Maldição

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Petrificada eu observei Justin se inclinar na minha direção, assustada com a velocidade alta e surreal das minhas batidas cardíacas. A respiração dele já batia em meus lábios trêmulos e antes que eu pudesse dar um sentido estratosférico para essa proximidade ele se abaixou mais um pouco para beijar meu queixo de modo lento. O contato doce da sua boca em minha pele me fez desvanecer, ampliado pela região sensível que alcançava. Era como apertasse um interruptor diretamente ligado a pisca-piscas em meu organismo. Engoli em seco e usei todo meu autocontrole para manter minhas mãos imóveis onde estavam, praticamente suando frio. Sabia que a menor das distrações me faria agarrar seu cabelo e puxar seu rosto um pouco mais para cima onde eu poderia...

Não, Júlia, nem imagine uma coisa dessas.

Mas por que eu não poderia? Ele estava mesmo abusando da própria sorte. E me dava a impressão de que não me rejeitaria caso eu...

E se ele estivesse apenas zombando da minha cara?

Eu quase não tinha mais forças quando ele se afastou abruptamente de olhos fechados, deixando-me fragilizada e insatisfeita. Deveria admitir ao menos para mim mesma, Danilo estava certo, eu corria certos riscos de perder o controle da situação.

— Vamos descer antes que eu tome atitudes demais — murmurou em voz baixa, de forma que eu não soube se queria mesmo que eu ouvisse aquilo. Então abriu a porta, enquanto eu sentia um calafrio descer alegremente por minha espinha. Atitudes demais?

Expirei. De fato, um ar me faria bem, ali naquele espaço pequeno tudo o que eu sentia era o seu cheiro.

Assim que um pouco do ar fresco de fora acariciou meu rosto, já me senti melhor — ignorei com fervor o arrepio de frio —, ao menos lúcida, embora o momento utópico de outrora repasse incessantemente em minha memória. Sua proximidade, a respiração quente e entrecortada... Balancei a cabeça, me concentrando nos meus pés. Tinha a impressão de que deveria usá-los para correr para bem longe.

— É, então... — ele começou a dizer desconcertado — Ei, Scoot! — aumentou o tom de voz.

Senti uma nova e diferente onda de nervosismo ao ver Scooter Braun travando seu carro — preto com cara daqueles automóveis vivos de filmes que são brabos — estacionado em uma das vagas do outro lado do estacionamento. Ele se virou para nós dois e abriu um meio sorriso, levantando uma sacola nas mãos para nos mostrar, provavelmente as trocas de roupa que Justin pedira. Reparei que deu uma avaliada rápida no que eu trajava.

— Justin... Tem certeza de que ele não vai se incomodar por eu estar aqui? — convergi, ainda trêmula, para o lado dele, nada disposta a estar sozinha assim que chegasse na nossa frente.

De fato, talvez eu devesse mesmo ficar um pouco longe de Justin no momento.

— Tenho. Ele sabe que você está aqui.

Estreitei os olhos para ele, desconfiada, mas não havia mais tempo de dizer nada, Scooter chegara na nossa frente.

— Olá, Julia, tudo bem? — Acenou com a cabeça para mim ao passo que entregava a sacola para Justin.

Eu uni as mãos nas costas, sem jeito e aquiesci.

— Muito bem, e você?

— Ótimo, obrigado por perguntar. E aí, JB, resolveu dar um mergulho no meio do expediente hoje? — Arqueou a sobrancelha. Captei a curvinha que seu lábio fez para baixo e para mim só podia significar repreensão velada. Contorci os dedos.

— Eu precisava mostrar Venice para a Lia, zelar pelo nosso patrimônio, sabe como é — lançou-me um sorriso de camaradagem. Perdi o ar.

— Lia, huh? — Scooter se virou para mim com gentileza, curioso com o apelido.

Litigious LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora