✗Capítulo 38

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Com as mãos cobertas de sangue, eu seguro ambas as facas com firmeza e deslizo para trás da vitrine da padaria, saltando por sobre a sua superfície até firmar meus pés do outro lado. Os mortos que estavam na minha cola se debruçam sobre ela, os vários pares de mãos em decomposição tentando incansavelmente me alcançar, e eu tento enxergar Hyungwon do outro lado por sobre as suas cabeças. Aquela área do daegusijang estava um pouco mais iluminada, por isso não foi difícil encontrar a cabeleira escura contida por um coque no topo da cabeça e os braços longos movendo a sua espada. As cabeças dos cadáveres eram partidas pela lâmina comprida, os corpos caindo uns sobre os outros, o som deles batendo contra o chão já era abafado pela onda de grunhidos que nos cercavam.

Aparentemente, meu parceiro tinha a completa incapacidade de ser discreto, por isso todas as nossas investidas terminavam conosco cercados de mortos por toda parte, pouquíssimo tempo depois de termos começado a agir.

Solto o ar pela boca em uma única lufada, buscando aliviar um pouco da adrenalina que formigava em cada célula do meu corpo pelo que já deviam ser horas. Não tínhamos qualquer noção de tempo ali, além dos feixes de luz branda do sol que nos alcançavam através das janelas, mas ele parecia simplesmente não correr lá dentro, enquanto estávamos presos em um loop interminável de matar, correr, nos misturar e se esconder. Ao recuperar o foco e o controle do meu corpo agitado, aproveito a minha vantagem para derrubar os mortos do outro lado da mureta formada pela vitrine de pães e sobremesas mofados ou estragados.

As lâminas das facas entram e saem dos crânios dos cadáveres, derrubando-os sobre a superfície da vitrine até que eu os empurre para o chão. Alguns estão em melhor estado e conseguem se arrastar até quase cair para dentro ou me alcançar, mas eu os derrubo antes disso. Minha visão do espaço fica mais clara e eu decido que simplesmente não dá mais para continuar ali. Vejo o Chae cortar o vento, falhando em acertar a cabeça de um dos mortos, e este quase acaba conseguindo morder o seu braço. Eu guardo as facas de volta nas minhas botas, puxando a besta das minhas costas para acertar aqueles que o cercam de longe. Saio de trás da vitrine pela portinha de acesso e me apresso para chegar até ele, derrubando os famintos pelo caminho.

Ao finalmente alcançar Hyungwon, eu o puxo pelo colarinho da sua camiseta, afastando-o do grupo de mortos que ele seguia derrubando.

- Por favor, me diga que o seu plano não é continuar matando para todos os lados. - eu o arrastei até a sessão mais próxima e larguei-o subitamente, vendo-o cambalear levemente antes de recuperar o equilíbrio.

- Desde quanto você é tão cauteloso? Podemos acabar com isso de uma vez, sem enrolação. - os mortos permaneceram na nossa cola, nos seguindo até ali, e a atenção dos que já vagavam por aquele corredor foi rapidamente para nós.

- Você não vai estar vivo no final do dia para acabar com isso se continuar agindo assim. - eu o respondi, irritado. A besta chiou ao disparar de três flechas seguidas, segurei as cabeças decompostas com a sola da minha bota contra o chão para puxa-las de volta, guardei duas delas e usei uma como arma, afundando na cabeça de três cadáveres que se aproximaram com as minhas proprias mãos, precisando prender um deles contra a prateleira de molhos e alimentos em conserva antes de acertá-lo. Hyungwon derrubou quatro de cinco deles, para então falhar no ultimo e eu precisei chutar o corpo em decomposição para afasta-lo dele, enfiando a flecha no crânio pútrido em seguida - Está exausto, Hyungwon, mal está conseguindo acertá-los.

- Não é isso.

- O que é então? - ele se manteve apoiado nos joelhos após errar seu último golpe e eu notei seu rosto se franzir em uma careta. Semicerrei os olhos em sua direção, avaliando mais cuidadosamente o seu estado - Esse sangue não é só deles, estou certo? - eu soltei o ar pela boca com sua falta de resposta, como se pudesse aliviar a aflição que se instalou como um peso no meu peito - Droga, Hyungwon! - eu bati com a besta na cabeça de um dos mortos que se aproximou rápido de mais, acertando-o com uma flecha em seguida. Puxei-a de volta e derrubei mais três deles antes de voltar para o Chae - Acha que o sangue deles pode ter infectado?

Thriller | Changki Apocalypse!ficOnde histórias criam vida. Descubra agora