Discórdia

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Levantei-me estabanada da cadeira.

O quê?! — Indaguei uma oitava acima.

Lara só poderia estar brincando, certo?

Errado. Ela começou a andar rápido em linha reta pelo meu quarto, dando a volta ao encontrar barreiras, os olhos no chão. Chacoalhando as mãos, como se pudesse se livrar do nervosismo, relatou em tom apreensivo:

— Eu cheguei lá com Ryan e, nossa, os carros eram lindos! Mas depois de uma hora você não sabe quem apareceu! Bom, acho que sabe, sim, o Justin! Eu olhei muito brava para o Ryan porque ele havia me prometido, mas para ser sincera, ele parecia totalmente surpreso e desconcertado pela presença da peste! Justin teve a pachorra de vir para o nosso lado enquanto eu questionava o Ryan e me veio com: Oi, Lawra — fez uma imitação ruim da voz dele, acompanhada de uma careta —. Eu só olhei bem pra cara dele com desprezo e me voltei para o Ryan e disse: eu vou embora. Mas quando dei as costas, o traidorzinho de araque começou a argumentar que não estava ali para me impedir, que não nos atrapalharia — ela recuperou o fôlego, parando de andar para me olhar — Eu rebatia com não muita simpatia, e disse que não queria estar em lugar algum que ele estivesse. Daí, ele revirou os olhos e tirou a chave do bolso, me estendendo. E disse: eu não estou tentando te comprar, mas sei que queria dirigir meu carro, faça bom proveito que eu vou me juntar com meus outros amigos. Eu só olhei ele de cima a baixo, e então a praga jogou a chave para o Ryan e saiu de perto.

A pior parte ainda estava por chegar, provavelmente seria melhor ouvir aquilo sentada. Andei até minha cama e me sentei devagar no colchão. Se eu fosse desmaiar a cadeira não me seguraria.

— A culpa foi dele, afinal, eu não pedi! Mas enfim, Ryan e eu continuamos numa minidiscussão em que eu acabei chegando a conclusão de que eu me aproveitaria do carro sim, já que aquilo era o mínimo que ele podia fazer para nos compensar!

Arqueei uma sobrancelha para ela. Lara cruzou os braços.

— Tá, uma parte também porque eu não sabia se teria outra oportunidade de dirigir um carro daqueles. Não vem ao caso. Eu peguei a chave na força do ódio e tentei não demonstrar o quão impressionada fiquei, só que eu te garanto que, uau, que carro incrível, e todos ficaram olhando enquanto eu passava com ele, e eu estava indo bem, mas... — ela parou e me deu uma olhadinha hesitante de rabo de olho.

Havia algo ainda pior do que simplesmente ter batido um carro que custa milhões de reais? Apoiei a mão na cabeça, expirando.

— Continue, Lara.

Seus ombros caíram um pouquinho.

— Eu... vi que o Justin estava com a mão na cintura de uma mulher e muito próximo, mas constatei que era só um beijo no rosto. Provavelmente só um cumprimento — acrescentou rápido —. A mulher era aquela Jenner, a Kendall. Quando voltei para frente já estava em cima de uma curva, e não consegui voltar todo o volante antes que batesse, na altura do farol esquerdo, no poste — finalizou, sôfrega, segurando a cabeça.

Coloquei as duas mãos na boca, chocada mesmo já sabendo que essa seria a conclusão. Como se o desenrolar da história pudesse mudar os fatos. Para minha própria sanidade, ignorei a parte que mencionava Kendall. Não era da minha conta se ele havia ido para o evento idiota só por causa dela ou se eles estavam nutrindo uma amizade colorida. Já era o esperado. Gente como ele nasce para ficar com gente como ela. Perfeita. Que atende a todos os padrões sociais.

Balancei a cabeça, expulsando os pensamentos inúteis e cortantes para me focar nas necessidades práticas, apreensiva a ponto de ter dor na barriga.

Litigious LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora