21 de Junho de 2016

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Os meninos chegaram meia hora depois da conversa e eu agradeci por eu e Natasha não termos começado nada.

Almoçamos todos juntos e o clima era bem mais leve. Ali eu percebi que éramos de fato uma família, como um corpo: se um estava mal, o resto todo ficava.

Eu e Natasha pedimos desculpas aos dois por tudo o que havíamos feito e falado durante esses dias entre Dhaka e Maripasoula. Nada disso queria dizer que não voltaríamos a brigar ou ter as nossas diferenças, mas mostrava que estávamos dispostos a pedir perdão sempre que necessário.

Quando estávamos no mesmo quarto pra acertar tudo o que tínhamos, eu, Natasha, Sam e Wanda conversamos muito sobre como deveríamos proceder com o que ocasionalmente viesse a acontecer. O acidente em Dhaka mexeu muito com cada um de nós e coisas parecidas poderiam voltar a acontecer. Montamos, então, uma lista de regras que em sua maioria, deveriam ser seguidas exatamente como foram propostas. São elas:

Regra número um: nunca, jamais, em hipótese alguma, sair sozinho. Não só por um ser mais fácil de abordar e pegar do que dois, mas Natasha só conseguiu evitar uma catástrofe grande em Bangladesh porque Wanda ligou pra ela. Se um faz algo que não deveria, o outro está lá pra tentar colocar juízo ou se desesperar e ligar pros outros.

Regra número dois: nunca sair desarmado. Você sabe que me doeu, não adianta enganar, mas eu preferia que Wanda tivesse uma arma do que ser ferida por uma, ainda que ela fosse uma arma ainda maior, mais perigosa e poderosa. Pra Natasha aquilo já era parte do dia a dia, mas pra mim e Sam foi um pouco mais complicado. Não era muito legal ir na farmácia armado, incomodava um pouco, mas era um incômodo que teríamos que passar. Deus me ajude.

Regra número três: sempre estar com o ponto no ouvido. Foi algo que não agradou a nenhum de nós, mas que assim como a arma, era algo necessário. Toda vez que saíssemos teríamos que usar. Precaução nunca era demais.

Regra número quatro: avisar sempre que for sair.

Regra número cinco: voltar a usar os uniformes. Obviamente, da forma mais discreta possível, ainda que não soubéssemos exatamente como, mas era péssimo ajudar as pessoas com roupa comum. O uniforme além de ser mais seguro e adequado, dava uma sensação de ser útil de novo.

Regra número seis: só bater na porta do casal quando e se for extremamente urgente. Ei! Espera aí, eu não escrevi isso!

Se caso houvesse alguma vez que nós nos distanciássemos dos outros, concordamos num acordo de três comandos: Ficar perto, dar notícias e não se arriscar.  

E foi assim que passamos os últimos três dias em Maripasoula: seguindo regras. 

Enquanto Wanda e Sam caminhavam — ela estava aguentando bem a aposta, apesar de estar sempre reclamando —, eles viram uma comunidade haitiana mais carente no caminho e resolveram ajudar no que precisassem, como trabalhos braçais. Sem nada pra fazer e movidos pela compaixão, dedicamos os nossos dias a ajudá-los no que precisassem. Um pouco receosos no início, mas o grupo haitiano aceitou bem a nossa ajuda.

Era de noite quando decidimos que já tínhamos passado tempo demais. Arrumamos as coisas e rapidamente dissemos adeus a Maripasoula.

— Eu estava pensando em irmos pra Bolívia ou pro Brasil, o que acham? Abastecemos o quinjet, então acho que ele aguenta a viagem. — Natasha perguntou quando estávamos andando de volta pro quinjet. Eu gostava que ela estava se esforçando pra não decidir tudo sozinha.

— Eu gosto da ideia, especialmente o Brasil que é um país bem grande, a gente tem muita variedade de lugar. — concordei e ela sorriu.

Então vamos pro Brasil. — Natasha concluiu — Podemos ir pra Amazônia e vocês dois escolhem a cidade dessa vez, o que acham?

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