Dilema

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Espalmei as mãos na mesa e empertiguei os ombros. Semicerrei os olhos e encarei o mais profundo de sua íris cor de mel. Eu também tinha uma mensagem para ele e gostaria que a compreendesse bem:

— Não. — Pronunciei devagar e em bom som. — Eu quero e irei publicá-lo. É a minha carreira.

Contive a vontade de limpar o suor que eu sentia se formar em minha testa. Eu não permitira que visse algum tipo de vulnerabilidade em mim. Já era o suficiente que soubesse do meu fanatismo por ele desde os meus onze anos de idade. Fato este que agravava o tremor em minhas pernas, chegava às minhas tripas e alternava meus batimentos cardíacos.

Vi quando, por puro desgosto, apertou ainda mais a linha dos lábios, bem diferente do sorriso que sonhei em ver ali quando nos conhecêssemos. As veias saltavam em seus braços de punhos cerrados, ao passo que a camisa preta lisa escondia a tensão em seus ombros musculosos. As palavras foram igualmente agressivas:

— Então é guerra.

Justin Bieber já estragava meu sonho de infância de conhecê-lo, deixar que arruinasse minha tão almejada carreira de escritora de sucesso não era uma opção. Não esbocei reação às suas palavras, embora, no fundo, elas me intimidassem como o diabo. Aquele homem milionário, famoso e adorado mundialmente se levantar contra mim me dava a terrível impressão de que seria transformada em pó.

— Essa é a última coisa que eu quero. Espero que esteja ciente disso. — Falei, surpresa que minha voz permanecesse estável e confiante, bem diferente de como eu me sentia. Precisava lhe ofertar a paz sem me humilhar.

O canto da sua boca se contorceu em um sorriso sarcástico.

— É o que você está pedindo. — Pegou sua jaqueta e a pendurou no braço dobrado — Você terá notícias dos meus advogados, Giulia. — Destacou a pronúncia equivocada do meu nome, provavelmente apenas para me irritar, e deu-me as costas. Visualizei faíscas de fogo emitidas por cada passo duro que ele dava até a porta.

Eu estava abismada demais com o ponto que aquela conversa havia chegado em tão pouco tempo para ter alguma reação. O turbilhão de emoções dentro de mim me deixou repentinamente exausta e fiquei feliz por estar sentada ou correria sérios riscos de cair no chão.

Como ele podia?! Aquele... Aquele... Verme-bonito-mal-educado-talentoso-grosso-cheiroso-sem coração? Devido a algumas notícias passadas do seu tratamento com os fãs eu sempre temi que o encontrasse num dia ruim. Mas aquilo era pior do que eu pensava. Terminei nosso encontro com a ameaça de um processo. Logo eu que o defendi a unhas e dentes por tantos anos e fui alvo de chacota por ser sua fã! Ingrato!

Estava tão furiosa que só notei Lara no cômodo quando ela colocou a mão em meu ombro, numa tentativa física de me confortar.

— Não chore, Ju. Foi tão ruim assim? — perguntou delicadamente.

Surpresa, realmente senti minhas bochechas molhadas quando passei a mão nelas. Podiam ser em parte por tristeza, mas também de decepção e fúria. Percebi, então, meu rosto queimando.

— Ele acha que vai me intimidar. Mas não me conhece. — No fim meu peito ardia mais de raiva, talvez numa tentativa de camuflar a mágoa profunda. — Precisamos da Fani e daquele advogado.

Meus pais, parados e apreensivos à minha frente, falaram praticamente ao mesmo tempo.

— Já ligamos.

Não demorou muito para a cavalaria chegar. Só o suficiente para que eu digerisse o choque do meu cantor favorito ter agito feito um babaca comigo e assumisse a postura defensiva/ofensiva de alguém disposto a lutar por seus interesses. Pra isso só precisei devorar um pacote de bolacha enquanto esperava, o gosto do chocolate artificial ainda na língua enquanto ouvia o advogado falar — eu precisava descobrir o nome desse homem.

Litigious LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora