✗Capítulo 28

351 53 97
                                    

Eu gostava de assumir os turnos da noite para poder assistir o sol nascer no final de cada um deles. Acompanhar os nuances bonitos dos raios dourados, se espalhando timidamente pela escuridão do céu e caindo sobre as árvores, os feixes de luz se infiltrando entre suas copas para tomar o breu sombrio da floresta.

No entanto, naquele instante, enquanto as luzes amareladas brotavam no horizonte, havia algo mais bonito prendendo os meus olhos.

Meus dedos escorregavam entre os fios escuros com familiaridade, num carinho que eu me via fazendo de forma quase que automática em toda oportunidade que tinha. Changkyun havia deitado a cabeça no meu colo há quase uma hora, apenas para observar as estrelas antes que a manhã as escondesse, contudo, contrariando os seus planos, não levou nem dez minutos para acabar pegando no sono.

Nosso turno tinha sido tranquilo, não deviamos ter nos deparado com mais de três mortos solitários vagando pelos arredores, então eu não me preocupei com a tarefa de me manter sozinho atento a qualquer aproximação pelo tempo que restava. Embora, vez ou outra, como naquele exato momento, eu me pegasse distraído daquela forma, admirando qualquer marquinha em seu rosto.

Eu gostava do sentimento de saber que era eu quem estava o protegendo, apenas não mais do que o de saber que Changkyun confiava em mim o bastante para isso, ao se permitir relaxar àquele ponto bem ali, à céu aberto, entre tantos perigos. Ele devia estar realmente cansado, por isso eu estava com dó de ter que acorda-lo, mas já estava na hora.

Os passarinhos começaram a cantar ao longe, uma vez que o sol os despertou, e os raios mornos finalmente nos alcançaram, brigando com o clima gélido insistente da madrugada, mas Changkyun só acordou quando o meu relógio apitou próximo a si, avisando que o nosso turno tinha acabado.

Suas pálpebras se apertaram e se moveram preguiçosamente, rejeitando a luminosidade antes das orbes escuras me encontrarem, me olhando de baixo, parecendo mais bonitas e brilhantes sob a primeira luz do dia.

— Por que você me deixou dormir? — ele perguntou então, a voz rouca e o tom preguiçoso, coçando os olhos com as costas das mãos.

— Nós já tinhamos feito a última ronda, eu não achei que teria problema te deixar descansar um pouquinho mais cedo. — o respondi suavemente, mantendo o carinho em seus cabelos — Mas nós temos que ceder o posto para a próxima dupla agora, precisamos ir.

Changkyun assentiu devagar, mas voltou a fechar os olhos no mesmo segundo, o cantinho dos seus labios se curvando levemente em um meio sorriso ao que parecia apreciar o carinho.

— Pare com isso, anula qualquer mínima vontade que eu tenha de sair daqui.

Eu ri e afastei meus dedos dos seus cabelos, acatando o seu pedido. Mas não antes de depositar um beijinho na sua testa, aproveitando o raro momento em que ela não era coberta pela franja, e então dei um tapinha na sua coxa, num sinal para que ele se levantasse.

A contragosto, Changkyun tirou a cabeça do meu colo, se colocando sentado sobre a caçamba da caminhonete onde tinhamos passado toda a noite, os cabelos voltando rapidamente para o seu devido lugar, como se não tivessem passado a última hora sendo remexidos. Eu me levantei primeiro e estendi a mão para ajuda-lo a fazer o mesmo, lutando contra a sua preguiça e moleza do corpo recém desperto.

Nós pulamos da traseira do automóvel e tomamos o caminho de volta para o hotel, nos separando nas escadas quando combinamos que ele podia subir para o quarto, tomar um banho primeiro e se deitar, enquanto eu buscava algo para comermos.

A cozinha era o cômodo mais movimentado naquele horário, tomada por aqueles que preparavam a primeira refeição do dia e pelos que não podiam espera-la ser colocada a mesa, perambulando pra lá e pra cá, tornando o espaço um tanto menor do que realmente era.

Thriller | Changki Apocalypse!ficOnde histórias criam vida. Descubra agora