Substância Química

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A porta foi aberta assim que coloquei meus pés na calçada, minha mãe e Lara atrás do meu pai, ansiosos e quase severos. Fui até eles sem olhar para trás, contrariando minha vontade. Eu queria me virar e acenar quando ouvi o carro se distanciando. Fora muita gentiliza da parte do Justin querer me acompanhar até a porta de casa com um Uber sendo que eu podia simplesmente vir sozinha. Mas ele me garantira que não era tão ruim a ponto de me deixar "desprotegida" daquele modo com um estrangeiro.

— Eu não conto como estrangeiro, é claro — ele piscou para mim, astuto.

— Claro.

Dei um sorrisinho ao me lembrar sem perceber que o faria. Minha família estreitou os olhos para mim.

— E então? — Meu pai perguntou, na expectativa.

Lara estava cobrindo a boca com a mão e eu tinha a impressão de que segurava uma risada.

Fiquei momentaneamente inexpressiva, tentando me lembrar o que queria saber. Lara virou de costas, seus ombros tremiam um pouco.

— Ele ofereceu algum acordo? — Minha mãe me incentivou impaciente.

— Ah! — Claro, o processo, ele havia me levado para uma conversa logo após a audiência de conciliação.

Entrei em casa primeiro e fechei a porta, usando os movimentos como desculpa para meu silêncio. Na verdade eu tentava me lembrar o que havíamos conversado sobre o processo... Parecia uma realidade quase distinta da que vivi nas últimas horas, o prazer de vê-lo produzir no estúdio, dar uma volta em seu jatinho particular, conversas amigáveis...

— Sim, isso. Consegui convencê-lo a ler o livro, vou enviar para ele no e-mail. Ele não prometeu nada, mas disse que vai dar uma chance. Também me contou que não é nada pessoal, é só um consenso geral de que pode ser um livro prejudicial à sua carreira — bufei com a ideia, eu nunca representaria uma ameaça para ele, tão insignificante quanto sou —, mas conseguimos tratar o assunto de forma mais pacífica. Creio que conseguiremos entrar num acordo.

Encostei-me nas costas do sofá, alvo dos olhos atentos da minha família. Meu pai ergueu uma sobrancelha.

— Foi um meio termo complicado de se encontrar? Você demorou tanto que pensei que ele havia solucionado a questão te esquartejando e jogando os pedaços no mar.

Revirei os olhos de forma cômica para o exagero.

— Ah, sim. Conversamos bastante, não consegui que encerrasse o processo, mas se seguirmos nesse caminho pode ser que dê certo.

Ele cruzou os braços, ainda inquisidor.

— Vocês conversaram esse tempo todo só sobre isso? Para onde foram?

Pulei imediatamente para a defensiva, uma reação reflexa. O que eu poderia dizer? Será que ele ficaria bravo se eu contasse que estava em Los Angeles? Lembrei-me da ligação de Danilo e soube que não poderia mentir sendo que a qualquer momento saberiam a verdade. Isso se já não soubessem, meu pai adora jogar verde para colher maduro.

— Bom... Ele acabou me levando no estúdio dele para mostrar uma música, então falamos um pouco sobre isso também — e sobre pesquisas de fórmulas para pessoas se apaixonarem, acrescentei mentalmente, lembrando-me do momento tenso.

Óbvio que ele não precisava se esforçar para aquilo, eu já era apaixonada por ele há anos, como toda fã que se preze. A paixão em seu sentido pleno de "excesso de admiração". Com ele ao vivo e a cores o sentimento só se ampliaria — se e quando ele não estivesse tentando ser um babaca comigo. Aliás, como concluí naquela tarde, não havia uma só coisa que ele fazia que eu não admirava. Ninguém era tão bom quanto ele em nada.

Litigious LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora