Litigious Love

Batalha Perdida

Ainda estava trêmula quando retornei à mesa. As conversas cessaram assim que os presentes me notaram arrastar a cadeira. Mantive a cabeça baixa, mas podia ver que Justin me encarava sem discrição, certo contentamento repuxando com leveza os cantos de sua boca.

— Tudo bem, Ju? — Perguntou Lara em tom sóbrio. Eu sabia, contudo, que se olhasse na sua direção acabaria com seu esforço para não fazer alarde. E, grata pela sua delicadeza de não me constranger em público, não quis prejudicar o momento.

Aquiesci e me sentei com naturalidade. Notei que havia nachos com guacamole na mesa e me ocupei de pegar um e colocar na boca depressa, a fim de demonstrar impossibilidade de fala. Com duas mastigadas os assuntos retornaram devagar a minha volta, contudo percebi o olhar de rabo de olho de Danilo. O gosto seco do nacho se misturou bem com o tomate, pimenta e abacate, ingredientes que prevaleciam no molho. Não era uma coisa tão apelativa ao meu paladar, mas eu não me incomodava em comer.

Justin chutou meu pé embaixo da mesa, atraindo minha atenção. Ele ergueu o indicador e o dobrou, passando no ar rente a bochecha, exibia um sorrisinho provocador. Fechei a cara e chutei seu pé de volta como punição, ainda assim, seu destaque para meu rubor intensificou o calor em meu rosto. Revirei os olhos quando ele deixou escapulir uma risadinha baixa e abaixei a cabeça para mais um nacho no intuito de esconder o sorriso que queria tomar meu rosto. A risada dele era minha melodia favorita.

— O que você acha, Juli? — captei a pergunta de Danilo ao ouvir meu nome, mas não soube identificar quais palavras exigiam minha opinião.

Olhei pra ele tentando identificar o assunto entreouvido. Conhecendo-me como ninguém, ele soube que eu estava perdida.

— O clima do Brasil está mais agradável nessa época do tempo? — gesticulou com a mão a nossa volta, envolvendo o ar levemente gelado. O pior do frio já havia passado, medindo pelos últimos dias.

— Ah, depende do que você gosta. Com certeza é muito mais quente — murmurei.

— E você gosta mais quente ou frio? — Justin me perguntou. O tom de sua voz podia apresentar interpretação dúbia e eu quis rir ao tempo que senti o calor gelado em meu estômago. Sua expressão, contudo, estava exageradamente composta.

Motivada pela sensação, respondi:

— Bem, gosto de uma junção dos dois.

O cantinho da sua boca se repuxou e seus olhos acompanharam o sorriso pra mim, cheio de significados indizíveis.

— É verdade — Danilo se intrometeu — A Júlia não suportaria viver num lugar com muita neve como o Canadá, por exemplo.

Me perguntei se apenas para mim soava como uma pitada de provocação. Ele estava sentado de modo relaxado na mesa, mas eu podia ver pelo pé balançando que gostaria de ir embora.

— Hmm, mas visitar seria bom — acrescentei na defensiva — Tenho vontade de conhecer o Canadá e a neve.

— Para sua sorte, conhece um canadense que não se importaria de lhe apresentar o país — Justin se inclinou na mesa, apresentando-me um sorriso convidativo.

Seria mentira se eu dissesse que não havia o imaginado sendo meu guia turístico no seu país de origem, mas ouvir de sua própria boca foi demais para meu fraco coração, que deu um pinote. Eu não o perdoaria por dar mais asas às minhas ilusões.

— Eu gostaria de conhecer a Europa — Danilo reverteu a atenção.

Patrick levantou as mãos.

— Não espere que eu te ofereça um tour por lá.