CAPÍTULO 19

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Chego na escola e percebo que a Ravena faltou, apenas vejo Amber se beijando com o mesmo menino de ontem, no pátio. Me pergunto como ela têm disposição para beijar alguém as 7 horas da manhã, tem que ter coragem.

As aulas foram normais, fiquei conversando com ela no intervalo, depois tivemos mais 4 aulas e fui para casa.

Quando fui embora, pelo mesmo caminho de sempre, dei uma olhada naquela lagoa para ver se Cooper estava lá, porém não estava, mas também não faria diferença, não iria lá falar com ele.

Chego em casa, me troco para ficar já com a roupa que vou para terapia, pois é daqui a pouco. Nesse período de tempo, faço algumas atividades da escola e também almoço. Quando dá o horário, pego um uber e já vou logo. Chegando lá vejo o homem da porta ( apelidei ele assim ) e aviso que já sei ir sozinha. Chego na sala e me sento na cadeira.

"Boa tarde, Anne!" Ele sorri.

"Boa..." Digo desanimada.

"Como está sendo seu dia?" Ele pergunta.

"Bem... Normal? Apenas fui para a escola, agora estou aqui"

"Ok..."

"Você me falou que gostava de ler livros, porém você não me contou quais? Quais os temas de seus livros?" Ele entrelaça os dedos sobre a mesa como se estivesse muito CURIOSO. Fico corada, os meus livros são todos sobre romances, fanfics, hot... Eu sou muito fanfiqueira, infelizmente sei de várias coisas.

"É... Como posso falar..." Me encolho disfarçando o olhar, e ele percebe.

"Romance?" Ergue a sobrancelha.

Puta que me pariu. Aonde enfio minha cara agora? Como caralhos ele adivinhou isso?

"Sim" Assinto com a cabeça meio tímida.

"Tá bom" Ele dá um leve sorriso anotando em seu caderno.

Não sei se ele acha que é piada ou se ele está debochando... Não há nada de errado em ler livros de romance gente! Sempre vêem como se fosse uma menina pura e ingénua. Me senti muito inferior.

"O que há de errado em ler romance?" Escapa da minha boca.

O silêncio constrangedor reinou entre nós por uns 10 segundos na sala.

"Não há nada de errado, Anne" Ele sorri de novo.

"Então por que sorriu?" Faço cara séria.

"Nada. É importante as pessoas lerem e você foi a única que disse "romance" só isso" Ele nem olha para mim.

Depois desse ocorrido, o resto da terapia foi totalmente de boa, respondi algumas perguntas, assim como também contei mais coisas sobre minha vida, sinto que está me fazendo bem.

Depois fui para casa.

Minha mãe ainda não tinha chegado, deve sair mais tarde ou deve estar com meu pai, não vejo problemas nisso, estando longe de mim, tudo bem, já que ela é uma mulher adulta.

Sento na sala mesmo e mando mensagens para Ravena. Ela não foi a aula hoje, isso é estranho, ela não é faltar. Ela não me responde, deve estar ocupada, eu até iria na casa dela, mas ela pode não estar.

Eu passo o resto da tarde assistindo Atypical como sempre.

Está começando a escurecer e tem muita chuva lá fora. Estou começando a ficar preocupada com minha mãe. Ela nunca avisa! Que droga viu.

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Algum tempo depois, escuto a porta da sala bater, estava quase dormindo no sofá. Abro a porta e vejo minha mãe e meu pai com duas caixas gigantes nos braços.

"Oi, filha!" Mãe diz

"Oi, o que são isso? E o que ele está fazendo aqui?" Pergunto olhando os dois molhados de chuva

"Então filha... Preciso conversar com você!" Larga as caixas.

"Pode falar!" Tranco a porta.

"Tem que ser a sós!"

"Tá bom" A sigo

Ela fecha a porta do quarto dela calmamente.

"Então, eu sei que nossa relação está estranha, a gente brigou feio, você está no psicólogo por minha causa..."

"Tá e daí ? Desembucha" Cruzo os braços

"Oh, eu sei que relacionamentos são feitos de fases..." Interrompo:

"Eu sei que vocês estão juntos agora e daí? Já aceitei isso, não é você que falou para te deixar livre? Então!" Sento na cama.

"Sim... É que o papai vai vir morar aqui de volta!" Ela fala já sabendo que minha resposta não vai ser boa.

"Como é que é? Não escutei isso" ando para trás, chocada.

"É filha..."

"A porra mãe! Morar aqui? Já não é demais? Depois de tudo..." Ela me interrompe:

"Não começa com esse "depois de tudo..." Eu sei muito bem o que estou fazendo e não preciso da sua permissão, só vim te avisar mesmo!" Ela fala alto e vai direto a porta.

"Não mãe, você não pode fazer isso comigo!" A puxo pelo braço.

"Sai garota!" Ela puxa seu braço.

"Me solta! Ou você aceita logo ou você não tem mais casa!"

Essa foi a pior coisa que escutei dela. Depois de escutar isso, me dá vontade de ir embora mesmo. Me senti inútil e insignificante.

"Você é uma ingrata e ainda por cima é incompetente e burra!" Passo por ela batendo no ombro.

Não é possível cara, não é possível, só isso que passa em minha cabeça agora. Eu não posso aceitar o cara que batia na minha mãe, maltratava ela! Eu não posso! Que exemplo ela vai me dar? Não é possível que ela vai escolher ele do que a própria filha, a filha que lhe salvou desse vagabundo que nem pode ser considerado humano!

Estou no meu quarto arrumando minhas coisas, aqui eu não fico mais, nem se ele sair daqui algum dia, eu volto! Arrumo minhas malas com lágrimas no rosto.

Ligo para Ravena, mas ela não me atende. Eu queria ir para a casa dela agora, mas ela não atende. Única coisa que eu penso é em ficar na rua por algumas horas até ela me atender, eu não vou ficar mais nem um minuto com esse homem aqui, já não basta ter visto ele naquele bar com minha mãe.

Desço com mochila, bolsa, mala, tudo que tenho direito. Minha mãe me olha com cara de decepção, não é isso que ela queria? Então é isso que ela vai ter. Passo pela sala, com os dois me olhando, pelo visto eles não vão falar nada. Bato a porta com todas as minhas forças possíveis.

Olho para todos os lados da rua, eu não sei para onde eu vou seguir agora, acho que só vou andar por aí. Estava chovendo ainda, por sorte tenho um guarda chuva na bolsa. Decido ir em direção a casa de Ravena, pelo menos já vou saber o que aconteceu.

Psicólogos não são o que parecem Onde histórias criam vida. Descubra agora