15 de Julho de 2016

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Não me demorei muito na cozinha, onde éramos o centro das atenções. Não tinha paciência e muito menos vontade de explicar o que tinha acontecido desde Sokovia, ou desde abril desse ano. 

Puxei Wanda delicadamente pelo braço e acenei pra saída pra Sam me acompanhar. No corredor dos quartos, parei bruscamente.

— Vocês não precisam explicar nada pra ninguém.

— A gente sabe. assenti concordando. 

— Melhor irmos pros quatros então. O dia hoje já foi cheio o suficiente.

Wanda entrou no quarto dela em frente ao meu, dando boa noite. Sam foi logo em seguida, entrando no quarto ao lado do dela. 

Eu pensei em entrar no meu. Juro. Tinha tempos que eu não entrava e dormia no quarto que até uns tempos atrás, eu chamava de meu com toda certeza. Mas eu não entrei. 

Ao contrário disso, parei na porta ao lado da minha: o quarto de Natasha. 

Eu sabia que ela não queria me ver e por isso, não tinha ido atrás dela. Eu sabia que não devia entrar no quarto dela sem o consentimento da dona, mas eu não queria dormir longe dela. Alguma hora ela ia entrar e se eu não saísse pela mesma porta, se deitaria comigo pra dormirmos ou conversarmos

O quarto continuava do mesmo jeito que ela tinha deixado: a estante cheia de livros de suspense, mistério e fantasia, a escrivaninha com duas armas que não teve tempo de pegar antes da fuga, junto com os cartuchos e o silenciador.

Incrivelmente, ele não cheirava a mofo, mas sim tinha um cheiro agradável de rosas. É como se soubessem que algum dia, nós voltaríamos. 

Tirei toda farda do uniforme e deixei no chão do banheiro, antes de entrar pro box com a água gelada. Queria Natasha ali comigo, assim como na Rússia, mas sabia que se ela entrasse por aquela porta, a última coisa que faria seria entrar no banho comigo, como queria mais cedo. 

Cacei uma roupa minha no armário dela que eu sabia que devia ter, mas tudo o que achei em menos de um minuto foi uma calça cinza de moletom. 

Ajeitei a cama, tirando o edredom e arrumando os travesseiros. Quando dormiamos juntos nesse quarto, o lado de Natasha sempre era o da parede, mas eu não sabia se ela ficaria ali comigo, então peguei seu lugar. Além disso, se tivesse um resquício dela que eu pudesse me apegar pra não me sentir sozinho, eu faria. 

Não consegui dormir. Rolava na cama dos dois lados, andava um pouco, olhava o céu na sacada, mas nada me fazia pregar os olhos. Eu estava cansado, mas não conseguia dormir porque tinha me acostumado a fazer isso com Natasha e ficar sem ela era um tormento. Tinha ficado dependente dela.

Eu senti ela entrar por debaixo das cobertas e me abraçar meia hora depois da minha última tentativa de dormir e de acreditar que ela viria. Mas ela veio.

A atitude me surpreendeu, mas por pouco tempo. Estávamos cansados demais pra brigar e incapazes de dormir um longe do outro e não era só hoje. Isso é desde Dhaka. 

— Não está mais com raiva? — perguntei depois de um tempo em silêncio, acariciando sua mão em minha barriga. 

— Estou chateada, mas agora não é o momento pra discutirmos isso. Agora eu só quero dormir com você.

Tirei a mão dela e virei meu corpo pra olha-la. Os olhos estavam cansados, mas Natasha não hesitou em abrir um leve sorriso quando me olhou nos olhos.

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