Temperatura

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 — Você já almoçou? — Justin perguntou, relaxando enquanto saía do estacionamento. As janelas permaneciam fechadas, e eu imaginei que ele não fosse abrir. Se eu já achava que era o mesmo perfume da noite do jantar, agora não podia restava nenhuma dúvida. Aquele aroma irritante hipnotizante.

Com teimosia, passei a controlar minha respiração, para não inspirar mais ar do que o estritamente necessário. Meus lábios se projetavam levemente para a frente, num beicinho de raiva. Eu não queria responder, e esperava que isso não ofendesse a diplomacia. Estava ali para ouvir suas propostas, e nada mais.

— Hm, Lia, preciso que me diga para saber a que lugar devo me dirigir... — Lançou-me um olhar rápido — Ou, se quiser, podemos ficar dando voltas no carro, talvez só precisemos parar para abastecer...

Suspirei com a pressão.

— Não almocei, estava nervosa com essa audiência a que fui obrigada a suportar — dotei minha voz de acusação, fuzilando-o com os olhos.

Aquilo pareceu diverti-lo mais e eu trinquei os dentes.

— Tudo bem, vou parar em um dos meus lugares favoritos em San Diego. Não comi ainda também. Além do mais, sei que no Brasil o almoço é uma refeição importante para vocês — disse, em tom de conversa, totalmente alheio ao meu espírito.

Encarei o para-brisa, notando como o veículo agia embaixo de mim. Eu nunca imaginei que andaria em uma Lamborghini e, apesar de estar enfurecida naquele momento, levaria essa parte da experiência para a vida toda, sabia disso. Eu já imaginava a cara do Danilo quando eu lhe contasse sobre o passeio que dera. O carro parecia de brinquedo, o barulho do motor se assemelhava ao som dos veículos de jogos de corrida ou da Fórmula 1. Era achatado, estreito, o console cheio de botões muito semelhante a uma máquina de fliperama. Não parecia real. E quando ele havia aberto a porta para eu entrar? Ela se direcionara para cima, posicionada como uma asa prestes a voar. Não se enquadrava na categoria "automóvel", estava um nível acima.

Imaginei que a fim de preencher o silêncio carregado, Justin ligou o som e de imediato tentei reconhecer a melodia da faixa iniciada, a batida era cativante, o dedilhar de um violão em harmonia com o baixo e alguns sons artificiais. Então, sua voz soou suave, e não ao meu lado exatamente, saindo da caixa de som. Fiquei reflexiva, revirando suas músicas em minha mente. Eu me gabava de conhecer todas. Como poderia não reconhecer aquela? A não ser que....

JB4???

Voltei-me para ele com os olhos ligeiramente arregalados, ele já me olhava de esguelha, um sorrisinho presunçoso no rosto.

— É boa, não é?

Boa???? Era uma obra de arte. Meu corpo se debatia para acompanhar o ritmo da música, mas eu resistia para não lhe dar aquela vitória. Os vocais estavam incríveis em conjunto com a demarcação de tempo pelo som grave. Se ele começasse a cantar em falsete eu enfartaria bem ali. Ódio, não podia negar seu talento.

— É algo em que estou trabalhando. Tem potencial, reconheço, espere só pela ponte.

Balancei a cabeça, descrente, cada vez mais ele obtinha mais e mais habilidade. Quase tive uma síncope quando ele cantou junto, em sua voz manhosa:

— You ain't gotta make your mind up right now, don't rush, no pressure

Eu já estava completamente envolvida com a canção louca para tê-la a meu alcance para escutar repetidas vezes, era uma daquelas músicas que eu me apaixonava completamente de primeira, o que não acontecia com muita frequência. Já podia me ver cantando o tempo todo, usando-a como animação em meus dias deprimentes.

Litigious LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora