04 de Julho de 2016

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Sabe o que dizem sobre os aniversários? Que são datas importantes e que merecem ser comemoradas. Que devem ser datas relembradas por aqueles que nos amam e verdadeiramente celebrados, ainda que o motivo seja o fato de você estar ficando mais velho, o que teoricamente, não é algo bom. E esse é o dia que eu estou narrando agora:

Meu aniversário.

Era pra ser igual eu disse, comemorado, um dia feliz, de alegria e todas aquelas coisas típicas que fazem pro aniversariante.

Só que pra nós, os Nômades, Vingadores Secretos ou seja lá qual nome você queira dar pro nosso quarteto foragido, o dia 4 de julho significou um dia de desgraça.

É, é verdade. A nossa fuga ganhou um outro nível nesse dia.

Estávamos em Arenillas, a capital do estado de El Oro, no sul do Equador desde que saímos de Coveñas, no dia vinte e oito. Uma cidade quente de dia e um pouco menos calorenta de noite. Por causa da temperatura, abandonamos a ideia de usar o uniforme — que colocávamos embaixo da roupa —, pelo menos por agora. Se acontecesse alguma coisa, teríamos que ter o dobro de cuidado pra não acabarmos machucando demais, já que o uniforme era forte e resistente e não estaríamos mais com eles. 

Durante esses dias, nos ocupamos com trabalho voluntário, cada dia em uma instituição diferente. Orfanatos, asilos, presídios — esses com menos frequência — e todos os lugares mais carentes, como comunidades mais afastadas do centro e da atenção do governo. 

Na madrugada de passagem pro 4 de julho, eu não dormi. No dia anterior, o 3, nós fomos até um asilo e eles eram muito mais carentes do que imaginávamos. Não tive coragem de deixá-los, não naquela noite. 

Wanda e Sam foram pro hotel às oito. Nat já estava quase dormindo às onze. Insisti com ela pra que fosse embora, estava tarde e ela cansada. Ela bateu o pé, disse que o acordo era dois juntos e eu sei que ela estava certa, mas eu não podia deixá-la me esperando ali e não podia abandonar a instituição, não quando tinham faltado três enfermeiras no mesmo dia. 

Natasha saiu de lá eram dez pra meia noite. Eu, só às três da manhã. Cheguei no hotel moído, só querendo dormir.

Sam roncava, quase cairia da cama se eu não tivesse ajeitado. Wanda empurrava as cobertas pra longe, totalmente inconsciente. Natasha estava encolhida no espaço na cama de casal que estava no meio, sem usar o território que era dela.

Tomei um banho qualquer, coloquei o pijama e deitei do lado de Natasha. Eu não entedia a forma como que mesmo dormindo, ela sentia minha presença. Quando seu corpo se aninhou ao meu, eu assustei, mas depois passei meu braço ao redor dela, deixando-a mais confortável. 

O dia amanheceu mais rápido do que eu desejei e de manhã, eu nem lembrava da data ou da importância que ela deveria ter pra mim. 

A programação de hoje era o orfanato e foi tão cheio e cansativo como ontem. Crianças podem ser tão cansativas e birrentas igual idosos em asilo. Ainda assim, não os culpava. 

Assim como ontem, fui o último a subir pro hotel. Natasha tinha pedido pra comprar um relaxante muscular, porque segundo ela, ela era do tipo que precisava tomar remédio depois de um dia cansativo. 

Abri a porta de cabeça baixa, as luzes todas apagadas, algo que não deveria ser normal naquele horário, já que eram oito da noite. Quando liguei o aparador, Natasha segurava um bolo médio com mais velas do que eu poderia contar, Sam estava com um chapéu e um nariz de palhaço e Wanda começou a agitar os balões que estavam em sua mão e alguns espalhados pelo chão.

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