Tóxico

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— Aham... Entendi... Protocolado, né?... Para o juiz decidir... Sim. É claro — Lara suspirou, conversando com nosso advogado pelo telefone. Parecia um suspiro de... alívio?

Todos nós estávamos reunidos a sua volta, a ansiedade fechando o círculo. Lara foi a escolhida para ligar ao advogado com a notícia da visita rápida que recebemos. Lhe enviara uma foto do documento e o consultava sobre sua validade. Contorci as mãos embaixo do queixo, aflita.

— Sim... — Agora ela estava sorrindo. Olhou para mim de olhos arregalados, o semblante em êxtase — Uau, sim! Claro, vamos marcar... Até! Obrigada! — Desligou. Deu um pulo, voltando-se completamente em minha direção — É verdade, o advogado colocou no processo hoje! Só falta o juiz dar o ok e já estamos liberados!

Parecia o final da copa de 2002. A alegria recaiu sobre nós feito chuva torrencial e expressamos o sentimento em movimentos efusivos do corpo. Pés empurrando o chão, mãos acima da cabeça, abraços e manifestações verbais desordenadas. November internacional!!!

— Eu estou aqui para ver a publicação! — Danilo comemorou com uma dancinha aleatória — Nossa saída agora assumiu novo significado!

— Dr. Russel disse para agendarmos com Fani e Josh a fim de passar os esclarecimentos gerais. Talvez depois da decisão do juiz. Precisamos acertar com Fani — Lara esclareceu, ofegante, a mão no peito.

— Finalmente o homem adquiriu um pouco de noção! Liguem para a Stefani, precisamos comemorar junto com ela! — Meu pai exultou, gesticulando com as mãos. Imprimiu certo desprezo na palavra "homem", certamente pelo sujeito em questão e não ao gênero.

Dentro de mim, reconheci o incômodo e ímpeto de defender "o homem". Talvez por costume de sempre ter esse tipo de discussão com meu pai. Ou porque, apesar de toda a situação, eu ainda me importava com ele. Explorando esse sentimento, identifiquei a brechinha para a sútil infelicidade poluindo aquele momento de comemoração. Concluí que precisávamos conversar direito. As coisas não podiam terminar tão mal resolvidas assim. Havíamos criado vínculo mais profundo do que duas partes opostas de um processo.

É claro que ele havia sido um babaca e eu não queria voltar a lamber o chão onde passava, mas...

— Ju —meu pai estalou os dedos em frente aos meus olhos — Ligue para a Stefani, sim?

Todos eles olhavam para mim num misto de curiosidade e confusão à minha expressão. Eu não fazia ideia de qual era.

— Deixa que eu ligo — Lara sugeriu, já discando em seu celular.

— Onde você gostaria de ir, filha? — Minha mãe tocou meu braço, como se precisasse mais do que a manifestação verbal para me chamar atenção. Provavelmente estava certa.

Apontei com o queixo para Danilo.

— Passo o bastão para o Danilo. Vamos no Gaslamp e ele decide.

Ele colocou a mão em meu ombro.

— Será uma honra, querida amiga, mas aceito sugestões.

Justin era meu guia turístico, ele conhecia os melhores lugares. Desde que assumira tal função, não me preocupei mais com isso. O pensamento me deu mais uma pontadinha de tristeza.

Ao mesmo tempo, logo me repreendi: Júlia! Trate de viver este momento épico direito com a sua família!

Parecia que ainda não me caíra a ficha: Eu publicaria meu livro!

Finalmente teria meu livro publicado no mercado internacional!

Meu sonho profissional realizado!

Litigious LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora