura. Não quando sempre foi doce e gentil. Não quando sempre lhe sorria. Sentiu um frio percorrer sua espinha. E se Valentina voltasse a olhá-la daquela maneira?
- Quer comer algo, criança? - Lúcia perguntou.
- Só... gostaria de tomar um copo de chá, por favor. - Lúcia entortou a sobrancelha.
- Tem certeza? A senhora odeia...
- Na verdade tem razão. Eu não gosto de chá. - Falou e Nayeli franziu o cenho.
- Onde está Valentina? - Nayeli perguntou.
- Na biblioteca com o novo administrador e com Eva. - Respondeu e Nayeli olhou para Juliana. Juliana nunca respondia sem rispidez a Nayeli quando perguntava de Valentina. Algo não estava certo.
- Querida... - Lúcia disse puxando uma cadeira e se sentando ao lado da garota.
- Não deveria estar sentada no horário de serviço. - Nayeli disse.
- Você cala a boca. Ela se senta na hora que quiser. - Juliana falou irritada.
- Concordo com Nayeli, ela não deveria estar sentada. - Valentina disse ao adentrar a cozinha, fazendo Nayeli sorrir vitoriosa. Juliana olhou severamente para Valentina, fazendo a garota suspirar rendida. - Mas Juliana é tão dona quanto eu, então pode permanecer sentada. - Falou secamente. Lúcia sabia que Valentina só estava agindo assim por raiva. Ela jamais ligava quando a mais velha se sentava junto à uma delas a mesa.
- Vou terminar meus afazeres. Com licença. - A mulher disse se levantando às pressas.
- Eu disse que seria rápida. - Valentina disse sorrindo, se sentando no lugar onde Lúcia estava segundos atrás. - Já podemos ir andar a...
- Na verdade prefiro ficar aqui em casa. Não me sinto muito bem. - Falou, fazendo Valentina a olhar preocupada.
- O que você tem?
- Não é nada. Logo vai passar, não se preocupe. - Valentina assentiu segurando uma das mãos da esposa sobre seu colo. Nayeli deixou seu prato de cereal sobre a mesa e saiu dali disfarçadamente. Odiava ver as duas juntas. - Vale...
- Sim?
- Aquele homem...
- Peter?
- Sim. - Disse acariciando a mão da mais velha.
- O que tem ele?
- O que ele queria? Digo, o que ele fazia aqui?
- Ele é o novo administrador, baby. Irá trabalhar aqui.
- Aqui na casa? - Valentina assentiu. - Todos os dias? - Valentina voltou a assentir e franziu o cenho.
- Mas por quê?
- Oh, nada. Apenas curiosidade. - Disfarçou.
- Certo. - Valentina falou e Juliana mordeu seu lábio ao ver o olhar cheio de brilho de sua esposa. Não resistiu em se inclinar e lhe dar um doce beijo no canto dos lábios.- Eu posso ter demorado para entender... - Juliana sussurrou, sua boca encostada na de Valentina. - Mas eu não trocaria isso aqui... - Apontou para Valentina e ela. - Por nada e nem ninguém. Só preciso que você nunca se esqueça disso. - Valentina sorriu amplamente. Jamais se cansaría de ouvir essas coisas de Juliana.
Aquela garota que ela passara meses analisando as escondidas agora era casada com ela. Jamais imaginou que aquele sorriso cheio de brilho, que aquela garota alegre daquele pequeno vilarejo um dia diria esse tipo de coisas para ela e, mesmo depois de meses, Juliana continuava sendo seu ponto de paz.
- Tão mais lindo assim de perto. - Valentina sussurrou. Seus lábios roçando nos de Juliana enquanto falava.
- Lindo? - Juliana perguntou.
- É. Seu sorriso. - Disse. - Sabe, no dia em que você descobriu sobre a mentira de sua mãe... Você me perguntou desde quando eu vinha querendo você.
- É verdade.
- E quando eu disse meses eu não estava brincando. - Confessou. - Eu vou te contar um segredo. - Sussurrou e Juliana riu baixinho passando a pontinha de seu nariz no de Valentina.
- Então conte porque você sabe que sou curiosa. - Ela disse mais relaxada.
- Um dia precisei ir ao vilarejo comunicar a uma família que seu filho havia falecido... - Valentina começou. - e, bem, você sabe como fico nesses casos. - Juliana apenas assentiu, com os olhos vidrados em cada detalhe de sua esposa. - Eu havia saído disparada da casa deles, mas meus olhos estavam tão embaçados pelas lágrimas e meu corpo tão cansado que caí do cavalo.
- Oh, meu Deus! - Juliana exclamou.
- Pois é, e quando estava prestes a quebrar algo, desistir de tudo, eu te vi. - O sorriso que Valentina abriu foi tão sincero que fez Juliana desejar ter visto ela nesse dia. - Você estava gargalhando com um coelho. Aparentemente o bicho era mais rápido do que você. - Juliana riu.
- Eu amava brincar com o Harry, meu coelho. É uma pena ele ter sumido. - Ela disse tristonha.
- Sinto muito. - Valentina disse.
- Tudo bem.
- Bem, me lembro de ter passado minha próxima hora inteira ouvindo o som da sua risada, vendo o brilho do seu sorriso. Sua energia se transmitiu para mim. Aparentemente sua áurea é muito leve.
- E então passou a me espionar? - Juliama perguntou brincando e Valentina corou.
- No início eu ia para refrescar a mente. Depois passei a ir porque gostava do som da sua risada, com o tempo o seu sorriso me fazia falta e mesmo sem te conhecer eu sentia que precisava te ver. - Confessou. - Eu nunca tive alguém em minha vida e eu gostava de imaginar que se um dia eu tivesse, que fosse ao menos parecida com você.
- Olha que coincidência. Achou uma igualzinha. - Juliana falou brincando e Valentina sorriu.
- Em um dia aleatório te encontrei chorando e apesar da sua dor você foi extremamente gentil, atenciosa, brincalhona. - Valentina disse nostálgica. - Eu descobri que você superava a imagem que eu tinha em meus sonhos de você. Não é só beleza externa, Juls. Você é a mistura de tudo. É educada, bondosa, gentil e eu não consigo te tirar da minha cabeça desde que falei com você aquele dia. - Confessou. - Antes disso era platônico, mas ao te conhecer... Deus, você é tão perfeita e tão intensa. Tão incrível. Juliana, eu sei que ainda é cedo e, provavelmente, seja óbvio demais o que vou dizer, mas eu...
- Você... - Juliana subitamente sentiu-se ansiosa demais.
- Eu me apaixonei profundamente por você. - Juliana olhou intensamente para Valentina, fazendo a mais velha sentir-se nervosa pelo súbito silêncio. Sentiu-se mais aliviada ao ver Juliana abrir um lindo sorriso e se levantar, sentando-se no colo de Valentina. A mesma não perdeu tempo e enlaçou seus braços na cintura de sua esposa.- Pois eu acho que você deveria ter me dito isso antes. - Falou ainda sorrindo. -- É muito bom saber que se é correspondida. - Juliana disse sorrindo sedutora para Valentina, fazendo a mesma sentir o sangue correr mais rápido do que o normal por suas veias. - Eu não vou te beijar de novo, Carvajal. - Ela disse com um sorriso brincalhão nos lábios. - Acho que minha esposa precisa tomar alguma atitude de vez em quando. - Falou aproximando seus lábios dos de Valentina. Valentina sorriu e se inclinou lentamente, dando um beijo manso em Juliana. A mais nova levou sua mão aos cabelos de Valentina, adentrando os dedos e puxando-a ligeiramente. - Já era hora. - Juliana disse arfando assim que o beijo acabou. - E caso não tenha entendido o que eu quis dizer com ser correspondida... - Falou sorrindo. - Quis dizer que também me apaixonei perdidamente por você, Valentina Valdés-Carvajal.
- Posso saber como ocorreu tal milagre? - Valentina perguntou brincalhona enquanto acariciava as costas de sua esposa por baixo da blusa.
- Bem... Acho que no fim do arco-íris encontrei algo bem melhor do que eu esperava. - Sussurrou sorrindo.
- Como? - Juliana riu baixinho e negou com a cabeça.
- Nada. - Falou deslizando a pontinha de seu nariz no de Valentina. - Para falar a verdade... milagre seria se eu não me apaixonasse por alguém como você. - Valentina não podia acreditar no que ouvia.
- Sabe... Quando nos casamos seu sorriso era bem diferente do que costumava dar lá fora. - Juliana franziu o cenho e pôs toda sua atenção no que sua esposa dizia. - Então tive certeza que estava infeliz.- Mas agora...
- Shh... - Valentina disse colando suas testas. - Eu sei. - Juliana suspirou e roubou mais um beijo inocente de Valentina. - Só quero que se lembre que eu farei o impossível para nunca mais perder esse sorriso. Você feliz é... a minha prioridade. - Juliana sentiu lágrimas se formarem em seus olhos. Valentina era tão terna que seu peito se contraía com a imagem de um dia se afastar dela.
- Você é tão doce. - Juliana disse em um sussurro. - Só precisa estar ao meu lado para que eu seja feliz. - Seu dedo indicador contornou as sobrancelhas de sua esposa, para logo acariciar a maçã de seu rosto.
- Espero que seja o suficiente então, porque não pretendo ir à lugar algum.
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Eu chorei e vocês???
A gente tá praticamente tendo uma maratona, não? kkkkkkkkkk
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Over The Rainbow (Juliantina)
Fiksi PenggemarOver the Rainbow é uma história romântica que se passa no século XX. A protagonista Juliana, contrariando as regras da aristocracia a que pertence, se apaixona por Lucho Sánchez, um camponês da classe baixa, mas sua mãe, Lupita, deseja que a filha c...