Fim

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As batidas surdas estavam casa vez mais altas, passos cujo dono eu não conseguia ver quando olhava para trás. Estava se aproximando. O meu peito queimava no esforço para respirar. Por quanto tempo mais aguentaria correr? Eu teria que parar. Minha garganta clamava por água e os calafrios em minha nuca só podiam confirmar sua proximidade. Em uma estratégia desesperada, mergulhei para o chão e caí num baque atordoante.

Doeu meu cotovelo e cabeça e eu pisquei em meio ao choramingo, olhando para os lados. Antes que a percepção me inundasse, o ranger atrás de mim chamou minha atenção para um Danilo inicialmente preocupado e enfim risonho. Ele estendeu a mão, quase impedido pela gargalhada que irrompia do seu peito.

— O que você está fazendo aí, mulher? Estou batendo na sua porta há cinco minutos!

Grunhi e aceitei a ajuda, ainda desorientada. Ele me levantou e se curvou sobre os joelhos, libertando uma risada estrondosa. Empurrei seu ombro, desequilibrando-o.

— Eu estava tendo um pesadelo e aposto que você ajudou a provocá-lo batendo na porta — queixei-me, lembrando dos passos invisíveis.

Erguendo-se outra vez, ele tomou o ar que lhe escapara nos risos e balançou a cabeça, provocador.

— Eu disse que você não poderia assistir aquele filme tão tarde assim.

Revirei os olhos.

— Era você quem estava escondendo os olhos com a mão, garoto.

Abriu os braços, sorrindo abertamente.

— E não tive pesadelos.

Mostrei-lhe a língua, desdenhosa, ao passo que ele ficou me olhando sem alterar o sorriso. Eu devia estar uma bagunça. Passei as mãos no cabelo para abaixar o volume e na ponta dos olhos para limpar secreções. Com esses segundos a mais de raciocínio pude recordar que estávamos nos Estados Unidos e Danilo, sem planejamento prévio, viera apenas para me animar.

A consciência repuxou o canto do meu lábio para cima e num impulso só o abracei.

— É tão bom te ter aqui! — Exclamei, sentindo-me meio bipolar — A não ser que você tenha me acordado antes das nove horas da manhã — brinquei, um fundinho de verdade presente.

Ele riu e me deu tapinhas nas costas.

— Troque de roupa! Te dei um desconto ontem à noite, mas hoje nós vamos turistar!

O fato de não ter mencionado o horário denunciava sua possível transgressão ao meu sono saudável. Com um hálito de desmaiar leões, me privei de discutir, afastei-me em um sinal de "espera" e corri ao banheiro. Agi mecanicamente, ainda grogue. Sem dúvida ele havia me acordado antes de um horário aceitável para quem dormira tarde da noite.

Quando voltei para o quarto, ele já não estava mais ali, assim pude me trocar livremente. Não sabia se já tinha planos de onde ir, então vesti o básico. Jeans, tênis e uma blusa de manga longa preta. Prendi duas presilhas na frente do cabelo e lutei contra meus pensamentos negativos.

Eu estava com medo de sair. Não queria ser confrontada por nada relacionado ao assunto que já me tirava do sério. Me fatigava saber que ainda não havia resolvido aquela questão patética. E igualmente cansativo era ignorar que eu começava a sentir uma perceptível falta dele. Talvez o tenha deixado acessar partes demais dos meus sentimentos - que em hipótese alguma deveria ter admitido, tendo ou não o processo idiota. Com um suspiro pesado, saí do quarto. Já havia decorado aquele ciclo. Dali a segundos minhas glândulas lacrimais seriam alcançadas, era melhor evitá-lo.

Danilo estava na mesa, tomando café da manhã com Lara. Ela parecia melhor do que no dia anterior, ainda que só descansaria quando Justin enviasse o documento de perdão de dívida.

Litigious LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora