Atrações

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*Autora aqui: escrevi inspirada em Rewrite the Stars - James, Maybe - James, Off My Face - do nenê. Fica aí a sugestão*


— Eu já estou me arrependendo disso — meu pai resmungou, olhando através da janela para a pista de voo particular com uma careta.

Antes que ele pudesse mudar de ideia, me apressei em desafivelar o cinto. Ele se virou sobre o banco para encarar Lara.

— Você sabe que só estou concordando com isso porque você vai. Por favor, se certifique de que ficará tudo bem. E qualquer coisa me ligue imediatamente — instruiu, as sobrancelhas pretas unidas.

Lara assentiu com solenidade.

— É claro, papai. Vai dar tudo certo — esticou-se para beijar a bochecha dele e depois da nossa mãe, que mantinha a mesma carranca de insatisfação.

Esforcei-me em dar meu sorriso mais confiante quando a atenção se voltou para mim, abraçando os dois sem jeito entre os bancos.

— Divirtam-se! Nós vamos nos cuidar.

Desci do carro num ímpeto, quase indiferente ao ar gelado em contraste com a temperatura agradável do veículo, contendo minhas pernas para não correr enquanto esperava minha irmã. Lara se firmou no chão com sua mochila rosa bebê compacta nas costas.

— Juízo — meu pai me atirou a palavra cortante, encarando-me pelo vidro abaixado. Seu olhar guardava a ameaça velada paternal de consequências terríveis em caso de mau comportamento.

Aquiesci prontamente e voltei-me para trás, agarrando o braço de Lara assim que ela pisou na calçada, quase a desequilibrei na minha pressa em me afastar do olhar mortal dos meus genitores e só respirei aliviada quando passamos pela porta.

— Eu não acredito que conseguimos — expirei.

Lara riu, passando o braço ao redor do meu ombro.

— Minha querida, a habilidade básica de um jurista é ter boa lábia. É claro que eu conseguiria — gabou-se.

Eu devia admitir, não estava muito confiante quando Lara resolveu abordar o assunto após o almoço em Balboa Park ao passo que eu simulava uma dor de barriga no banheiro. A abençoada havia se superado na argumentação fundamentada em face de Daniel, Estela e Fani. Eles não estavam muito felizes quando resolvi voltar, e passaram uma lista quilométrica de argumentações contrárias, as quais ouvi pacientemente sem brigar. Em certo ponto, entenderam que meu silêncio respeitoso não significava concordância e foram vencidos pelo cansaço. Saímos vitoriosas. Fani devia gostar muito menos de mim agora.

— Eles não querem que eu me rebele contra o controle parental — recordei-me.

— Sim, e por isso não podem exagerar em proibições sem muita lógica. Afinal, alguns ensinamentos só a vida pode dar, e se você insiste em quebrar a cara, que seja — repetiu uma de suas teses, e parecia se achar mais genial a cada momento, como se suas palavras envelhecessem como vinho.

Dei uma risadinha, franzindo a testa com o final do discurso.

— É ótimo que minha perspectiva de sucesso seja tão animadora assim para você.

Lara balançou a cabeça, ponderando enquanto nos aproximávamos do balcão. Eu já havia começado minha vistoria a nossa volta a procura dos canadenses. O lugar estava vazio como sempre.

— Alguns homens têm esse dom de nos fazer embarcar em viagens com destino certo para o naufrágio — suspirou, os olhos ao longe remetendo as próprias experiências — Mas no fim você terá a mim — sorriu, encorajando-me.

Litigious LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora