PARTE I - 1. Perfeita Rachel

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-PoV Cosima-

Era uma manhã chuvosa e eu estava no meu apartamento em São Francisco quando meu celular toca e recebo uma oferta do Instituto Dyad para dar continuidade ao meu PhD em Toronto no Canadá. Na verdade, ainda era só uma reunião para que me apresentassem melhor a proposta, mas eu já estava super animada e mentalmente comecei a resolver tudo o que eu iria precisar caso realmente eu aceitasse a oferta e fosse me mudar.

A reunião ficou agendada para às 10h do dia seguinte por vídeo chamada, com o Dr. Aldous Leekie, Diretor do Instituto Dyad. Sua assistente, Gracie, informou que ele queria falar comigo apenas para explicar melhor sobre o projeto, mas que toda a parte burocrática eu trataria diretamente com ela por e-mail.

Eu estava totalmente anestesiada e no fundo, um pouco nervosa, na minha área conseguir trabalhar num Instituto de pesquisa como o Dyad é algo grande, e eu ainda nem tinha terminado meu PhD e estava sendo "CONVIDADA" (essa palavra gritava na minha cabeça) a participar de um projeto deles que envolvia a minha própria tese. Tudo parecia perfeito, eu não via a hora de ligar para os meus pais e contar tudo, mas preferi esperar a reunião e o e-mail da assistente do Dr. Leekie para contar as novidades com mais certeza.

Fazia tempo que eu não via meus pais, Sally e Gene Niehaus. Eles são biólogos marinhos e professores, vivem em uma casa-barco, então desde que comecei minha graduação que a gente se vê pouco, às vezes uma vez por ano, mas sempre nos comunicamos por ligações quando temos novidades para contar ou simplesmente matar um pouco da saudade, sempre fui muito próxima a eles, e não é de se espantar que também virei cientista por causa deles.

Um instante depois que lembrei dos meus pais, senti um arrepio na espinha ao lembrar da minha irmã gêmea, Rachel Niehaus, a gente não tinha notícias dela há mais de 10 anos, ela odiava ter que viver numa casa-barco e odiava ter aulas no barco e não numa escola como a maioria das crianças. Com o tempo ela começou a odiar tudo, a nossa comida, a ciência, o mar, até o dia que ela começou a nos odiar também, ela tinha gostos e sonhos totalmente diferente dos nossos e a convivência entre nós quatro se tornou impossível, minha irmã que era a minha melhor amiga, virou uma desconhecida pra mim, e foi logo após isso que ela resolveu que queria ir embora de casa aos 16 anos.

Meus pais claramente não aceitaram de primeira, minha mãe tentava disfarçar, mas ela estava completamente arrasada, ela sabia que a Rachel era diferente da gente, mas a ideia de ter a filha longe e principalmente tão nova, nem passava pela sua cabeça. Rachel sempre foi muito focada, estrategista, diria até que maquiavélica, mas principalmente muito competitiva e ambiciosa, mas mesmo assim, ela era uma menina muito doce, sempre sonhou alto, mas tinha os pés no chão e eu torcia muito para que ela conquistasse todos os seus desejos, mesmo que para isso eu precisasse estar longe dela.

Para os meus pais, com certeza foi mais difícil. Eu acho que meus pais a enxergavam tipo como uma deusa, sabe? Desde criança que ela já falava como uma adulta, tinha uma lábia que faria você fazer tudo o que ela quisesse. E eu... eu era apenas boba, sempre fui esperta, e muito, mas na minha infância eu era muito brincalhona, na verdade, acho que eu seja até hoje.

Depois de muita conversa e incontáveis discussões, meus pais resolveram emancipar a Rachel, e eu fiquei surpresa ao ver um sorriso no rosto dela, fazia tempo que eu não via. Ela queria terminar os estudos no Canadá e meus pais conseguiram colocá-la no colégio interno que ela tanto queria. Minha mãe tinha uma amiga de infância que coincidentemente morava próximo de onde a Rachel ficaria, a Sra. S, sem nem pensar duas vezes ela garantiu a minha mãe que ficaria de olho na Rachel e sempre que desse mandaria notícias. A S se comprometeu a ajudá-la em qualquer coisa que ela precisasse, o que nunca foi necessário, Rachel nunca pediu ajuda de ninguém antes, e não seria dessa vez que ela iria pedir.

A última notícia que recebemos da minha irmã foi quando tínhamos 18 anos e ela tinha acabado de se formar, ela estava entrando numa Universidade para cursar Administração e já tinha até um estágio, o que não nos surpreendeu, afinal, era da perfeita Rachel que estávamos falando, aparentemente boa demais pra uma família de três cientistas.

Era impossível não pensar se agora, 12 anos depois, ambas com 28 anos, se não iríamos nos esbarrar por algum lugar do Canadá. Mas, logo parei de pensar nisso e prometi não ficar com esse assunto na cabeça, afinal ninguém fazia ideia de onde ela estaria agora, provavelmente nem estava mais no Canadá, e eu já tinha me acostumado ao fato de não ter outro rosto igual ao meu na minha vida, ou mesmo uma irmã ou a minha melhor amiga. Meu estômago revirava ao pensar nessas coisas. Foi quando decidi que deveria focar na minha reunião com o Dr. Leekie que estava próxima.

Not Your Toy (Cophine)Onde histórias criam vida. Descubra agora