Capítulo 5

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Diferentemente da última vez em que Valentina esteve ali com Eva, dessa vez não havia ido apenas as duas. Era sobre um assunto formal, então levou vinte membros da cavalaria consigo. Trompetas anunciaram sua chegada e ela desceu de seu cavalo favorito, sem precisar tocar a porta, pois já haviam ouvido o anúncio de sua chegada.

O Senhor Valdés apenas acenou para que ela entrasse em sua casa e assim ela o fez. Como manda a tradição, todos os guardas da cavalaria esperaram do lado de fora, inclusive Eva, que era da infantaria.

- Bom dia, Chino!

- Bom dia! - O homem disse cabisbaixo.

- Venho, por meio desta visita, lhe informar minhas intenções com o senhor. - Ela começou. - Primeiro, quero lhe ajudar a pagar a dívida de sua casa e quando tiver você pode me devolver, não tenho pressa quanto ao retorno do dinheiro. – Ele a olhou com a expressão chocada e surpresa.

- Eu não tenho palavras para agradecer-lhe, mademoiselle. Em breve sua noiva ...

- Não tenho noiva.

- Quis dizer, sua futura noiva. – Se corrigiu.

- Vim apenas para dizer que não quero a mão de sua filha, senhor. Quero a felicidade da moça, seja ela quem for. Quero que ela tenha o livre arbítrio de escolher quem quer que seja para ser feliz. Apenas isso peço em troca de minha ajuda. - O homem a olhou pasmo, lágrimas de alegria surgiam em seus olhos. Era certo que não queria fazer negócios em relação à felicidade de Juliana e só havia aceitado para o bem da própria moça, pois ficariam sem teto. Se fosse apenas por ele, jamais haveria aceitado a sugestão de Lupita.

- O-obrigado. Muito obrigado. - Pediu emocionado. Valentina sorriu ao ver o alívio nos olhos do homem.

- Papai... - A garota começou, mas quando viu que o senhor tinha visita se encolheu e abaixou a vista. - Perdão. - Pediu baixo. Os olhos de Valentina se arregalaram ao perceber que a garota à quem sugeriram casamento era a mesma por qual ela morria de amores.

- Juliana? - Perguntou. Os olhos castanhos se ergueram e Valentina não pôde deixar de notar a expressão de surpresa no rosto da garota.

- Valentina. - Respondeu fazendo uma reverência. Não podia negar que havia ficado aliviada por sua futura esposa ser alguém que pelo menos ela conhecia, mesmo que houvesse a conhecido apenas na noite anterior. Os fatos não mudavam seus sentimentos, ela ainda era apaixonada por Lucho.

"Valentina é a comandante. Como eu não sabia disso?" Pensou. "Ela tem interesse por mim." Pensou surpresa. "Por isso foi atenciosa comigo ontem, porque queria a minha mão."

- Hm, se conhecem? - Chino perguntou confuso e Valentina sorriu.

- Sim.

- Será que eu poderia falar com a senhorita por um instante? - A voz de Lupita se fez presente ali e Valentina tentou segurar a careta ao lembrar do que a mulher havia falado sobre ela, no entanto também reconheceu o rosto dela de todas as vezes que viu Juliana em sua barraca.

- Claro. - Valentina falou educadamente e todos os outros se retiraram da sala. Juliana mandou um tchau em forma de aceno e Valentina se derreteu novamente pela forma doce da garota. - Sobre o que gostaria de conversar?

- Sobre o noivado. - Lupita disse. Ela não era boba e já havia reparado como Valentina sempre passava pelo povoado e ficava admirando Juliana.

- Não tem noivado. - Valentina disse. Apesar de obviamente desejar se casar com Juliana, jamais a obrigaria por um contrato.

- Não seja tola, criança. É nítido tamanho interesse de sua parte para com minha filha e posso dizer o mesmo dela.

- Juliana tem int-teresse por m-mim? – Perguntou surpresa.

- Claro! Por que acha que ofereci sua mão à você? Que mãe, em sã consciência, ofereceria a mão de sua filha à uma lésbica? Ela faltou me implorar. - Mentiu. - Ela te via a analisando durante todo esse tempo pelo povoado e ficou extremamente encantada, mas minha filha é tímida e então me pediu para que falasse com você.

-  Eu...

-  Eu devo admitir que não gosto desse tipo de tratamento pecaminoso entre duas mulheres, mas minha filha fala de você com tanta pureza que passei a ver com outros olhos tudo isso. - Valentina estava chocada. Feliz, mas chocada.

- Será que poderia falar com ela? - Valentina pediu. - Digo, não é que eu não acredite na senhora, mas se trata de um casamento. Para mim é realmente importante ter o consentimento dela. - Lupita sorriu vitoriosa.

- Antes de falar com ela tenho algumas condições. - Valentina assentiu, deixando a mulher continuar. - Quero um casamento rápido, nada de ficar enrolando minha filha. Não quero que ela fique mal falada.

- Mas preciso conhecê-la. Digo, se casar às pressas soa meio desesperador.

- Essa é minha condição. Se não quiser existem outros pretendentes que se casariam com ela rapidamente sem ao menos pestanejar. - Valentina franziu os olhos.

- Falei com seu marido. Se Juliana não quiser nada comigo eu não terei preocupações, porque disse a ele que emprestaria dinheiro a ele com a condição de deixar Juliana escolher com quem quer se casar.

- Posso claramente recusar sua proposta e fazer ela se casar com alguém de família rica, quem arcaria com nossa dívida. - Valentina trincou o maxilar ao pensar que Juliana poderia se casar com alguém que a pudesse fazer infeliz ou machucá-la. Os homens nobres tinham essa ridícula mania de bater em suas mulheres quando elas lhe negavam algo.

- Pois bem, deixe-me falar com ela. - Valentina pediu e Lupita assentiu, se retirando para ir atrás da filha.

- Não faça besteiras. Lembre-se de que, se não for ela, será alguém bem pior. - Esse foi o sussurro de Lupita no ouvido de sua filha quando fingiu lhe dar um beijo no rosto. Juliana suspirou e adentrou a sala.

- Me disseram que você gostaria de me ver. - Juliana disse brandamente.

- Está melhor? Lembro-me que chorava.

- Foi algo passageiro, estou bem. - Mentiu. Valentina assentiu, limpando a garganta antes de voltar a tomar a palavra.

- Sua mãe disse que você, hm, quer mesmo se casar comigo. - Disse sem graça. Juliana tentou evitar a careta, mas Valentina percebeu.

- Sim. - Foi tudo o que disse.

- Não precisa mentir, Juliana. - Disse vendo a falta de empolgação na menor.

- Eu quero mesmo, juro que quero. Por favor, acredite. - Disse, se lembrando de que, caso não se casasse com Valentina, seu pai daria sua mão à um velho nojento qualquer. Valentina se aproximou, tocando sua mão.

- Sente algo, hm, positivo em relação a mim? Não quero que faça algo por pressão. Você é preciosa demais para ser obrigada a se casar com alguém.

- Minha mãe vai me fazer casar com alguém estúpido e idiota, então por favor, casa-se comigo. - Pediu em meio ao choro que havia finalmente se mostrado. Sentiu-se segura para revelar a verdade após horas de conversas na noite anterior.

- Juliana... - Não pôde terminar sua frase, pois o corpo pequeno se pendurou em seu pescoço, em um abraço estrambelhado.

- Eu prometo ser uma boa esposa, fazer tudo o que você quiser, te satisfazer e te acatar, prometo ser obediente e fiel, eu prometo ser tudo e muito mais, mas por favor, por favor, Valentina, não deixa eu me casar com nenhum velho sujo e imundo, eu te imploro. - Soluços tomaram conta da sala e Valentina apenas acariciou os cabelos da garota.

- Como você poderia casar com algum velho sujo e imundo sendo que será minha esposa? - Juliana soltou de seu abraço e a olhou surpresa.

- Então quer dizer... Quer dizer que...

- Que agora preciso ir à uma joalheria comprar o anel mais bonito de lá para pedir a mão de uma linda moça para seus pais. - Juliana sorriu. Claro que ela não queria se casar com Valentina, mas entre os males, preferiu o menor. Sabia que, ao menos, Valentina a fazia sorrir e era gentil. Não conseguia imaginar a mulher lhe batendo. - Em uma hora eu volto, me espere. - E deixando um beijo na testa da garota se retirou do ambiente.

Over The Rainbow (Juliantina)Onde histórias criam vida. Descubra agora