Encurralada

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— A primeira intuição de que algo está errado, me ligue — minha mãe repetiu pela centésima vez.

Meu pai estava carrancudo ao seu lado, ainda parecia ponderar se me acorrentar ao pé da cama era uma boa ideia. Eu abri um sorriso largo, exibindo todos os dentes para incentivá-lo a sorrir também. O vinco em sua testa se aprofundou e ele suspirou.

— Eu sou uma mulher de negócios, pessoal, vou ficar bem. Prometo avisar qualquer coisa — eu posso ter utilizado como argumentação o fato de Kylie estar na festa (sem saber se estaria de fato), explicando que interagir com uma das influencers era uma boa estratégia para a divulgação.

Ainda assim, eles continuavam achando uma ideia ruim. Provavelmente suspeitavam que aquela não era minha motivação principal.

— A Lara deveria pelo menos ir para Los Angeles também...

A dita cuja balançou a cabeça.

— Tenho meus contatos em Los Angeles, se precisarmos podemos acioná-los. Agora vamos logo que o teatro tem hora marcada. Danilo!

Seu único contato em Los Angeles só podia ser Ryan, o que não traria tanta segurança aos meus pais se soubessem. Aliás, pensei que minha irmã pediria que Justin lhe deixasse comparecer à festa também (embora não fosse dele), mas por alguma razão ela preferia ir ao teatro com meu amigo do que socializar com um grupo desconhecido de jovens milionários – e Ryan. Teria algo a ver com Matheus? Ou só se deixara contaminar por meu baixo nível de sociabilidade?

Danilo desceu as escadas aos pulos e nos dirigimos à porta de imediato. O caminho foi silencioso. Ou eu estava demasiadamente concentrada nas borboletas em meu estômago. Eu esperava que a sensação de estar prestes a pular de um paraquedas fosse diminuindo conforme nos víamos mais, mas o desespero aprazível só aumentava. Talvez porque eu soubesse de fato estar brincando na corda bamba em cima de um penhasco, cada vez mais longe da beirada...

— Júlia, se alguma coisa acontecer a você, eu espero que ele saiba...

— Que você vai esfolar o rosto de milhões e cortar as pregas vocais dele com suas próprias mãos — completei a frase que meu pai já havia me dito três vezes antes de descer do carro.

— Passe o recado a frente. A Lara tem o contato dele, certo? — Perguntou pela quarta vez.

— Tenho, pai — ela respondeu de forma monótona.

Ele me olhou fixamente, com a janela abaixada, assim que fechei a porta do carro.

— Eu não confio nele. Pelo amor de Deus, filha, tome cuidado.

— Está tudo bem — garanti. Imaginava que para a maior preocupação dele, do tipo sequestro e tráfico humano, eu estaria mesmo segura.

— Divirta-se com sabedoria, não tome bebida do copo de ninguém, muito menos aceite copos que você não viu serem enchidos! — Lara cochichou da janela, pensei que para não gerar mais alarde, em uma expressão rara de autoridade.

— Sim, senhora.

E me afastei deles, entrando no aeroporto particular. Percebi que o carro não andou, mesmo depois que passei pelas portas, e então me distraí com a visão do homem que me esperava do outro lado delas. Justin conferia um relógio no pulso.

Quanto tempo mais seria necessário para me acostumar com o brilho dos seus olhos? Cujos quais assumiam maior vida ultimamente ao me encontrar, tão ternos e cativantes. E aquele sorriso que aumentava gradualmente, como se me abrisse sua luz interior por partes, o que tornava o momento mais arrebatador. Até chegar perto dele eu já estava sem fôlego.

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⏰ Última atualização: Apr 29, 2023 ⏰

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