Eu gemi e apertei os olhos quando as minhas costas se chocaram mais uma vez contra o chão, mais pela frustração do que por qualquer dor.
— Você disse que ia pegar leve dessa vez. — reclamei.
— Você disse que dava conta.
— Eu estava blefando.
Jooheon riu e me estendeu a mão para me ajudar a me levantar do gramado.
— Eu estou pegando leve, você que é um saco de ossos.
Eu me recompus, sem me preocupar em tirar a grama grudada em minhas roupas e cabelos, e reassumi a posição com os pés firmes no chão e os punhos fechados na altura do rosto. O clima frio daquele horário da tarde arrepiando a minha pele suada me ajudava a me manter alerta.
Jooheon vinha me ensinando a lutar durante os quatro dias que haviamos passado nos adaptando ao novo abrigo e as novas pessoas, uma vez que eu descobri que esfrentavamos humanos tanto quanto aos mortos e não queria ter que depender sempre de uma arma.
... Foi o que eu disse a ele, ao menos. A verdade era que eu só buscava manter a cabeça ocupada para evitar tudo o que não queria enfrentar.
Jeonghan continou tentando se aproximar de mim depois do nosso primeiro contato, mas eu não me sentia confortável perto dele, era como se devesse ser alguém que eu não era, pelo menos não mais. Talves fosse a pressão de ser apenas a casca de quem ele um dia tanto amou e admirou, de saber que ele carregava sozinho todas as memórias da vida que tivemos, memórias essas que eu já não sabia mais se queria retomar.
Eu gosto das memórias que tenho, gosto de quem eu sou, de quem estou me tornando..
Praguejei quando Jooheon me levou ao chão novamente.
— Acho que chega por hoje. — ele se agachou ao meu lado e me estendeu uma garrafinha com água. Eu suspirei, exausto, antes de me sentar para aceita-la e beber um longo gole — É melhor você ir a enfermaria, vai que quebrou algum osso.
— Não se superestime tanto, você não chegou a esse ponto. — resmunguei.
Ele sorriu de lado e deu alguns tapinhas de encorajamento em meu braço antes de me ajudar a me levantar, me puxando para cima quando encaixei a minha mão na sua como se eu não pesasse muito mais que um saco de batatas.
O maldito parecia nem sequer estar suando!
Sem pressa alguma, caminhei com Jooheon de volta para dentro do hotel, nos separando apenas quando subi para o meu quarto e ele foi atrás de beliscar alguma coisa na cozinha. Finalmente me permitindo sentir os pontos doloridos em meu corpo, me joguei em minha cama e permaneci deitado por alguns minutos enquanto buscava disposição para tomar banho.
Eu não havia sido exigente quanto a escolha do quarto, até porque Hyunwoo fez questão de que ficassemos uns ao lado dos outros, então apenas peguei o primeiro que me foi oferecido, mas gostava mesmo dele. Gostava de como o calor do sol permanecia no cômodo por um tempinho depois que ele abaixava, dos tons de branco e marrom nos móveis, tecidos e paredes e, principalmente, do fato dele não ter realmente pertencido a ninguém antes de mim. Diferente dos lugares onde estive até então, ele não carregava as memórias da vida de alguém que já devia ter partido em meio ao que o mundo havia se tornado, eu não tinha que me sentir um intruso.
Com um longo suspiro, me sentei na beira da cama e tirei a camiseta que vestia, me levantando em seguida e dando poucos passos até o espelho de corpo inteiro que oculpava o canto de uma das paredes, estudando o meu reflexo por um momento.
Eu já havia tirado os curativos da mordida e ela estava cicatrizando bem. Olhando agora, parecia completamente inofensiva, contudo, eu ainda não estava totalmente certo sobre ela, por isso Hyunwoo insistia que eu passasse na enfermaria — um lugarzinho improvisado nos fundos do lugar, onde possivelmente fora a ala dos funcionários quando o hotel estava em funcionamento — ao menos uma vez todos os dias para checar a minha temperatura e sinais vitais, ter certeza de que a minha paranóia de está me tornando uma aberração meio morta-viva era apenas isso, uma paranóia, e que a mordida realmente não estivera me causando nada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Thriller | Changki Apocalypse!fic
FanficKihyun acorda num mundo pós-apocalíptico sem qualquer memória do seu passado. Sem conhecimento de nada sobre si além de um nome e um número gravado em sua pele, ele vai buscar preencher as lacunas em branco da sua mente, enquanto tenta sobreviver ao...