18 de Junho de 2016

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Fomos o resto do caminho em silêncio. Eu desconfio que Sam aproveitou que estávamos assim e, teoricamente, em paz, conduziu o jato na velocidade mínima. Talvez tenha a chance de estarmos com pouco combustível, mas ainda assim, acho que ele uniu uma coisa a outra.

Com Wanda dormindo, Sam pilotando e com cara de quem não queria conversar e Natasha e eu nos evitando — não ficávamos no mesmo ambiente, não andávamos no mesmo corredor, não respirávamos o mesmo ar —, eu fiquei sem saber o que fazer.

Já tinha dormido e estava sem vontade alguma de comer. Minha cabeça só pesava e me acusava de tudo o que tinha acontecido em um dia.

Repassei minha conversa com a Wanda quando estávamos indo pra Dhaka e aquilo só me fez sentir pior.

Soltei um resmungo alto e Natasha passou na hora, tomando um leve susto. Não dissemos nada um pro outro, mas nenhum dos dois conseguia desviar o olhar. Como nós fomos de chiclete pra polos negativos? 

— Pouso em cinco minutos galera. — Sam avisou pelo microfone e a troca de olhares foi desfeita.

Andei pelo outro corredor pra acordar a Wanda, mas parecia que Natasha tinha tido a mesma ideia. É difícil pensar igual com a pessoa que você quer e não quer ver/falar ao mesmo tempo. Segui meu caminho como se estivesse sozinho e chegamos nela ao mesmo tempo. Por que tão orgulhosos?

— Wanda, acorda.

— Estamos pousando, Wanda, senta. — dissemos ao mesmo tempo, mas ela nem se mexeu.

— Wanda. — balancei seu corpo devagar, mas ela continuava dormindo — Ei, Wanda, acorda...

— Wanda dorme como pedra. Você está acordando a Bela Adormecida que dorme há cem anos, não a Branca de Neve que dormiu apenas quinze minutos. — Natasha reclamou — Wanda, se você não acordar agora, vai perder as panquecas com mel e morango.

E como se fosse mágica, ela acordou.

— Mas o que...

— Oi, tô acordada, cheguei. — ela disse, sentando de supetão — O que aconteceu?

— Estamos pousando. Coloca o cinto.

— Tá. Cadê as panquecas?

— Não tem.

— Que droga, por que você me acorda assim?

— Melhor perguntar porque seu sono é tão pesado. — Natasha retrucou enquanto a ruiva reclamava.

— Eu estava sonhando, tá bem? Steve, pode dizer a ela pra não fazer mais isso?

Paralisei no lugar. Eu? Dizer a Natasha pra não fazer mais isso ou aquilo? Só se for pra ganhar uma viagem só de ida e sem paraquedas direto pro chão abaixo de nós. Wanda percebeu que ficamos os dois em silêncio e disse:

— Ah não. Vocês ainda não conversaram? — silêncio — Juro que a minha realidade no sonho era mais interessante do que acordar e ver vocês assim, argh! — saiu jogando a coberta pro lado e pisando duro, resmungando em sokoviano.

Ficamos eu e Natasha sozinhos de novo e o clima estava tenso e pesado, mas diferente da última vez, a gente não se olhava. E não, eu não ia de forma alguma me desculpar com ela primeiro. Não mesmo.

— Sam está chamando. Precisamos ir. — ela disse rangendo os dentes, como se a raiva subisse ao conversar comigo. Que bom Natasha, que bom, estou sentindo a mesma coisa!

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