14 de Julho de 2016

137 19 4
                                    

“Já reparou como a vida é uma caixinha de surpresas? Não, uma caixa não, uma bola grande e azul, tipo a Terra. Você nunca sabe o que esperar dela e só isso resumiu o nosso período de fuga, desde São Petersburgo até Paris, até agora.

Eu não queria começar essa página assim, mas juro que não sei como fazer isso de outra forma.

Natasha tinha decidido pela capital francesa alegando que precisávamos descansar um pouco e recuperar as energias. Como? Eu explico.

Segundo ela, quando estávamos em cidades teoricamente menores, sempre procurávamos algo pra fazer, alguém pra ajudar e a chance de sermos reconhecidos era menor. Cidades grandes nos impediam de nos aventurar pelos arredores, como fizemos em Maripasoula e Arenillas.

E além disso, durante esses dias em Paris, só sairíamos em caso de emergência, como no princípio, já que a última cidade que ficamos foi meio... Caótica.

Nós chegamos na França no dia dez, uma viagem curta, já que estávamos perto, teoricamente.

Ficamos em um hotel pequeno — o que foi difícil pra burro de achar, já que Paris é um destino muito procurado —, mas ficamos bem nos arredores da cidade, onde o movimento era menor e nem parecia ser a capital francesa.

Nesses dias de confinamento, tudo o que fizemos foi ficar em frente a tv, que adaptamos pra ouvir tudo em inglês, já que Wanda e Sam não falavam francês.

Foi um pouco tedioso na verdade, mudou um pouco quando Natasha voltou da rua com uma sacola com mais tinta de cabelo e um baralho.

Depois de escondermos a cor original do couro cabeludo, ficamos os quatro largados no quarto, jogando aquele jogo vicioso e que parecia nunca ter fim. Eu tive dó dos vizinhos de quarto porque a cada segundo, um de nós gritava alguma coisa referente a atividade super saudável que estávamos fazendo.

O dia quatorze, esse da página, começou ensolarado, como todos os outros dias, já que estávamos no verão. Eu planejava ir embora hoje à noite, pra mim já tinha dado tempo demais, mas Natasha disse pra ficarmos até amanhã de manhã, pelo menos.

— Podíamos pedir uma pizza, só pra fazer a França legendária.

— Não é uma ideia ruim. Legendária igual o chalé de Coveñas?

— Não dessa vez. — que tristeza — Os meninos vão estar conosco nessa. — até parece que eles não sabiam o que nós fazíamos — Estava pensando em irmos numa pizzaria que eu acho legal e depois podemos curtir um pouco a noite na Champs-Élysées. O que acha?

— Você quer que a gente saia? E o negócio de evitarmos isso? — eu conversava baixo com ela, depois que Natasha me trancou no banheiro quando eu fui escovar os dentes. Wanda e Sam estavam comendo pipoca que Nat comprou ontem enquanto viam uma animação.

— Eu sei, mas nós podemos sair por um dia... A gente vai embora amanhã mesmo.

— Você tem certeza disso? — perguntei desviando o olhar da pia e olhando pra ela — Nós estamos numa capital mundialmente conhecida.

— Eu sei, mas... Eu tenho quase certeza que não seremos reconhecidos. — segurou minha mão, apertando de leve. Estava me passando segurança e pedindo pra que eu confiasse. Confiasse nela.

Soltei o ar pelo nariz e beijei sua testa. Não tinha ideia do que a noite nos reservaria, mas eu não sentia que era agradável, mas faria, por ela.

Diário De Uma PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora