15. Cobaia 324B21

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-PoV Delphine-

Mais três meses estavam se passando, eu ainda não sei como estava aguentando esse trabalho no Dyad, ou melhor, até quando eu aguentaria. Cosima estava prestes a entregar a sua tese, então ela estava enlouquecendo, não comia, não dormia, e até alguns fins de semana agora ela dedicava a sua tese. Eu sabia como era isso, então eu ajudava como podia, mas infelizmente é um ritual que todo estudante de PhD passa. Pelo menos com ela ocupada eu não precisava estar inventando desculpas o tempo sobre o que eu andava fazendo.

Eu já estava decidida, assim que Cosima defendesse sua tese e fosse aprovada, eu iria contar a verdade pra ela. Era muito provável que ela não quisesse mais me ver, mas uma hora teria que contar, e se eu tivesse muita sorte, ainda a teria ao meu lado.

Apesar de tudo, uma coisa boa que tinha me acontecido foi a aproximação com a Sra. S e sua família, depois que ajudei a Sarah, a S ficou extremamente grata e vivia me chamando pra ir a sua casa. Principalmente quando Cosima estava trabalhando na sua tese nos finais de semana, ela dizia que eu não deveria ficar sozinha, e eu passava praticamente o dia todo com elas, e com o Felix também, que sempre ia pra lá quando eu estava. No começo, a Sarah ficava desconfortável ao meu lado, e eu entendi ela, eu já havia dito pra ela esquecer todo o lance do dinheiro, e ela sempre dizendo que iria me devolver o quanto antes. Então eu disse que ela poderia me devolver quando quisesse que eu aceitaria, sem pressa, mas que era um presente meu pra Kira, pra ela ter a mãe de volta. Aos poucos a Sarah foi ficando menos desconfortável do meu lado, mas do jeito dela, claro.

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A pior parte do meu dia era atender as "cobaias" do Dr. Leekie, eles sempre chegavam cheios de esperança dizendo que iriam receber mais uma dose do tratamento, e que o Dr. Leekie era um santo por oferecer isso de graça. Por meses eu sentia enjôo de toda essa situação, mas hoje foi pior.

Fui chamada pra sala do Dr. Leekie, aquela sensação de enjôo estava cada vez mais forte, quando eu entrei ele avisou que seria breve.

-Dra. Cormier, não vou roubar muito do seu tempo. -aquilo pareceu uma piada pra mim.

-A Srta. acabou de perder uma paciente, mas ganhou outra. -ele me entregou uma pasta.

Meu coração simplesmente tinha parado ali, meu corpo todo não aguentava mais, minha mente não aguentava. Ele estava substituindo uma paciente morta por outra como se fossem ratos de laboratório. Eu não queria abrir aquela pasta na hora, eu realmente não estava bem, mas ele insistiu.

Quando abri a pasta, era uma "cobaia" sem nome. Tinha apenas o número de identificação 324B21. Ela tinha acabado de fazer seis anos. SEIS ANOS. Aquilo pesou como um tijolo na minha cabeça.

-Você agora é a médica dessa "cobaia". -ele dizia. -Tem tudo aí na pasta, ela nasceu com um defeito em seu DNA e agora acabou de desenvolver pólipos nos pulmões, então você não precisar se preocupar tanto porque ela não vai viver muito. Mas, quando ela morrer a Srta. vai saber exatamente como corrigir isso, então não é uma notícia tão ruim quanto parece.

-A cobaia não vai pode sair de sua casa, então toda quinta-feira um motorista daqui vai levá-la até ela. Então é isso, a Srta. já pode se retirar. -ele falou apontando pra porta.

Eu tentei até onde pude, mas saí de lá correndo pra um banheiro mais próximo, eu vomitei tudo que tinha dentro de mim. Eu era só mais um brinquedo do Dyad, e estava jogando exatamente como eles queriam, sentia uma tristeza absurda, eu não tinha mais integridade, nem esperanças, eu só queria sumir. Eu ainda não havia largado, era uma sexta-feira, mas eu resolvi ir embora mais cedo.

Not Your Toy (Cophine)Onde histórias criam vida. Descubra agora