✗Capitulo 31

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Nós tinhamos um problema.

Perdemos duas pessoas dentro do acampamento, a segurança foi violada e os suprimentos queimados. Chaeyoung fez um inventário com tudo o que o fogo não teve tempo de alcançar e, fazendo as contas, acreditava que a comida devia dar para pouco mais de duas semanas, apenas se racionalizassemos mais do que já fazíamos.

Era inverno, o frio se tornava cada vez mais presente e os animais passavam a se esconder na floresta, dificultando a caça. As pessoas estavam inseguras e assustadas, tempo não era mais algo que possuíamos e a viagem até a grande metrópole, que antes era uma opção, se tornou finalmente uma necessidade mais urgente do que nunca.

Yongsun tendia a exalar uma postura fria e controlada na maioria das vezes, movida pelo seu inegável espírito de liderança, tal como Hyunwoo. Eles precisavam se manter firmes quando as coisas estivessem prestes a desabafar para serem capazes de segurar as pilastras que impediam que tudo fosse finalmente ao chão.

Mas isso não estava acontecendo.

Os cabelos escuros, agora cortados pouco acima dos ombros, estavam em uma bagunça de fios desgrenhados de tanto ela passar as mãos nervosas e balançar a cabeça, isso enquanto conversava com Yongguk e todos que presenciaram diretamente o ocorrido. Yongsun já não tinha regressado em seu melhor estado, a invasão a penitenciária parecendo ter exigido mais de si do que de Hyunwoo e Changkyun. A mulher tinha um corte em sua testa e nos lábios, uma das suas mãos e seu braço estavam enfaixados e sua camisa branca estava repleta de manchas de sangue.

"Como isso foi acontecer?"

"Os mortos não são incendiários."

"Eram suprimentos para dois meses inteiros, por que justo a dispensa?"

Ao contrário do esperado, ela sequer chegou a lamentar as mortes de Heejin e Sewoon. Não houve espaço para isso, as vidas de todos ali, mais do que nunca, estavam em suas mãos. Ela não parecia acreditar que tinha sido um mero acidente e era como se culpasse silenciosamente cada um em que colocava seus olhos.
Yongsun estava uma pilha de nervos e sua falta de autocontrole estava afetando diretamente o pouco que restava do meu.

Eu decidi que não conseguia mais fazer parte daquilo quando tudo pareceu se fechar ao meu redor. O ar pesado que havia passado a pairar pelo local, os olhares de insegurança que pareciam me perseguir por toda parte, as cruzes cravadas no gramado...

Por isso eu corri para a floresta na primeira oportunidade que encontrei, me aproveitando da comoção para não ser notado. Eu não precisava ouvir qual decisão seria tomada no final, não quando sabia só nos restar uma opção. Já não importava mais se estávamos ou não prontos para enfrenta-la.

Já havia anoitecido, mas o céu estava limpo, ao contrário da noite anterior, de forma que o brilho azulado da lua cheia penetrava na floresta por entre as copas das árvores. Eu não tinha notado estar com o canivete em minha mão até abri-lo em um movimento puramente instintivo com a imagem da figura cambaleando por entre os arbustos em minha direção, arrastando seus grunhidos famintos.

Chutei o seu estômago no instante em que a criatura avançou sobre mim, derrubando-o no chão. Impedi que se levantasse pressionando minha bota em seu peito antes de enfiar a lâmina em seu crânio. Senti uma leve tontura com toda a movimentação brusca, as noites mal dormidas e o esforço de um dia inteiro cobrando seu preço, mas apenas fechei os olhos e respirei fundo para me recompor.

A lua espelhada nas águas de um lago se revelou pouco mais a frente. Apesar de já ter tomado banho, eu ainda sentia que cheirava a morte e cinzas, por isso quase fui guiado pelo impulso de simplesmente me deixar ser engolido pela água, embora não soubesse nadar. Mas a brisa fria que soprou em minha pele, arrepiando cada pelinho do meu corpo, me lembrou de que eu com certeza morreria congelado se tentasse. Então eu apenas me ajoelhei na margem e molhei o meu rosto com a água gelada, uma, duas, três vezes...

Thriller | Changki Apocalypse!ficOnde histórias criam vida. Descubra agora