✗Capítulo 40

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Minhas roupas estavam encharcadas e minha pele estava fria. Apesar disso, o meu corpo não tremia, estava rígido feito pedra enquanto eu fitava o letreiro diante de mim.

Blue flower.

Como havia chegado até ali sem qualquer consciência?

A única noção de tempo que eu tinha era a luz do sol, nublado pelas nuvens de chuva, me mostrando que já passara uma noite

Apenas uma, eu esperava.

Soltei o ar pela boca em uma única lufada, apenas para ter certeza de que estava realmente ali. Estava acordado e estava vivo.

E estava diante do meu pesadelo.

A tinta azul escuro das paredes estava descascada, a porta de entrada havia sido derrubada, deixando um grande buraco de dois metros de largura nos convidando ao caos em seu interior.

E eu não negaria o convite.

Era como se as peças em branco e embaralhadas do quebra cabeça em minha mente finalmente estivessem tomando cor e forma. A antiga hesitação e o medo pareciam ter sido substituídos por um sentimento duro e voraz. As lembranças não me assustavam, elas me deixavam furioso, sobretudo por terem me sondado como fantasmas durante tanto tempo.

Eu estava desarmado, não precisava procurar muito para ter certeza disso, uma vez que vestia apenas uma camiseta preta e jeans, os pés descalços sentindo o asfalto gelado sob as solas.

O ferimento em minha coxa estava enrolado por ataduras e o da minha mão estava coberto por gaze, mostrando que Jooheon realmente havia os tratado naquela noite. No entanto, meu corpo estava tão frio, que eu mal os sentia, como se todo o sangue tivesse sido drenado das minhas veias.

Aquela constatação me fez travar por um instante, a três passos da porta, justo quando um cadáver cambaleava para fora do estabelecimento.

Ele sequer me olhou.

Passou há centímetros de mim, como se eu fosse invisível aos seus olhos, e seguiu aos passos lentos pela calçada

Alarmado por uma possibilidade que minha mente sequer havia começado a processar, eu recuei, olhando para os lados. Me lancei até os destroços do automóvel mais próximo, puxando o retrovisor para olhar o meu próprio reflexo por ele, espantado.

Ainda estava vivo, definitivamente, mas não sem sequelas daquela vez.

A iris castanha do meu olho esquerdo havia perdido a cor, se tornando um azul esbranquiçado, e veias em vermelho vivido despontavam em torno dele, descendo até parte da minha bochecha.

Isso explicava porque eu tinha conseguido chegar tão longe inconsciente. Para os mortos, eu não era diferente deles. Respirei com força, me afastando do retrovisor. Mirei o lenço vermelho amarrado em meu pulso e apertei a mão em punho.

Certo, isso seria mais difícil de esconder.

— Vamos parar de ser mordidos agora, está bem? — falei para mim mesmo, não querendo descobrir qual seria a próxima lembrança que a infecção deixaria para trás. Não seria um problema se os mortos continuassem sem me dar bola.

Me apoiando na caçamba do carro, eu me voltei novamente para a entrada do pub, adentrando a leve penumbra. As cadeiras e mesas estavam quebradas e largadas por toda parte, havia vidro pelo chão, por todo o bar e próximo aos palcos de pole dance e eu precisei ser cauteloso enquanto caminhava em direção as escadas, apanhando a perna pontuda de uma cadeira no caminho para usar como arma.

Aquele lugar estava claro em minha mente, como se eu tivesse o visto em seu auge apenas semanas atrás. As paredes tão brilhantes que era possível enxergar seu próprio reflexo nelas, as luzes azuis que dançavam junto com a batida, os corpos virando copos de bebida e assoprando nuvens de fumaça enquanto se moviam uns com os outros.

Thriller | Changki Apocalypse!ficOnde histórias criam vida. Descubra agora