✗Capitulo 27

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Florestas escuras e silenciosas ainda me assustavam, mas me sentia seguro para dizer que já não tanto quanto fizeram um dia. Talvez porque eu já estivesse um tanto familiarizado com aquelas árvores, apesar de saber que me perderia facilmente se ousasse desbrava-la longe das áreas marcadas por Changkyun, que consistiam em setinhas feitas por canivete nos troncos de algumas árvores, apontando para qual caminho seguir, uma solução temporária para o meu péssimo senso de direção.

Faziam três semanas que o Im havia dispensado Jooheon e roubado o lugar dele sem cerimônia alguma, me dando lições de luta, tiro e caça desde então. Eu não podia reclamar da troca, uma vez que as suas aulas costumavam incluir beijinhos roubados e os seus toques eram sempre bem-vindos. Embora, vez ou outra, fossem petelecos na testa e resmungos ranzinzas, porque ele não conseguia largar a pose rabugenta por tanto tempo, especialmente no seu "modo professor".

Graças as práticas com ele, eu havia tido algum progresso com a minha mira — e Changkyun fazia questão de jogar isso na cara de Jooheon todos os dias — e, consequentemente, com armas de fogo e já me sentia seguro o bastante para usar uma quando fosse necessário. O que raramente acontecia, já que elas não eram exatamente as mais práticas, pelo número limitado de balas e o barulho que faziam a cada tiro quando sem um silenciador.

Por isso eu costumava roubar outro tipo de arma de ataque à distância sempre que tinha a oportunidade. Não tão prática quanto ao uso, mas confiável e silenciosa.

E, modéstia à parte, vinha me dando muito bem com ela.

O único som no ambiente era o de uma cigarra encondida no breu entre os arbustos, por isso o chiado da corda soltando a flecha e da sua ponta se fincando no tronco da arvore foi tudo o que encheu os meus ouvidos por um segundo.

Abaixei a besta, calculando a rota da flecha e sorri levemente, orgulhoso por ter acertado o tronco que havia mirado, mesmo com ele sendo menos robusto e com a baixa luminosidade para os meus olhos — nada além do brilho nebuloso da lua cheia que tomava o ceu e da fogueira feita num baril de ferro.

Cortei o caminho até a árvore para puxar a flecha de volta, minhas botas esmagando as pedrinhas sobre a terra. Talvez por isso tenha perdido os passos que se aproximavam entre o som dos meus próprios, só os notando quando já estavam perto de mais.

Me virei de súbito, apontando a besta naquela direção em puro instinto. Só não esperava encontrar sob a minha mira a imagem inofensiva do rosto enrugado, iluminado pelas chamas da fogueira, e do corpo baixinho e levemente corcunda.

— Senhor Kang? — eu baixei rapidamente a besta, surpreso — O que está fazendo aqui fora?

Apenas aqueles escalados para a vigília, assim como eu, vagavam pelas redondezas do hotel naquele horário. Mas esse, definitivamente, não era o caso do senhor de idade, enfiado em um cardigã e em calças xadrez, que estava sempre apoiando o peso do lado esquerdo do corpo em uma bengala de mão — conseqüentemente, sendo escalado apenas para atividades que não exigissem tanto de si.

Ele não pareceu se assustar com a possibilidade de quase ter tomado uma flechada, no entanto. Apenas inspirou o ar, fechando os olhos por um instante antes de corre-lo em volta.

— Eu gosto de caminhar à noite, apreciar o silêncio e a brisa fresca. Você não? — sua voz era um tanto áspera, cansada, mas o tom era leve.

— Eu prefiro o calor das manhãs. — o respondi, tentando soar amigável — Está frio e é perigoso andar nesse escuro, devia voltar. Se quiser, eu posso acompanha-lo.

Thriller | Changki Apocalypse!ficOnde histórias criam vida. Descubra agora