Perigoso

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 Aquela era a melhor experiência da minha vida inteira. Meu subconsciente me avisava que eu tinha uma lista ótima de experiências, e parecia um exagero subi-la ao topo assim. Mas, a maioria dos meus pensamentos apenas se deslumbrava com a ideia, eu sentia tanta emoção correr por minhas veias que parecia demais para lidar. Meu corpo não sabia como reagir. Talvez eu fosse desmaiar dali a pouco.

Justin colocou a mão nas minhas costas para me guiar enquanto me conduzia na frente daquela espécie de casa longa com janelas brancas e paredes vermelhas, havia uma abertura no solo na extremidade esquerda, um lance de escadas para baixo. Ele parecia ter adivinhado minha necessidade de apoio. Seu toque era reconfortante, mas ao mesmo tempo me deixava mais eletrizada. Eu sentia que meus olhos saltavam das órbitas quando ele abriu a porta dupla de vidro. Um grande corredor branco se estendia a nossa frente. Diversas caixas pretas empilhadas estavam nos cantos, junto com algumas mesas curiosas permeadas por luzes. O teto era cheio de lâmpadas redondas, separadas em poucos centímetros umas das outras, o chão recoberto por aquele material cinza confortável e silencioso. Perguntei-me se era esse o intuito, de manter nossos passos com o menor ruído possível.

Ignoramos as primeiras portas, após as letras douradas que formavam as palavras Henson Studios Justin empurrou a porta dupla preta, havia um pequeno corredor com mais duas entradas à esquerda e mais uma porta preta a frente, Justin empurrou mais essa e apontou para que eu entrasse, muito presunçoso. Precisei colocar as mãos na boca por precaução ao sentir um grito histérico fanático escalar minha garganta.

— Bem vinda a minha batcaverna, Lia.

Eu não havia me preparado para aquilo, mesmo com o tempo que tivemos no carro até definitivamente chegar ali. Aquele não era qualquer estúdio. Era o estúdio em que ele produzia suas músicas, que gravara as duas obras de arte que havia me mostrado naquele dia. Era como se eu houvesse aberto uma porta pitoresca e entrado em meu sonho no fim do arco-íris. Era ali que a magia acontecia.

O cômodo não era muito grande, um tamanho razoável, oval, as paredes pareciam revestidas por madeira. Vários equipamentos estavam instalados em cada canto, uma versão diferente das mesas que eu vira no corredor anterior. Vários botões enfeitavam as superfícies, luzes coloridas piscavam das máquinas. Me parecia muito a central de uma nave espacial. A maior das mesas se concentrava na frente, quase tomando todo aquele canto, uma mesa de som gigante e complexa, um computador empoleirava-se nela, e fuçando nele estava um homem de óculos branco, moletom rosa, barba e bigode castanhos, orelhas um pouco pontudas. A parede na sua frente era revestida de vidro no meio, dando visão a outro espaço, onde estava o microfone.

— Lia, esse é o Josh, meu produtor — Justin disse quando o homem nos olhou.

Que ótimo, mais um Josh. Quando nomeei meu personagem de Josh não imaginei que o nome seria tão comum assim por ali. Será que a frequência era a mesma dos nomes Lucas, João e Matheus no Brasil? Que atire a primeira pedra quem não conhece um Lucas — ou quinhentos.

Apressei-me para estender minha mão a ele. Josh se levantou e abriu um sorriso muito simpático.

— Muito prazer, Josh — lutei para não gaguejar, desestruturada como estava.

— O prazer é todo meu, Lia.

— O nome dela é Julia — Justin pontuou de imediato, formando aquele beicinho para melhorar a pronúncia do meu nome.

— Ah — Josh se apressou em se corrigir — Julia.

Pensei em dizer que não me importava que usasse o apelido dado por Justin, mas não pareceu assim tão necessário. Deixei meus olhos explorarem um pouco mais e acabei identificando diversas caixas de som espalhadas, no centro três daqueles equipamentos estavam um do lado do outro, equilibrando um tampão de madeira que portava a fruteira. E no fundo, uma abertura na parede, pintada de preto, com um assento estofado embutido da mesma cor, lâmpadas redondas acima, como as do corredor.

Litigious LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora