— Eu a encontrei no nosso segundo dia aqui, quando sai sozinho pela manhã — Changkyun começou a contar, caminhando pelo jardim que um dia devia ter sido bonito e bem cuidado da casa onde uma caminhada de pouco mais de trinta minutos havia nos levado. Ela ficava numa área mais arborizada da cidade, entre as árvores altas com copas cheias, deixando apenas poucos feixes dos raios de sol surgirem entre toda a sombra que causavam —, não achei que teria tempo de fazer alguma coisa com ela, mas trouxe até aqui porque fiquei com pena de deixa-la largada na pista.
A barulheira que o portão da garagem que ele abriu fez ao ser empurrado para cima me fez levar a mão para a arma em minha perna instintivamente, olhando para os lados, alerta de que algo pudesse ser atraído até nós.
— Do que você 'tá falando? — eu perguntei.
O lugar se revelou repleto de quinquilharias, caixas de papelão, peças avulsas e ferramentas, uma verdadeira zona. Changkyun passou por cima das tralhas que estavam largadas pelo chão até chegar a algo grande, na altura da sua barriga, coberto por uma lona. Ele então a puxou, revelando uma moto... Ou o que restava dela.
— Ela não está tão mal, só precisa de um pouco de carinho, acredito que temos tudo o que precisamos aqui — falou enquanto tirava a sua jaqueta e a amarrava na cintura, expondo os braços tatuados e a parte enfaixada onde a bala de Gook Hwan havia o atingido dias atrás — E você vai me ajudar.
Eu arqueei as sobrancelhas e neguei depressa com a cabeça.
— Oh, não. — recuei um passo — Eu não sei mexer nisso ai, vai que puxo um fio errado e a coisa toda explode?
— Não é uma bomba, Kihyun. — ele retrucou, pacientemente.
— Eu achei que nós íamos dar uma volta, talvez acabar com alguns mortos, encontrar algo útil... — continuei reclamando, torcendo o nariz ao sentir o cheiro de mofo impregnado no lugar — Qual o propósito de mexer nessa coisa?
— Te manter ocupado. — foi direto, não voltando a sua atenção para mim ao que já se agachava para checar algo na moto.
— Não é como se eu fosse sair por ai causando confusão. — resmunguei cruzando os braços sobre o peito, passando mais um olhar rápido por todo o lugar.
Tentei não pisar em nada quando caminhei até a mesa de madeira num canto do lugar, o pequeno globo de vidro me chamando atenção entre tudo o que estava espalhado sobre ela. Dentro dele, uma floresta de pinheiros, uma casinha de madeira e um boneco de neve compunham um bonito cenário natalino. Eu o virei de cabeça para baixo, ao notar que a base estava quebrada, e vi os minúsculos pontinhos brancos se espalharem por toda parte em seu interior. Era adorável.
O pequeno sorriso em meu rosto, no entanto, acabou murchando, tão rápido quanto surgiu.
Havia uma fotografia ali, solta pela mesa, e eu imaginei ser dos antigos moradores daquela casa; um casal com duas crianças, uma menina emburrada e um garotinho forçando um sorriso banguela, como se não quisessem realmente estar ali. Apesar disso, eles pareciam uma família verdadeiramente feliz.
Eu tentava evitar esse tipo de pensamento, sabendo que não havia nada que pudesse fazer a respeito desde que deixei a minha melhor chance de descobrir qualquer coisa sobre mim para trás. No entanto, era inevitável, vez ou outra, me pegar me perguntando se, em algum lugar das memórias que perdi, poderia haver alguém esperando por mim.
— Você está bem? — Changkyun perguntou, me olhando por trás da moto. Eu devia ter ficado quieto por tempo de mais.
Apenas assenti, deixando o globo de vidro onde o encontrei e me virando em sua direção, apoiando o quadril na mesa, jogando a franja para tras antes cruzar os braços sobre o peito novamente.
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Thriller | Changki Apocalypse!fic
FanfictionKihyun acorda num mundo pós-apocalíptico sem qualquer memória do seu passado. Sem conhecimento de nada sobre si além de um nome e um número gravado em sua pele, ele vai buscar preencher as lacunas em branco da sua mente, enquanto tenta sobreviver ao...